Marinho Chagas morreu na manhã deste domingo, em João Pessoa (PB), onde estava internado. Mas a “Bruxa Loura”, como ficou conhecido na década de 70, deixou muitas histórias escritas nos gramados do Brasil e do mundo – do chapéu no ídolo Pelé à briga com Leão.
Francisco das Chagas Marinho nasceu em Natal (RN), no dia 8 de dezembro de 1952. Aos 15 anos, ainda conhecido como Chiquinho, iniciou a carreira na lateral esquerda do modesto Riachuelo, clube da periferia da capital potiguar. Dois anos depois, trocou o time pelo ABC, clube pelo qual conquistou seu primeiro título profissional: o Campeonato Potiguar de 1970, no mesmo ano em que a Seleção Brasileira conquistava o tricampeonato mundial no México.
Marinho Chagas jogou ainda no Náutico entre 1970 e 1972, antes de chegar ao Botafogo. No clube de General Severiano, estreou como titular em 9 de setembro de 1972, na primeira rodada do Campeonato Brasileiro, contra o Santos de Pelé. A partida no Rio de Janeiro terminou empatada por 1 a 1, com gols de Edu para os santistas e do próprio Marinho Chagas para o Botafogo, em cobrança de falta “roubada” de Jairzinho.
“Ele ficou muito p…! ‘Porra, que m… é essa?’ Eu falei: ‘bicho, vai tomar no c…, o gol tá feito”, lembrou Marinho Chagas, em entrevista publicada em 2010 pela revista Trip. No mesmo jogo, o lateral estreante ainda aplicou um chapéu em Pelé. “No fim da partida, ele (Pelé) veio até mim, apertou minha mão e disse: ‘vê se me respeita, não vem com essa história de chapéu de novo, não, hein?’. Mandei ele tomar no c… e saí rindo”, disse também.
No Rio, ganhou a fama de temperamental e o apelido de “Bruxa Loura”. Em 1973, chegou à Seleção Brasileira – a estreia aconteceu em 25 de junho daquele ano, na derrota por 1 a 0 para a Suécia, em um amistoso realizado no Estádio Rasunda – o mesmo palco da cidade de Solna que recebeu o primeiro título da Seleção em 1958.
No ano seguinte, foi convocado por Mário Jorge Lobo Zagallo para disputar a Copa do Mundo de 1974, a única de sua carreira. A equipe foi eliminada nos grupos da segunda fase, perdendo a vaga na final. Na disputa do terceiro lugar, perdeu por 1 a 0 para a Polônia, em jogo que valeu a Marinho Chagas rixas com o comentarista João Saldanha e com o goleiro Emerson Leão.
O primeiro, incomodado com o espaço dado aos rivais, apelidou o lateral esquerdo de “Avenida Marinho Chagas”. O segundo, pelo mesmo motivo, chamou o camisa 6 de “indisciplinado e mal-educado”, admitindo até mesmo uma briga nos vestiários do Estádio Olímpico de Munique. O dia: 6 de julho de 1974.
“Lato fez o gol nas costas do nosso lateral, que era indisciplinado taticamente para a época e avançou desordenadamente”, afirmou Leão, em entrevista ao canal de TV por assinatura SporTV em 2011. “Ele foi indisciplinado e mal educado nas respostas quando nós o chamamos para fazer uma fixação pela lateral esquerda. Como era o último jogo, ele disse que era ‘jogador-show’ (…). Nós perdemos por causa disso também. E aí, dentro do vestiário, nós nos desentendemos”, completou.
Marinho Chagas ficou no Botafogo até 1976, deixando a Seleção Brasileira no ano seguinte – seu último jogo com o Brasil foi em 26 de junho de 1977, um empate por 0 a 0 com a Iugoslávia no Estádio do Mineirão. Contratado pelo Fluminense, revolucionou: durante a disputa do Troféu Teresa Herrera, naquele mesmo ano, inventou cobranças de pênalti com uma “paradinha giratória”, convertendo as três tentativas que fez. Foi a única conquista pelo clube, no qual jogou até o final de 1978.
Entre 1979 e 1980, atuou no futebol dos Estados Unidos, vestindo as camisas de New York Cosmos e Fort Lauderdale Strikers – no primeiro, atuou com jogadores como Franz Beckenbauer, Carlos Alberto Torres e Giorgio Chinaglia. Na volta ao Brasil, em 1981, acertou com o São Paulo, a tempo de conquistar o Campeonato Paulista e a Bola de Prata da revista Placar naquele mesmo ano.
Nos anos seguintes, Marinho Chagas atuou por Bangu (1983), Fortaleza (1984) e América-RN (1985), antes de pendurar as chuteiras no exterior – jogo pelo Los Angeles Heat (1986 a 1987) e no BC Harlekin Augsburg (1987 a 1988). No exterior, teve cinco filhos – além dos oito que teve no Brasil Aposentado, trabalhou como comentarista da Rede Bandeirantes no Rio Grande do Norte.
Nos últimos anos, separado da mulher Lúcia, Marinho Chagas passou a sofrer com os problemas de saúde decorrentes do alcoolismo. Nos últimos cinco anos, foi internado pelo menos três vezes – a última delas neste sábado, em João Pessoa, onde morreu nas primeiras horas deste domingo. Tinha 62 anos e será velado no Estádio Frasqueirão.
Fonte: Terra
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