As descobertas sobre esse contraceptivo serão apresentadas na reunião de primavera da American Chemical Society e representam um marco na oferta de métodos de controle de natalidade e responsabilidades para os homens, disseram os cientistas na quarta (23).
Desde que a pílula anticoncepcional para mulheres foi aprovada, na década de 1960, os pesquisadores têm interesse em desenvolver seu equivalente masculino. “Vários estudos mostram que os homens estão interessados em compartilhar a responsabilidade contraceptiva com suas parceiras”, afirmou à AFP o doutor Abdullah Al Noman, graduado pela Universidade de Minnesota e encarregado de apresentar a pesquisa.
Até agora, apenas preservativos e a vasectomia estão entre os métodos eficazes disponíveis para os homens. No caso da vasectomia, a cirurgia reversível é cara e nem sempre bem-sucedida.
A pílula feminina usa hormônios para alterar o ciclo menstrual, e os esforços históricos para desenvolver um equivalente masculino se concentraram no hormônio testosterona.
O problema com essa abordagem, no entanto, é que ela tem efeitos colaterais como ganho de peso, depressão e aumento dos níveis de colesterol LDL, o que eleva o risco de doença cardíaca.
A pílula feminina também traz efeitos colaterais, incluindo riscos de coagulação do sangue, mas, diante da possibilidade de engravidar na ausência de um método contraceptivo, o cálculo do risco é diferente.
Para desenvolver um método não hormonal, Noman, que trabalha no laboratório da professora Gunda Georg, concentrou-se em uma proteína chamada “receptor de ácido retinoico (RAR) alfa”.
No corpo, a vitamina A é processada de várias maneiras, incluindo o ácido retinoico, que desempenha um papel importante no crescimento celular, na formação de espermatozoides e no desenvolvimento embrionário.
O ácido retinoico precisa interagir com o RAR-alfa para desenvolver essas funções, e experimentos de laboratório mostraram que camundongos sem o gene criado pelo receptor RAR-alfa são estéreis.
Para seu trabalho, Noman e Georg desenvolveram um composto que bloqueia a ação do RAR-alfa. Eles identificaram a melhor estrutura molecular com a ajuda de um modelo computadorizado.
“Se soubermos como é o buraco da fechadura, poderemos fazer uma chave melhor; é aí que entra o modelo computadorizado”, explicou Noman.
Seu composto químico, conhecido como YCT529, também foi projetado para atuar especificamente com o receptor RAR-alfa, e não com outros receptores relacionados, como RAR-beta e RAR-gama, a fim de evitar ao máximo possíveis efeitos colaterais.
Quando administrado oralmente a camundongos por quatro semanas, o YCT529 reduziu drasticamente a contagem de espermatozoides do animal e foi 99% eficaz na prevenção da gravidez sem efeitos adversos observáveis.
Os camundongos recuperaram a fertilidade quatro a seis semanas após a interrupção do medicamento.
A equipe de pesquisa, que recebeu financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde e da Iniciativa de Contracepção Masculina, trabalha com uma empresa chamada YourChoice Therapeutics para iniciar testes em humanos no terceiro ou quarto trimestre de 2022.
“Estou otimista com a ideia de que avançaremos rapidamente”, disse a professora Gunda Georg, que acredita que seu medicamento poderá ser comercializado em até cinco anos.
“Não há garantia de que funcionará, mas seria realmente surpreendente se não observássemos um efeito em humanos também”, acrescentou a cientista.
Uma questão persistente sobre o futuro das pílulas anticoncepcionais masculinas é se as mulheres confiarão nos homens para usá-las. Pesquisas mostram que a maioria das mulheres confia, de fato, em seus parceiros e um número significativo de homens manifestou estar disposto a tomar a droga.
“Os anticoncepcionais masculinos se somarão aos métodos combinados, oferecendo novas opções que permitem que homens e mulheres contribuam da maneira que acharem adequada para seu uso”, acrescentou a Iniciativa de Contracepção Masculina, sem fins lucrativos, que financia pesquisas e fornece consultoria jurídica.
R7
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