‘Pare de acreditar no Governo”. Esse é o nome do mais novo livro de Bruno Garchagen. Aliás, uma obra que já repercute em todo país, figurando entre os mais vendidos das últimas semanas.
Bruno Garchagen lançou, recentemente, o livro “Pare de Acreditar no Governo”, pela editora Record
O título pode levar, o espectador mais desatento, a imaginar que a obra traz um tom partidário de oposição ao Governo Federal. Engano! Bruno Garchagen é detalhista na análise e muito rico na apuração das informações. A obra, como o próprio escritor afirma, é uma crítica a todos os governos.
“O livro é uma crítica a todos os governos. Não tenho qualquer vinculação política. Aliás, a análise que faço é que a política brasileira é formada por 30 tons de vermelho”, afirma o escritor, que esteve em Natal para lançar a obra.
Conversar com Bruno Garchagen é uma aula sobre política na sua forma crítica e depurada. Gachagen é direto nas respostas, sem subterfúgios traz um olhar não apenas sobre a política, mas sobre as pessoas que fazem a política.
“Esse é o grande paradoxo que eu trato no meu livro e está no subtítulo: Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado. É como se nós vivêssemos em dois planos de realidade. O plano de realidade concreta, em que o Governo, o Estado é formado por esses políticos em que a gente não confia por uma série de razões, promessas não cumpridas e outro um plano da realidade utópica em que o Estado é formado por anjos”, diz Garchagen.
O 3 por 4 de hoje é um convite a uma aula sobre política, com uma depurada análise dos fatos. Confira:
Por que as pessoas precisam parar de acreditar no Governo?
Porque acreditar no Governo nos levou a essa atual crise política e econômica. E levou a um país em que o governo é extremamente intervencionista, atrapalha a vida em sociedade e nos últimos tempos tem tentado também intervir nos comportamentos individuais. Eu dei um exemplo recente, no estado onde moro, no Espírito Santo, foi aprovada uma lei que proíbe o sal em cima da mesa. Os clientes que querem sal tem que pedir ao garço, como se pedissem algo proibido. E essa lei foi fundamentada numa ideia que cabe ao Estado proteger as pessoas de si próprias. Uma ideia que no fundo isso é um processo de infantilização muito sério. Se uma parte da sociedade reage negativamente a isso, outra parte passa a achar normal que o Estado proíba que as pessoas tenham acesso fácil ao sal. Como se as pessoas não pudessem decidir entre comer ou não o sal.
Não é contraditório o senhor defender que as pessoas pararem de acreditar no governo e, por outro lado, essas mesmas pessoas depositam esperanças de dias melhores a partir de ações do Governo.
Esse é o grande paradoxo que eu trato no meu livro e está no subtítulo: Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado. É como se nós vivêssemos em dois planos de realidade. O plano de realidade concreta, em que o Governo, o Estado é formado por esses políticos em que a gente não confia por uma série de razões, promessas não cumpridas e outro um plano da realidade utópica em que o Estado é formado por anjos e a população, quer dizer uma parte da sociedade brasileira, parece não se dar conta que essas duas dimensões, primeiro uma não existe e esse Estado que elas pedem que resolva todos os problemas sociais e econômicos é formado por esses políticos que a gente não confia. Isso está demonstrado por pesquisa e essa informação foi ratificada por uma série de várias pesquisas. O brasileiro não confia nos políticos, não confia nos partidos, não confia no governo e, ao mesmo tempo, acredita que o governo possa fazer alguma coisa. É um grande paradoxo que a gente tem que enfrentar.
O principal problema do país hoje é a corrupção?
Não. O principal problema do país é a cultura política intervencionista que faz com que os políticos pensem, da mesma forma, independente do partido político. Aí você vê que no fundo as ideologias que estão no poder tem o mesmo fundamento, que tem uma matriz autoritária. A corrupção é uma parte do problema. No fundo é o resultado de um problema anterior. O resultado do problema anterior é pessoas que entram para uma vida política achando que o Estado deve fazer tudo e essas pessoas, por causa, disso aumenta o poder político e econômico do Estado. Ao aumentar o poder político e econômico do Estado cresce o próprio poder. E ao aumentar o próprio poder, obviamente, aqueles políticos corruptos, do que é certo e errado. É um problema ético, moral. Mas esse problema só fica em evidência porque o Estado tem poder para decidir as coisas.
Então o cerne da questão está nas pessoas que não sabem escolher quem as representará?
Mas as pessoas não têm o que escolher. Porque imagine que se houvesse uma eleição amanhã e trocasse todo Congresso Nacional e a Presidência da República, prefeituras, governos. Veja, essas pessoas que saem serão substituídas por outras com a mesma cabeça. O problema é anterior. O problema é uma cultura política em que essa prática de exercício de poder é só uma: intevencionismo, intervencionismo, intevencionismo. Toda eleição cada Estado tem suas peculiaridades e seus candidatos excêntricos. Candidato a vereador prometendo coisas que cabe a um deputado federal ou a um senador. E todos eles sempre prometendo coisas. Se você vota e elege um candidato que está prometendo as coisas. Ele no poder para justificar sua eleição vai criar mais leis, mais mecanismos de poder, vai criar, no fundo, novos instrumentos para aumentar o tamanho do Estado, que vai acarretar mais gastos.
O senhor vê “luz no fim do túnel”?
Vejo luz no fim do túnel na sociedade brasileira, não nos políticos que estão aí. Acho que hoje a gente vive um período de transição muito interessante em que uma parcela da sociedade brasileira já descobriu ou está descobrindo a armadilha que eu conto no livro (“Pare de acreditar no Governo”) e está em busca de alternativas a esse modelo que foi vitorioso politicamente e que, portanto, elegeu-se. Pegue os índices de liberdade econômica e verá que os países mais ricos estão no topo de liberdade econômica. Países considerados livres porque têm baixa burocracia, um sistema tributário compreensível, respeito as regras, a começar pelo governo.
O seu livro está repercutindo muito. Qual a relação que o senhor faz da repercussão do seu livro com o momento político de frustração do brasileiro com o segundo Governo Dilma?
Como as pessoas estão interessadas em outras ideias porque perceberam que o modelo político ideológico vigente fracassou e ele está pagando a conta, então as pessoas estão em busca. E quando elas chegam numa livraria no momento como esse e vêem um livro “Pare de acreditar no Governo” então as pessoas são captadas imediatamente pela mensagem. No livro eu tive preocupação muito grande com a bibliografia que eu iria utilizar. A segunda preocupação é que busquei atingir o maior público possível que estivesse interessado em ler sobre política. E para isso eu precisava de um texto que pudesse ser entendido pelo grande executivo e pelo porteiro do prédio onde moro. Então qualquer pessoa, qualquer tipo de grau de escolaridade, entende. Elaborei um texto claro, conciso, informativo e bem humorado. Escrevi um livro de política brasileira, que narra a trajetória a partir da chegada dos portugueses até a reeleição da presidente Dilma Rousseff e com esse texto, os títulos dos capítulos sempre puxam pelo bom humor, as vezes fazem referência a título de filme, a título de romance. Mas o bom humor foi um elemento que quis acrescentar ao livro para a leitura ficar um pouco mais agradável em um tema tão árido e pudesse atingir o público mais diversificado do que aquele se escrevesse um livro sério sobre o tema.
Seu livro é anti-PT?
Não. Meu livro é uma tentativa de mostrar para o leitor para ele parar de acreditar em qualquer governo, qualquer um mesmo, até naquele governo que ele tenha algum tipo de simpatia ideológica. Parar de acreditar no Governo é parar de acreditar na ideia de que o governo deve ser o grande provedor e o grande agente social, político e econômico. Mesmo que a pessoa vote em um candidato, em um partido que acredita, mas é preciso parar com a ideia de que o governo deve ser esse grande agente. Se nós pararmos de acreditar no governo dessa forma terá uma relação muito mais saudável e de pressão contra os governantes para que o Estado não só reduza o tamanho atual, mas se mantenha em um tamanho aceitável e a vida saudável e próspera em sociedade.
Lançar o livro nesse momento, o senhor não temeu que a obra possa ser vinculada a cultura anti-PT?
Não tenho nenhum temor. Eu não sou PSDB, não sou PT e o meu livro é uma crítica a todos os governos. Critico o Governo PT, o Governo PSDB, critico Collor, Sarney. Critiquei até dom Pedro II que, para mim, é o grande personagem histórico e eu fiz com grande dor no coração, mas fiz uma crítica a monarquia brasileira. Para mim o século XIX é o período de maior brilhantismo intelectual e político que o Brasil já teve. Aliás, foi o único período da nossa história, e me refiro a chegada da Família Real até o Golpe Militar de 1889 que acabou com a monarquia, esse foi o único período da nossa história em que se tentou superar a nossa herança patrimonialista pela via da política e da constituição. Nossa primeira Constituição foi a mais liberal e mais preserva as liberdades e controla, de certa forma, o poder do governo. O livro é uma crítica a todos os governos. Não tenho qualquer vinculação política. Aliás, a análise que faço é que a política brasileira é formada por 30 tons de vermelho.
Serve e para que serve as pessoas irem para as ruas?
Serve muito porque mostra insatisfação para quem está no poder. Isso é importante para uma democracia e mostra que tipo de insatisfação está sendo colocada no debate e mostra visões antagônicas em debate.
Bate e volta
O grande político do Brasil: Dom Pedro II, sem dúvida. Ele é o grande brasileiro. Embora ele não tivesse muito talento para a política do dia-dia. Mas ele é inigualável.
O personagem mico da contemporaneidade na política: Se for o grande mico do aspecto trágico acho que talvez não seja um nome, mas todos os nomes que compõem o Partido dos Trabalhadores
Em quem aposta para política: hoje ninguém
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