Musicoterapia é usada para equilibrar corpo e mente

Felipe Lima, 22 anos, tem uma síndrome que afeta a fala, movimentos e pele. A musicoterapia tem ajudado a superar limitações. Foto: Alex Régis

A música que embala, agita ou relaxa também pode ser a trilha sonora para elaborados processos de saúde mental e física. A musicoterapia é um conjunto de técnicas que leva os atos de ouvir e tocar música para tratamentos envolvendo problemas psíquicos, somáticos ou psicossomáticos. Os benefícios dessa terapia artística têm se tornado cada vez mais conhecidos, sendo ela adotada para tratamentos de diversos transtornos e demências, além de utilizada para reabilitações, estimulações precoces, e cuidados com a saúde em geral.

“A música por si só causa na gente efeitos emocionais, psicológicos e intelectuais. Atua no processo cerebral e se conecta a partes motoras e afetivas do nosso corpo e da mente. A musicoterapia se utiliza desses efeitos para tratamentos específicos”, explica Everson Ferreira, musicoterapeuta que conduz o projeto SOE (Sentir, Ouvir, Expressar) desde janeiro, em Capim Macio. Ele ressalta que essa terapia trabalha a estimulação de habilidades que são frágeis em pessoas com determinados transtornos. 

Devido aos seus efeitos, a musicoterapia costuma ser indicada para pessoas com transtornos de neurodesenvolvimento como autismo (TEA) e déficit de atenção com hiperatividade (TDAH); Alzheimer, Parkinson e Corpos de Lewis; portadores da Síndrome de Down; depressão, ansiedade e esquizofrenia; para tratamentos de reabilitação em AVC e paralisia cerebral; hipertensão arterial, e até em estimulações precoces para gestantes e bebês. 

Everson explica que o paciente passa antes por entrevista e avaliação (junto com familiares) para entender suas necessidades e como os exercícios devem ser conduzidos. Os métodos musicoterapêuticos consistem na realização das seguintes experiências musicais: a apreciação, ou seja, ouvir a música de maneira passiva; improvisação, para criar músicas momentaneamente; composição, para criar e registrar a música, e a interpretação (ou recriação), para contar e tocar músicas que já existem. 

Para realizar suas atividades sonoras, o projeto SOE tem à disposição no Espaço Acolher, uma boa variedade de instrumentos musicais, como violão, violino, guitarra, instrumentos variados de percussão,  bateria, e xilofone. O paciente interage com o terapeuta e com os instrumentos. 

O projeto dispõe também de um instrumento raro, ainda único em Natal, a mesa lira. É uma grande caixa de ressonância em madeira com 42 cordas por baixo, onde o paciente se deita e recebe as vibrações do som (tocado pelo fisioterapeuta) no corpo. “É uma verdadeira massagem sonora. O corpo vibra junto com o instrumento, unindo o estímulo tátil com o sensorial auditivo”, explica Everson. Os efeitos são de relaxamento e abstração dos problemas. 

A musicoterapia reforça a força positiva que a música possui sobre o emocional humano. Everson exemplifica como nos casos de tratamento do Mal de Alzheimer. “A terapia trabalha bastante com o resgate das memórias musicais que estão ligadas intimamente às nossas emoções. As memórias musicais são as últimas a se perderem nas pessoas com demências como o Alzheimer”, diz. 

Pessoas das mais variadas faixas etárias podem passar pelos tratamentos sonoros, da criança autista até os idosos. Uma das turmas mais peculiares são as de mães com seus bebês – acima de seis meses já estão aptas para participar em atividades de estimulação precoce. “A audição é uma das primeiras formas de comunicação humana com o mundo externo. Gostaria que mais mulheres gestantes soubessem dos benefícios que a musicoterapia poderia proporcionar aos seus filhos”, ressalta. 

É possível praticar musicoterapia em casa? Apesar de todo mundo gostar de ouvir música no conforto do lar, não é tão simples assim. “Há uma diferença entre terapia e terapêutico. Ouvir música em casa é muito bom, relaxa ou alegra, mas não é a mesma coisa que conduzir uma terapia. Nesse caso, precisa da condução de um profissional”, atesta. 

Nova trilha

Felipe Lima, 22 anos, tem uma síndrome rara e genética que afeta sua fala, movimentos e pele. Ele, que gosta de ouvir música em casa e já tocou violão, está encontrando na musicoterapia uma forma de superar suas limitações. “Estou amando fazer. Tenho trabalhado melhor minha memória, melhorado minha coordenação motora, e até meu emocional” diz ele, que também tem experimentado instrumentos como xilofone, chocalho e flauta. Felipe tem tocado essa música há três meses, criando uma nova trilha sonora para si próprio. 

Tribuna do Norte

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