Tradicional família dos 'Abéis' enfrenta dificuldades com a nova política

Líder políticos dos

JORNAL DE FATO

A tradicional família Abel, uma das últimas da velha política que ainda sobrevivem no Médio/Alto Oeste do Rio Grande do Norte, a partir do município de Almino Afonso, dá sinais claros de cansaço e abre caminho para possível surgimento de novas lideranças dentro ou fora do ambiente tradicional.

Por consequência, coloca à prova a liderança do médico e ex-prefeito Bernardo César Carlos Belarmino Amorim, herdeiro de Abel Belarmino de Amorim, o Abel Velho, “coronel” que construiu um patrimônio político invejável a partir da primeira metade da década de 60.

Os ruídos começaram nas eleições municipais de 2016, quando Waldênio Amorim, irmão de Bernardo, decidiu ser candidato a prefeito com ou sem o consentimento/apoio do líder. Não era o nome de preferência de Bernardo, que havia reservado a vez para a esposa Dra. Kaline. Prevaleceu o murro na mesa de Waldênio. Para evitar desgaste, Bernardo engoliu a seco.

Waldênio ganhou as eleições, beneficiado pela fragilidade da oposição, mas o irmão líder não comemorou. Pior do que isso, Bernardo viu a sua cunhada e primeira-dama Maninha Leite assumir as rédeas do Município e adotar medidas que respingaram no seu patrimônio eleitoral. As queixas se intensificaram, e Waldênio optou por bater de frente com o irmão e apoiar as decisões da esposa.

O ambiente político-familiar, tumultuado, acabou assustando Lawrence Amorim, sobrinho de Bernardo e Waldênio, que governou Almino Afonso no período de 2009 a 2015. Decidido a ser candidato a deputado federal nas eleições de 2018 e temendo o risco de não ter o aval dos “Abéis”, Lawrence acabou saindo do PMDB, partido dominado por Bernardo no município, e embarcando no Solidariedade, do deputado estadual Kelps Lima.

Lawrence sabe que o PMDB vai priorizar a reeleição do deputado federal Walter Alves, presidente interino do partido no estado, e que os seus tios muito provavelmente devem seguir a orientação dos Alves. Ademais, é consciente que a bancada do prefeito na Câmara Municipal, hoje dispersa, não seguirá uniforme nas eleições do próximo ano, o que seria prejudicial ao seu projeto.

SUCESSÃO 2010

Com a irmã Ludmila Amorim prefeita do vizinho município de Rafael Godeiro, que também é controlado pelos Abéis, Lawrence entende que a nova geração pode criar outro “braço” político/familiar, a partir de sua liderança, longe da ação independente de Waldênio/Maninha. Ele, porém, tem dito – e repetido – que continua recebendo orientação de Bernardo e que assim continuará, por gratidão, porque foi pelas mãos do tio que se elegeu duas vezes prefeito de Almino Afonso.

Bernardo, por sua vez, usa de toda habilidade para evitar prejuízo maior. Nos últimos dias, reaproximou-se do irmão Waldênio e, ao mesmo tempo, reforçou a linha de diálogo com os seus "liderados". Para Lawrence, ele assumiu o compromisso de apoiá-lo à Prefeitura de Almino Afonso em 2020, se o sobrinho não se eleger deputado federal. Inclusive, garante que Waldênio não será candidato à reeleição.

Observando o dilema dos Abéis, setores da oposição acreditam que está chegando a hora da nova política.

BERNARDO SEGUE OS PASSOS DE ABEL VELHO


Foi Bernardo Amorim que assumiu o bastão quando o “Abel Velho” morreu em dezembro de 2004. Ele estava no último ano do primeiro mandato de prefeito e com o segundo mandato assegurado nas urnas em outubro daquele ano. Bernardo mostrou a sua capacidade de liderança, seguindo os ensinamentos do pai.

Em quase duas décadas, não perdeu nenhuma eleição em seu município. Depois de cumprir dois mandatos consecutivos na Prefeitura de Almino Afonso (2001/2008), elegeu o sobrinho Lawrence Amorim (2008 e 2012) e o irmão Waldênio Amorim (2016). Antes, ainda jovem, comprovou a sua habilidade, com apoio do braço forte do pai, ao ter elegido a então namorada Ribana Fiala do Nascimento

Conduzir o patrimônio político de Abel Velho não foi tarefa fácil pela própria história de liderança construída pelo pai. Ao longo do tempo, os Abéis foram se alternando no poder. O patriarca foi prefeito, tendo sido eleito em 1965 com 878 votos; a matriarca Geralcina Carlos de Castro (Gelça), também administrou Almino Afonso. Depois, os filhos, netos e sobrinhos foram eleitos, sempre em Almino Afonso e Rafael Godeiro.

Nos últimos anos, o DNA político ficou bem acentuado nesses dois municípios oestanos. Em Rafael Godeiro, por exemplo, o médico Abel Filho foi eleito e reeleito; a sobrinha Ludmila, atual prefeita, também.

Para conduzir esse processo, Bernardo Amorim teve a habilidade de contornar todas as situações e arengas familiares, além de manter sob o controle outras ramificações sanguíneas que desejavam e desejam o poder local.

Hoje, administrando uma rede de clínicas que atendem municípios das regiões Oeste, Vale do Açu e Seridó, Bernardo divide o seu tempo, mas não solta as rédeas do grupo político-familiar. No entanto, é consciente que com a eleição do irmão Waldênio Amorim, sob forte influência da primeira-dama Maninha, a situação tornou-se bem delicada.

Há quem afirme que Bernardo pode até acalmar os ânimos do irmão, mas não terá força para frear o ímpeto da cunhada.
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