EM NOME DO PAI FALECIDO: Filho de Bruno Covas chama Bolsonaro de 'mau caráter' e 'sem respeito' após declaração sobre ex-prefeito de SP

 Tomás, de 15 anos, diz acreditar que presidente sequer irá se retratar; Bolsonaro se refereu a Bruno Covas como 'o outro que morreu' 

 SÃO PAULO — O jovem Tomás Covas, de 15 anos, classificou como "desrespeitosas e injustas" as declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro contra seu pai, o ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB-SP), morto em maio devido a um câncer na cárdia, uma válvula entre o esôfago e o estômago. Tucanos e políticos de outros partidos também repudiaram a fala de Bolsonaro.

Em conversa com apoiadores na segunda-feira em frente ao Palácio do Planalto, Bolsonaro se referiu ao ex-prefeito como "o outro que morreu". Ao criticar, mais uma vez, decretos de fechamento de estabelecimentos em estados e municípios, Bolsonaro lembrou que, em janeiro, Covas decretou medidas de restrição em São Paulo e logo depois foi, ao lado do filho Tomás, assistir à final da Libertadores, no Maracanã. Covas estava de licença na ocasião.

—O outro, que morreu, fecha São Paulo e vai assistir a Palmeiras e Santos no Maracanã — disse Bolsonaro.

Para Tomás, Bolsonaro agiu de forma covarde ao atacar a memória de Covas. O filho do ex-prefeito ainda disse que a decisão de ir ao jogo respeitou protocolos sanitários no estádio, ao contrário de Bolsonaro que, segundo ele, costuma agir de forma negacionista em relação à pandemia e chega a dispensar o uso de máscaras. Tomás afirma que a ida do então prefeito ao jogo de futebol foi para desfrutar os últimos momentos com o filho, já que o quadro da doença era gravíssimo.

"Era de se esperar mais liturgia e modos de alguém que ocupa cargo de tal estatura (...). Bolsonaro não tem nenhuma capacidade para ser presidente da República sendo um negacionista", disse Tomás em mensagem enviada ao GLOBO.

Questionado se espera algum tipo de retratação de Bolsonaro, Tomás afirma que descarta essa possibilidade.

"Não acho que dá tempo e nem que ele vai se retratar conhecendo a pessoa de mau caráter e sem respeito que ele é", concluiu.

As declarações de Bolsonaro sobre o prefeito já tinham provocado reações de tucanos na segunda-feira. O governador paulista, João Doria, disse que Bolsonaro agiu de forma "desumana". "Só demonstra ainda mais sua falta de respeito pelos vivos e pela memória dos mortos", escreveu Doria, em uma rede social.

O presidente do PSDB municipal, Fernado Alfredo, afirmou que o presidente "zomba da dor alheia" dos familiares e amigos de Covas, ao mesmo tempo em que ignora os enlutados e ironiza doentes acometidos pela Covid-19.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disse que a declaração de Bolsonaro "escancara, de maneira lamentável, a crueldade do presidente."

Políticos de outros partidos também se manifestaram. Para o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), as ofensas de Bolsonaro foram "grotescas" e não estão "à altura da memória do Bruno". O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, lembrou-se de ataques feitos por Bolsonaro a seu pai, que foi morto na ditadura militar: "A predileção pelo ataque aos mortos - como no caso do meu pai e agora com Bruno Covas - demonstra a extensão da sua falta de caráter e covardia", escreveu.

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