Impulsionados pela onda de renovação que marcou as eleições de 2018, sete dos 27 governadores chegaram ao poder sem nenhuma experiência prévia na política. Sob a promessa de representar “o novo”, derrotaram sobrenomes de peso e surpreenderam institutos de pesquisa. Todos, com exceção de Ibaneis Rocha (MDB-DF), tiveram em comum o apoio ao presidente Jair Bolsonaro no primeiro turno. A exemplo da administração federal, o primeiro mês desses governos foi marcado por recuos e falta de intimidade com a máquina pública. E alguns deles se aproximaram do que chamam de velha política.
Governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), despontou na eleição depois de manifestar apoio a Bolsonaro no debate da TV Globo, às vésperas do primeiro turno. Com uma agenda de choque de gestão, defendida durante a campanha, Zema inaugurou seu mandato com 6 mil demissões que causaram entraves à máquina, levando-o a readmitir temporariamente pelo menos 800 pessoas. Em outro momento controverso, foi criticado por ter usado um avião do governo para visitar Bolsonaro em Brasília, descumprindo uma promessa.
Sem experiência política prévia e herdeiro de uma rede de lojas mineiras, Zema, diante do desafio de gerir um dos maiores estados do país, convocou o ex-prefeito de Juiz de Fora Custódio de Mattos (PSDB) para a Secretaria de Governo. Ele foi secretário de Desenvolvimento Social do tucano Aécio Neves entre 2007 e 2008. Outro quadro aproveitado de gestões anteriores, embora técnico, foi Germano Vieira. Secretário de Meio Ambiente de Fernando Pimentel (PT), foi mantido no cargo por Zema.
O ex-juiz na prática
No Rio, Wilson Witzel (PSC) defendeu a gestão eficiente do estado e chegou a prometer reduzir o número de secretarias de 18 para 11 ou, no máximo, 13, mas aumentou para 20.
A crítica enfática à corrupção sistêmica nos últimos governos levou o ex-juiz federal a reforçar as promessas de combate à corrupção e à chamada velha política no segundo turno. Eleito, iniciou a transição escolhendo o coordenador da campanha do ex-governador Anthony Garotinho para chefiar seu gabinete.
Em outro movimento surpreendente, distribuiu secretarias para quadros conhecidos da política fluminense. A nomeação de Felipe Bornier (Pros), filho do ex-prefeito de Nova Iguaçu Nelson Bornier, para a Secretaria de Esportes provocou reclamações entre eleitores de Witzel nas redes sociais. Nelson Bornier mantinha ligações com o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-governador Sérgio Cabral, ambos presos. . A indicação de Pedro Fernandes, filho da vereadora Rosa Fernandes (MDB), para a pasta de Educação também foi recebida com críticas nos perfis do governador. O ex-juiz acolheu ainda Eduardo Lopes, suplente do prefeito Marcelo Crivella (PRB) no Senado Federal, que não conseguiu se reeleger.
No Distrito Federal, a nova política prometida pelo governador também parece ter ficado no campo das promessas. Advogado, Ibaneis Rocha bancou boa parte dos gastos de sua campanha, defendeu uma nova forma de governar e passou incólume pela impopularidade do correligionário Michel
Temer. Mas a composição do secretariado lembra práticas fisiológicas. A indicação de Sarney Filho (PV), ex-ministro de Temer, para a secretaria de Meio Ambiente coincidiu com a derrota do senador, filho do ex-presidente José Sarney e com domicílio eleitoral no Maranhão, na tentativa de reeleger-se.
Outro integrante da Esplanada de Temer ganhou espaço no Palácio do Buriti: o ex-ministro de Direitos Humanos Gustavo Rocha assumiu a secretaria de Justiça. Cargos também foram reservados para pessoas ligadas aos ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda.
Em Rondônia, o governador Marcos Rocha, do PSL de Jair Bolsonaro, nomeou a esposa, Luana, como secretária de Assistência e Desenvolvimento Social do estado. Posteriormente, indicou a ex-mulher, Irani Santos, para a direção de uma policlínica estadual. De todos os governadores neófitos, Rocha é o que mais acumula experiência: apesar de ser coronel da Polícia Militar, foi secretário de Educação de Porto Velho na gestão de Mauro Nazif (PSB) e ocupou a mesma pasta na administração do governador Confúcio Moura (MDB).
Tudo também ficou em família para o governador de Rondônia, Antonio Denarium (PSL). Ele nomeou duas cunhadas para as secretarias da Educação e do Trabalho. Durante os 21 dias em que atuou como interventor federal no estado, sua esposa atuou como secretária do Trabalho. Após a posse oficial de Denarium como governador, ela deu lugar a uma de suas irmãs, que já despachava como subsecretária.
Em Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL) exonerou 59 funcionários das chamadas Agências de Desenvolvimento Regional, mas fez 28 novas contratações dois dias depois. Ele também apresentou dois vetos polêmicos a projetos do Legislativo: se disse contra a adoção do nome social para pessoas transexuais no funcionalismo público e a divulgação obrigatória de sua agenda oficial. A Secretaria da Casa Civil ficou a cargo de Douglas Borba, do Partido Progressista (PP), uma das legendas mais implicadas na Lava-Jato. No Amazonas, Wilson Lima (PSC) nomeou – e depois voltou atrás – uma delegada presa por associação com o tráfico de drogas. Ela é acusada pela oposição de recolher dinheiro de criminosos para a campanha do governador.
O GLOBO