MORTE DA JUÍZA PATRÍCIA ACIOLI: MAIS PMs SÃO PRESOS

O delegado Felipe Ettore, da Divisão de Homicídios (DH), afirmou nesta terça-feira (27) que o ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo), tenente-coronel Cláudio Luís de Oliveira, foi o mentor intelectual do assassinato da juíza Patricia Acioli, morta com 21 tiros no dia 11 de agosto após encerrar expediente na Vara Criminal de São Gonçalo, município da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Segundo o delegado, o policial militar -que foi exonerado do cargo de comandante do 22º BPM (Maré)- sabia que a magistrada poderia expedir a qualquer momento uma ordem de prisão contra ele, que era investigado por corrupção e autos de resistência forjados (supostas mortes em confrontos com a PM). Oliveira presta depoimento na tarde desta terça-feira (27) na Divisão de Homicídios, na Barra, zona oeste. Na chegada à delegacia, o acusado alegou inocência.

"A juíza Patrícia Acioli estava no encalço do coronel Cláudio. Há indícios de que ela gostaria de prendê-lo e ele acabou lançando mão desse artifício para impedir isso. Nós concluímos que ele encomendou aos subordinados o assassinato da juíza para evitar uma ordem de prisão que sairia mais cedo ou mais tarde", disse Ettore, que participou de uma coletiva promovida pelo Tribunal de Justiça, na sede do órgão.

 A juíza Patricia Lourival Acioli foi assassinada na noite da última quinta-feira (11), quando acabava de chegar em casa na rua dos Corais, em Niterói (Rio de Janeiro). Segundo testemunhas, homens encapuzados que estavam em dois carros e duas motos efetuaram os disparos antes mesmo que ela saísse do seu carro, um Fiat Idea. Única a julgar processos de homicídios em São Gonçalo, a juíza era conhecida por uma atuação rigorosa contra a ação de grupos de extermínio naquela região do Estado Mais Bruno Gonzalez/Agência O Globo

De acordo com o delegado da DH, o ex-comandante do 7º BPM e todos os seus subordinados do GAT (Grupamento de Ações Táticos) receberam mandados de prisão preventiva. No entanto, Ettore deixou claro que a investigação ainda não terminou e podem existir mais policiais envolvidos. "Nós estamos perto de concluir as investigações, a maioria dos envolvidos foi presa e indiciada. Mas outras pessoas ainda estão sendo ouvidas", afirmou.

A ordem dada pelo tenente-coronel para assassinar Patrícia Acioli foi descoberta a partir de informações fornecidas por um dos cabos envolvidos no crime, cuja identidade não foi revelada. Ele optou por detalhar o planejamento da morte da magistrada em troca de uma possível redução de pena, segundo o delegado da DH.

"A partir da delação premiada, desvendou-se essa trama macabra. Não há indícios de que o cabo tenha falado por ter sido ameaçado, ele simplesmente fez uso do direito à delação premiada", explicou Ettore.

De acordo com o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, o cabo que ajudou a elucidar o planejamento do crime se mostrava "propenso a falar" desde o início das investigações. "Ele estava emocionalmente abalado", afirmou o desembargador.

Rebêlo também elogiou o trabalho da polícia e fez um desabafo em relação às críticas de que ele não teria se empenhado para reforçar a escolta policial de Patrícia Acioli.

"É importante ressaltar que a polícia conseguiu chegar aos mandantes do crime, algo que raramente se vê no Brasil. Durante esse período de investigação, eu sofri várias acusações absurdas, mas fiquei calado para não atrapalhar as investigações. [...] Fui acusado injustamente de omissão. Não foram poucas as noites que eu não dormi e que eu não chorei", afirmou.

O presidente da Amaerj (Associação de Magistrados do Estado Rio de Janeiro), Antônio César de Siqueira, também demonstrou satisfação com o resultado parcial das investigações, mas lamentou que as provas técnicas indiquem a culpabilidade de um ex-comandante da Polícia Militar.

"Este era um crime sem testemunha, no qual as pessoas estavam de capacete. Mesmo assim, este crime foi elucidado com provas técnicas e devemos parabenizar a Polícia Civil pelo trabalho. No entanto, nós lamentamos que pessoas que ocupem determinados cargos, a exemplo de um comandante de um batalhão da Polícia Militar, façam parte desse tipo de crime", disse.



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