O desfile de 150 carros blindados, aeronaves, lançadores de mísseis e foguetes marcado para amanhã nas imediações do Palácio do Planalto por ordem de Jair Bolsonaro não faz o menor sentido prático.
O presidente receberá um convite para presenciar uma operação da Marinha na semana que vem — bastaria um militar entregar o convite em seu gabinete, sem a fanfarra intimidatória que ocorrerá na Esplanada dos Ministérios na véspera de a PEC do voto impresso ser votada pelo Congresso.
A tentativa de demonstração de força de Bolsonaro faz lembrar o último ato público intimidatório da ditadura militar, tão cara ao presidente.
Foi em 23 de abril de 1984, dois dias antes da votação da Emenda Dante de Oliveira que, se aprovada, reestabeleceria as eleições diretas para presidente. O Comandante-Militar do Planalto, general Newton Cruz, desfilou pela Esplanada dos Ministérios montado num cavalo branco. Chefiava um ameaçador comboio de seis mil militares e 116 tanques e carros de combate.
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A emenda das Diretas-Já não passou. Mas nos anos seguintes a ditadura militar foi sendo enterrada sem glórias — só deixando saudade em tipos como Bolsonaro. Meses depois, um civil de oposição foi eleito presidente, ainda indiretamente; e quatro anos depois, o Brasil tinha uma nova Constituição.
Por Lauro Jardim, Jornal o Globo, do qual este Blog é Assinante.
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