SAUDADES DO REI: Morte de Reginaldo Rossi completa cinco anos


Há exatamente cinco anos, completados nesta quinta-feira, o Brasil se despedia de um de seus artistas mais populares. Reginaldo Rodrigues dos Santos, em 1964, era um garoto que, como muitos outros, amava os Beatles e imitava Roberto Carlos. Seguia o estilo do Rei da Jovem Guarda nos shows que fazia nos bares e clubes de Recife, onde nasceu, ao lado do conjunto Silver Jets. Após o fim do grupo, passou a atuar como crooner em casas noturnas da região.

Na linha da Jovem Guarda, gravou seu primeiro disco, “O pão”, em 1966, já usando o nome artístico Reginaldo Rossi, deixando de lado a Engenharia Civil, que chegou a estudar, e as aulas de matemática que dava. Astros americanos como Elvis Presley e Ray Charles também foram algumas das suas influências. Na década de 1970, como muitos de seus colegas, foi direcionando o repertório para canções mais românticas, estabelecendo-se como um dos nomes mais populares do brega no Norte e Nordeste do país.

No eixo Rio-São Paulo, Rossi se manteve um nome pouco conhecido até o estouro, nos anos 1990, da música “Garçom”, dentro de um movimento de revalorização do brega. Considerado um clássico nacional da dor de cotovelo, a letra dizia: “Garçom/No bar todo mundo é igual/Meu caso é mais um, é banal/Mas preste atenção, por favor/Saiba que o meu grande amor/Hoje vai se casar/Mandou uma carta pra me avisar/Deixou em pedaços meu coração.

Chegou a ganhar um CD-tributo em 1999, “REIginaldo Rossi”, que tinha desde bandas do mangue beat (como o Mundo Livre S/A) até nomes já consagrados como Zé Ramalho e Lenine. No mesmo ano, saiu outra homenagem: o álbum “Reginaldo Rossi The King”, com participações de Erasmo Carlos, Wanderléa, Golden Boys e Planet Hemp. O álbum vendeu um milhão de cópias. Foi nessa época que ele se popularizou nacionalmente como o Rei do Brega.

— Quem é o Rei do Brega no Brasil? Eu, claro. Eu canto para garotos do high society e para os pobres — resumiu Rossi em entrevista na época do lançamento de “Reginaldo Rossi”.

Rossi acreditava que o segredo de seu sucesso — e do brega, de uma forma geral — era a simplicidade. Ele defendia que o canto sincopado, com quebras de ritmo, afastava o ouvinte, assim como letras muito complexas:

— O brega é a linguagem do povo. Não tem essa de “data vênia”, “metamorfose do meu ego”, “infraestrutura do meu ser” e coisa e tal — disse, irônico, em 1998.

Seus discos tinham periodicidade irregular, sobretudo a partir dos anos 1990. Em 1998, reuniu os sucessos da carreira no CD “Reginaldo Rossi ao vivo” — incluindo músicas como “A raposa e as uvas”, “Dia do corno” e “Mon amour, meu bem, ma femme”. Faria outros registros ao vivo, como o DVD “Reginaldo Rossi — Ao vivo”, lançado em 2006, novamente com seus hits.

Rossi recebeu, ao longo da carreira, 14 discos de ouro, dois de platina, um de platina duplo e um de diamante. Em 2008, arriscou-se na política, como candidato a vereador do município Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, mas obteve apenas 717 votos. Em 2010, fez nova tentativa, igualmente sem sucesso, para deputado estadual.

Em 2010, lançou seu último trabalho, o CD/DVD “Cabaret do Rossi”, em que imprimiu seu estilo sobre clássicos românticos de outros intérpretes, como Elymar Santos (“Taras & manias”), Marisa Monte (“Amor I love you”), Vinicius Cantuária (“Só você”) e mesmo Gloria Gaynor (“I will survive”). Suas últimas apresentações foram realizadas nos dias 21 e 22 de novembro, no Manhattan Café Teatro, em Recife.

No dia 27 daquele mês, ele foi internado no Hospital Memorial São José, em Recife, com dores no peito, mas logo os médicos descartaram a hipótese de infarto. No mês seguinte, foi submetido a uma cirurgia para retirada de um nódulo da axila direita e os exames confirmaram o diagnóstico de câncer. No domingo, dia 8, ele voltou a ser internado na UTI e seu estado clínico piorou.

Reginaldo Rossi morreu em 20 de dezembro de 2013, aos 70 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos. Ele deixou mulher e um filho.

O GLOBO
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