BRASÍLIA — O ministro da Educação,
Abraham Weintraub
, anunciou nesta terça-feira, o programa "Novos Caminhos", que pretende criar 1,5 milhão de matrículas na
educação profissional
, aumentando de 1,9 milhão para 3,4 milhões, até 2023, o que representaria um crescimento de 80%.
Além de abertura de vagas na modalidade, o programa prevê reconhecimento
de diplomas de pessoas que já concluíram a formação técnica desde 2016;
o incremento no treinamento de 40 mil professores; e abertura de
editais para projetos na área.
De acordo com ministro, o MEC estima cerca de R$ 5 bilhões por ano para
criação dessas vagas, Weintraub afirmou ainda que esses recursos já
estão previstos no orçamento de 2020. O orçamento do MEC, no entanto,
sofreu 9% de corte na rubrica de gastos não obrigatórios para o próximo
ano.
A pasta vai abrir 100 mil vagas para qualificação de jovens e adultos,
para isso, repactuará R$ 550 milhões originalmente destinados ao
programa "Bolsa Formação", criado durante a gestão da presidente Dilma
Rousseff, em 2011. Os recursos, segundo o MEC, estariam "parados" nas
contas dos estados brasileiros.
O órgão pretende destinar, até 2022, R$ 60 milhões em editais para
alunos, professores e pesquisadores que desenvolvam projetos voltados
para atividades de pesquisa aplicada e inovação. De acordo com o MEC, um
escritório será criado especificamente para gerir essa iniciativa,
articulando parcerias entre a esfera pública e o capital privado, e
voltados para os anos finais do ensino fundamental.
Durante coletiva no Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), Weintraub disse que o programa quer quebrar o
preconceito em relação à educação profissional no país.
— O ensino técnico no Brasil foi abandonado às traças, inclusive caiu em
números absolutos. Houve tendência de queda. Não tem glamour, não tem
prestígio. O mestre artesão europeu tem tanto valor quanto um
engenheiro. Os maçons eram mestres artesãos. — afirmou o ministro. —
Umas das coisas que temos que fazer é quebrar o preconceito contra o
trabalhador técnico. Muitos cursos técnicos permitem uma renda superior a
de alguém formado em um curso superior que não tem foco na realidade.
A expectativa é de que a educação à distância seja uma ferramenta
utilizada pelo MEC para a ampliação das matrículas. Uma das ideias é
adotar um desenho que utilize parcialmente o ensino remoto. Segundo
Weintraub, a modalidade facilita a inclusão dos jovens no sistema, já
que não precisam se preocupar com gastos relativos à moradia e ao
deslocamento, e conseguem conciliar os estudos com a atuação no mercado
de trabalho. O MEC não detalhou quantas vagas serão oferecidas via EAD e
nesse modelo misto.
— É importante dizer que o ensino à distância puro vai ser exceção, o
que estamos vendo grau de sucesso muito grande no ensino técnico é o
ensino parcial. O aluno vai de uma a duas vezes por semana ao
laboratório e tem aula prática, e a parte teórica (é feita) à distância.
Essa combinação reduz dramaticamente o custo do aluno por ano. A gente
vê esse aluno com grau de sucesso maior do que no presencial —
argumentou o ministro
Em julho, a pasta havia anunciado a intenção de aumentar para 30% o
índice de estudantes na educação técnica e profissional. Atualmente, a
taxa é de apenas 8%, de acordo com o Censo Escolar.
Apesar do baixo índice de matrícula nessa modalidade, o país ocupa
posição de destaque no cenário internacional no que diz respeito ao
desempenho dos estudantes formados na educação profissional. Em agosto, o
Brasil ficou em terceiro lugar na WorldSkills Rússia, uma competição
de alunos de ensino técnico que reuniu competidores de mais de 60 países
do mundo.
Responsabilidade para os estados
A maior parte das vagas destinada à formação de professores terá como
foco a qualificação para que os docentes atuem no quinto itinerário
previsto pela Reforma do Ensino Médio, que é voltado para a educação
profissional. Serão 40 mil vagas até 2022 para treinar docentes para
atuação em educação tecnológica. Outras 21 mil novas vagas serão
destinadas à formação na área de ciências e matemática e mais duas mil
para mestrado em educação profissional.
O secretário de Educação Profissional e Tecnológia, Ariosto Culau,
afirmou que será oferecida complementação pedagógica nas redes
estaduais. Essa formação pode ser feita exclusivamente via EAD ou no
modelo híbrido. A escolha de como a formação será feita ficará a cargo
dos estados. Culau frisou a responsabilidade dos estados na promoção do
programa lançado pelo MEC. Segundo ele, o órgão será apenas um indutor,
mas a concretização dessas metas será tarefa das unidades da federação.
— A responsabilidade não é única e exclusiva da União, é uma meta que
envolve principalmente os estados, que têm responsabilidade
constitucional pela oferta do ensino médio da educação pública.Temos uma
responsabilidade compartilhada. A capacidade da rede federal é de 19%
das matrículas dos cursos técnicos e por mais que a gente promova, e
vamos promover, ganho de eficiência na oferta da rede, podemos ampliar
no máximo 30% do nosso cenário. O nosso grande incentivo é a indução de
que o estado ofereça esse itinerário — defendeu.
Culau afirmou que o MEC pretende colocar a estrutura federal a serviço
dos estados para possibilitar a expansão das matrículas na educação
profissional:
— O que vamos fazer é atuar juntos aos estados para induzir e oferecer
condições para implementar o itinerário (da educação profissional).
Essas condições passam por compartilhar infraestrutura. A rede federal
está hoje em 661 municípios do país. Está espalhada por todo país. Temos
capacidade de auxiliar as redes estaduais em 661 localidades, com
laboratórios, infraestrutura.
Foco na "indústria 4.0"
O programa lançado pelo MEC pretende dar destaque à formação para
"carreiras do futuro". Durante a apresentação, o secretário citou
formação em o uso de drones para área agrícola, telemedicina, entre
outros. Nesse contexto, o MEC pretende reformar o Catálogo Nacional de
Cursos Técnicos, que, segundo o secretário, não é atualizado desde 2014.
Para isso, será aberta uma consulta pública para que os diversos entes
opinem sobre os novos cursos para educação profissional.
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