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BRASÍLIA — O desfile de veículos militares diante da Praça dos Três Poderes no dia em que a Câmara aprecia a proposta do voto impresso para as eleições de 2022 causou constrangimento na cúpula do Exército. A passagem dos blindados foi avaliada por parte dos oficiais da ativa como um espetáculo para que o presidente Jair Bolsonaro demonstrasse poder de controle das tropas, em frente ao Congresso Nacional. A opinião também é compartilhada por generais da reserva que veem com preocupação o uso político das Forças Armadas. No fim da tarde, o senador Flábio Bolsonaro (Patriota-RJ) minimizou o ato e disse que não caracterizava ameaça.
Ministro da Secretaria de Governo nos seis primeiros meses da gestão Bolsonaro, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz classificou o desfile dos blindados para levar um convite ao presidente como uma “infantilidade” e defendeu que a Praça dos Três Poderes é um ambiente que deve ser respeitado. O militar considerou ainda um despropósito o evento ocorrer principalmente em um momento de discussão envolvendo o voto impresso na Câmara do Deputados — parlamentares relataram que receberam ameaças.
— Dizer que foi levar um convite é até uma infantilidade. É um ambiente que precisa ser respeitado, não se pode inventar uma coisa dessa em uma hora de uma votação importante, de um assunto que envolve muita disputa. É uma incompetência de avaliação ou proposital. É um desrespeito e quem sai perdendo são as Forças Armadas. É uma vergonha internacional. Não tem cabimento — disse ao GLOBO Santos Cruz, que, fora do governo, se tornou um porta-voz informal dos militares críticos ao governo Bolsonaro.
Para o general Santos Cruz, os comandantes das Forças, embora contrariados, não vão bater de frente com o presidente Bolsonaro e evitar um agravamento de uma crise institucional.
— Os comandantes militares não vão agravar a situação entrando em uma polêmica com o presidente da República. Até por que ninguém acredita na seriedade desse tipo de coisa. Acha que vai assustar o Congresso e o Judiciário? É hora de a Câmara e o Senado deixaram de serem muito tímidos e mostrar suas forças — avaliou.
Generais da ativa se recusam a falar publicamente sobre o desfile dos blindados. Nos bastidores, porém, oficiais estrelados avaliam que esse foi mais um episódio da pressão que Bolsonaro vem exercendo para mostrar que ele é comanda as Forças Armadas.
Segundo O GLOBO apurou, o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira Oliveira, foi convocado no final da tarde de segunda-feira para ir a uma reunião ministerial do Planalto e, consequentemente, a presenciar a passagem dos blindados. No mesmo horário do desfile, o comandante já tinha agendada uma reunião do Alto Comando do Exército, mas acabou comparecendo à Esplanada.
Em maio, a cúpula do Exército já havia demonstrado contrariedade com a falta de punição ao general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, que participou de uma manifestação ao lado de Bolsonaro no Rio de Janeiro.
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