Do El Paîs:
Ambicioso, o homem-bomba da Petrobras deve se calar na CPI
O ex-diretor da companhia, o engenheiro Paulo Roberto Costa delatou uma série de políticos aos investigadores, mas não deve fazer o mesmo no Congresso
Afonso Bentes
O engenheiro Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras apontado como um dos principais membros de um bando suspeito de desviar até 10 bilhões de reais dos cofres públicos brasileiros, é um homem arrogante e detalhista. Tratava mal alguns funcionários e lia minúcias de contratos como poucos. Nos últimos anos em que passou na maior companhia brasileira, porém, a característica que mais chamou a atenção dos que conviveram com ele foi a ganância. Sempre queria galgar novos postos de chefia.
“Ele era muito competente, dedicado, cuidadoso e bastante arrogante em alguns momentos. Como sempre teve bom trânsito com a maioria das gestões, conseguiu atingir postos que vários carreiristas almejavam”, afirmou um engenheiro que trabalhou na companhia.
Nos 35 anos que esteve na Petrobras, Costa foi superintendente duas vezes, gerente em cinco ocasiões e diretor outras duas. Definitivamente, a ambição lhe rendeu muito poder, principalmente entre 2004 e 2012, quando foi diretor de abastecimento. Mas sumiu nos últimos meses, depois que ele foi preso pela Polícia Federal. De todo-poderoso a um esquecido por quem um dia esteve ao seu lado. Nenhuma das 17 pessoas ouvidas pelo EL PAÍS quis ter seu nome divulgado. “Nessa hora ninguém quer ter seu nome ligado a um homem que está delatando Deus e todo o mundo”, afirmou um dos entrevistados.
Após prestar 12 depoimentos aos policiais federais que o investigam por corrupção, remessa ilegal de recursos para o exterior e lavagem de dinheiro, Costa, de 60 anos, deve ser interrogado na tarde desta quarta-feira pelos congressistas da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga irregularidades na Petrobras. Na última semana, suas declarações bombásticas publicadas pela revista Veja, pautaram as discussões da campanha eleitoral.
O homem-bomba da Petrobras, entretanto, deve se calar para não invalidar seu acordo de delação premiada feita com o Ministério Público e a Justiça Federal. Pelo combinado, o diretor se beneficiaria de uma redução da pena caso repasse informações que ajudem a desvendar o esquema ilegal que envolve funcionários públicos, lobistas e políticos. Ele também teria de devolver os 23 milhões de reais que foram encontrados em contas suas e de pessoas ligadas a ele em bancos da Suíça.
Paulinho, como era conhecido nos corredores da Petrobras, está preso desde junho na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná. Ele ingressou na empresa em 1977, como funcionário de carreira. Era um jovem promissor que havia acabado de sair do curso de engenharia mecânica da Universidade Federal do Paraná, seu Estado natal.
Famiglia Costa
O rumo da carreira de Costa mudou depois que a Ouvidoria da Petrobras recebeu 202 denúncias contra a sua gestão. Um ano após essas denúncias, ele foi substituído na diretoria e a Polícia Federal passou a investigá-lo. As apurações que resultaram em sua prisão estão sendo ampliadas para identificar quem teria se beneficiado do esquema que tinha o ex-diretor como um dos líderes. Ao menos 30 políticos já foram citados por ele em seus depoimentos, segundo a revista Veja revelou na semana passada. Os governadores e parlamentares receberiam dinheiro para apoiarem os governos de Dilma Rousseff e de Lula da Silva (PT) no Congresso e nos Estados. Os recursos, conforme a revista, provinham de empreiteiras contratadas pela companhia que eram obrigadas a contribuir para um caixa paralelo. As gestões petistas negam ter participado dos atos ilegais.
Os investigadores também vão apurar se havia algum outro funcionário da Petrobras envolvido no esquema criminoso. A suspeita surgiu por duas razões: 1) as manobras ilícitas são complexas de fazer sozinho e; 2) Costa costuma se apoiar em pessoas em quem confia para agir. Esta atitude ficou clara, para a polícia, quando descobriu que a família do engenheiro o ajudou a se desfazer de documentos que poderiam incriminá-lo. Assim que soube da operação que o prenderia, Costa pediu para suas filhas Ariana, de 31 anos, e Shanni, de 33, e os maridos delas, Márcio Lewcowicz, de 35, e Humberto Mesquita, de 40, destruírem os papéis que estavam na sede da Costa Global Consultoria e Participações. A empresa foi fundada pelo suspeito no Rio de Janeiro depois que ele se aposentou da Petrobras.
As filhas e os genros do ex-diretor foram indiciadas por dificultar a investigação de uma organização criminosa. Os quatro, se condenados, podem ficar até oito anos presos. Um advogado que já trabalhou para Costa disse que o engenheiro decidiu colaborar com a polícia para tentar proteger sua família e evitar que ela fosse responsabilizada pelos crimes. Ele passou mal quando ficou sabendo que as filhas poderiam ser presas por sua culpa. Sem a delação premiada, Costa poderia ser condenado a 50 anos de prisão. Com ela, a pena pode ser de cinco anos.
Os elos políticos do diretor
Internamente, na Petrobras, a nomeação de Paulo Roberto Costa para o cargo de diretor de Abastecimento em 2004 fora vista como um reconhecimento, porque ele, teoricamente, não tinha ligação política. Poucas semanas após assumir o cargo, o seu padrinho político apareceu: José Janene, então deputado federal pelo Partido Progressista (PP) do Paraná.
Janene era um dos acusados no escândalo do mensalão petista e deixou a Câmara em 2006. Não foi julgado porque morreu em 2010, antes da conclusão do processo judicial.
Foi naquele ano que Costa ampliou seu poder, conforme as investigações, e se aproximou dos outros membros do suposto grupo criminoso, entre eles o doleiro Alberto Yousseff, que também está preso, e de uma dezena de políticos. A essa altura do campeonato, todos queriam ser os novos padrinhos do diretor. Durante sua gestão, foram feitas duas compras polêmicas, a da refinaria de Okinawa (Japão) e a de Pasadena (Estados Unidos), além da construção de dois complexos no Brasil, a Refinaria de Abreu e Lima (no Pernambuco) e o polo petroquímico de Itaboraí (no Rio de Janeiro).
Fonte: Thaísa Galvão
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