O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deve comparecer ao Senado no início de março para dar explicações sobre os juros praticados no país, de acordo com o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO).
Favorito para assumir a presidência da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) no biênio 2023-2024, o parlamentar se reuniu com Campos Neto em um jantar na noite de quarta-feira (15).
Segundo o senador, o convite será feito ao presidente do BC depois da nomeação dos membros que vão compor a comissão –a oficialização está prevista para depois do Carnaval. “Na primeira reunião, aprova [os novos membros da CAE], e define a data com ele [Campos Neto]. Vai ser para o começo de março”, disse à Folha.
Na segunda-feira (13), o diretório nacional do PT aprovou uma orientação para que Campos Neto seja chamado pelas bancadas da legenda para explicar a política monetária do BC no Congresso Nacional.
“Tiramos a posição do PT para convocar o presidente do BC para fazer explicação ao Congresso Nacional. Afinal, ele está indo ao Roda Viva e outras TVs, é importante que ele vá também ao Congresso Nacional”, disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, após o encontro.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o chefe da autarquia disse que está aberto a ir ao Congresso e que é sua “obrigação” prestar esse tipo de esclarecimento.
De acordo com o senador, Campos Neto voltou a mostrar boa vontade em aceitar o convite e dar explicações sobre o atual cenário de juros. “Todas as vezes que foi convidado a ir no Congresso, tanto no Senado como na Câmara [dos Deputados], ele imediatamente aceitou. Ele [Campos Neto] disse que vai quantas vezes for preciso e for convidado”, afirmou.
Nos últimos dias, o presidente do BC vem fazendo acenos ao governo na tentativa de diminuir a tensão após críticas públicas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O BC precisa trabalhar junto com o governo. Eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para aproximar o BC do governo”, disse Campos Neto no Roda Viva.
“É importante reconhecer a legitimidade do resultado das eleições, da eleição do presidente Lula, que foi feita de uma forma democrática. O Banco Central é uma instituição de Estado, precisa trabalhar com o governo sempre”.
Durante sessão solene em comemoração dos 130 anos do TCU (Tribunal de Contas da União) no Congresso Nacional, na quarta-feira (15), ele afirmou que é preciso ter um “olho mais especial no social”.
“Fiscal com o social que eu acho que é o importante, acho que hoje é o que a gente precisa concentrar. A gente precisa ter uma disciplina fiscal entendendo que precisamos ter um olho mais especial no social. Ele exige escolha e métodos e aí a parceria com TCU é fundamental”, disse.
Em evento no banco BTG Pactual, na terça (14), Campos Neto defendeu que é preciso ter boa vontade com o governo e elogiou sua política econômica.
“O investidor é muito apressado, muito afoito. A gente tem que ter um pouco mais de boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo. Tem uma boa vontade enorme do ministro Fernando Haddad [Fazenda] de falar, ‘olha, nós temos um princípio de seguir um plano fiscal com disciplina’. Tem um arcabouço que está sendo trabalhado, já foram elaborados alguns objetivos”, afirmou.
Lula vinha intensificando as críticas ao BC desde que a instituição manteve a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano e indicou que pode sustentar os juros elevados por mais tempo.
O foco inicial dos ataques do petista era a autonomia do BC, a qual chamou de “bobagem”. A retórica depois evoluiu para ataques diretos a Campos Neto –a quem o presidente se referiu como “esse cidadão”.
Como mostrou a Folha, aliados aconselharam Lula a dar uma trégua nas críticas à taxa de juros, ao BC e a Campos Neto. Eles defendem que os ataques, a partir de agora, fiquem restritos a determinados integrantes do partido e, especialmente, a parlamentares.
Folha de São Paulo
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