As cirurgias para retirada da próstata por câncer tiveram redução de 21,5% na comparação entre 2019 e 2020. Os dados inéditos do Ministério da Saúde, obtidos a pedido da SBU, constam do Sistema de Informação Hospitalar (SIH). As coletas do antígeno prostático específico (PSA) e de biópsia da próstata que, junto com o exame de toque retal, diagnosticam a doença, registraram quedas de 27% e 21%, respectivamente, como mostram as informações do Sistema de Informações Ambulatoriais, do Sistema Único de Saúde (SUS).
Houve diminuição ainda no número de consultas urológicas no SUS (33,5%). As internações de pacientes com diagnóstico da doença caíram 15,7%. As consultas com um urologista também sofreram queda. Até julho, foram 1.812.982, enquanto em 2019 foram 4.232.293 e em 2020, 2.816.326.
Embora já tenham começado a ocorrer neste ano, as consultas ainda estão em baixa. “Até nós que trabalhamos em consultórios particulares começamos a perceber que pacientes voltaram a marcar consultas, mas realmente houve um período em que não foi possível trabalhar. Hoje, a gente já conseguiu recuperar quase 60% do movimento que havia antes da pandemia. As cirurgias estão voltando, mas em pacientes que já tinham indicações antes de todo esse processo”, afirmou o secretário-geral da SBU, Alfredo Canalini.
Ele contou que como os hospitais e centros de atendimentos tiveram que concentrar as atenções em pacientes atingidos pela pandemia, o medo de contaminação pela covid-19 afastou as pessoas da procura aos médicos. “Esses locais passaram a ser vistos como de maior risco de contaminação. As pessoas pararam de fazer as coisas. A gente percebeu isso não só nos novos diagnósticos, mas inclusive em alguns pacientes que estavam fazendo tratamento para câncer independente do tipo. Eles pararam e sumiram, resolveram não correr risco e ficaram em casa. Isso prejudicou muito”, disse Canalini.
Segundo ele, a urologia não pode ter consultas por telemedicina, como passaram a ocorrer com outras especialidades por causa da pandemia. “Este tipo de instrumento não possibilita o exame físico do paciente, por exemplo, a primeira consulta não pode ser feita por telemedicina. Não é ideal, e o paciente corre risco”, afirmou.
Estados
Os
estados do Acre (90%), de Mato Grosso (69%) e do Rio Grande do Norte
(50%) verificaram queda significativa nos exames de biópsia da próstata
entre 2019 e 2020. No Rio de Janeiro foram 39% a menos e em Minas Gerais
31%. Já São Paulo (6%) e o Distrito Federal (7%) tiveram impacto menor.
No exame de PSA, a Paraíba registrou percentual elevado (50%), seguido
de Pernambuco (37%), Distrito Federal (34%), Rio de Janeiro (30%) e São
Paulo (29%).
“O homem tem que perder o medo de ir ao médico e se conscientizar de que tem que cuidar da saúde como as mulheres fazem, porque é graças a isso que a mulher tem uma expectativa de vida de 8 a 10 anos maior do que a da gente”, sugeriu, acrescentando que como já ocorre com as mulheres, as consultas rotineiras devem começar na adolescência.
Atraso
Uma pesquisa realizada
pela Universidade de São Paulo (USP) relata o atraso cirúrgico
emergencial e eletivo durante a pandemia, no Brasil. Conforme o estudo,
mais de 1 milhão de cirurgias foram canceladas ou adiadas. Dados do
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) mostram ainda que os
procedimentos cirúrgicos para tratamento do câncer de próstata também
foram impactados. Com esses resultados a SBU reforça neste ano a
importância de os homens retomarem os cuidados com a saúde e voltarem às
consultas médicas. A chance de cura cresce com o diagnóstico precoce do
câncer de próstata.
Para o secretário, quando os pacientes que deixaram de fazer o tratamento e as consultas voltarem aos consultórios é possível ter um acúmulo de diagnósticos. “A gente tem que estar preparado também para atender a essa demanda reprimida. Então, é toda uma estratégia que tem de ser montada para fazer frente a tudo isso que está acontecendo”, observou.
Câncer de próstata
Com
exceção do câncer de pele não melanoma, o câncer de próstata é o tumor
mais frequente no homem. Estimativa do Instituto Nacional do Câncer
(Inca), indica que em 2021 são esperados 65.840 novos casos, mas muitos
podem nem ter sido diagnosticados. A SBU também obteve informações do
SIM), que indicam aumento de 10% na mortalidade por câncer de próstata
em cinco anos. Em 2015, eram 14.542, e subiram para 16.033 em 2019.
A preocupação com o atraso nas consultas médicas é que em 90% dos casos, em fases iniciais, o câncer de próstata pode ser curado. A glândula se localiza abaixo da bexiga. Dentro dela passa o canal da uretra, por onde a urina vai da bexiga para o meio externo. A vontade de urinar com frequência e a presença de sangue na urina ou no sêmen podem significar a presença do câncer numa fase mais avançada. Nem todo tipo da doença tem necessidade de cirurgia, quimioterapia e outros tratamentos, mas pode ser acompanhado por meio da vigilância ativa.
“Após a avaliação urológica, os pacientes portadores de doença de baixa agressividade, avaliados por meio de critérios histopatológicos, clínicos e dosagem do PSA, podem optar por essa modalidade de tratamento. Entretanto, necessitam ser monitorados para que em caso de progressão tumoral, o tratamento adequado seja instituído”, disse o coordenador do Departamento de Uro-oncologia da SBU, Rodolfo Borges, acrescentando que as principais vantagens da vigilância ativa são evitar as possíveis morbidades dos tratamentos intervencionistas.
Fatores de risco
Segundo
o secretário-geral da SBU, o histórico familiar de câncer de próstata
em pai, irmão ou tio é um sinal da necessidade de um exame nos homens a
partir de 45 anos. Mas também os afrodescendentes têm risco alto de
desenvolver a doença por questões genéticas. Além disso, a obesidade é
motivo de alerta. Para os que não têm esses fatores de risco, a
recomendação da SBU é que a partir de 50 anos procurem um profissional
especializado em avaliação individualizada, para o caso de um
diagnóstico precoce do câncer de próstata. De acordo com a SBU, depois
dos 75 anos, a orientação é de que somente homens com perspectiva de
vida maior do que dez anos façam essa avaliação.
Alfredo Canalini afirmou que o tratamento oferecido no Brasil atualmente está no mesmo nível do de outros países como Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha e Inglaterra. “Não tem diferença nenhuma. Hoje em dia, o conhecimento e as habilidades em medicina estão extremamente uniformes no mundo todo, tirando os países com cenários de miséria e guerra. Hoje, no Brasil, os instrumentos que temos para fazer exames de câncer de próstata são os mesmos que nos Estados Unidos”.
Com informações da Agência Brasil
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