O presidente Jair Bolsonaro resgatou um personagem temido da ditadura que vive dias de esquecimento: o general Newton Cruz, hoje com 96 anos, ex-chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) e do Comando Militar do ex-presidente João Baptista Figueiredo. Ao agredir verbalmente ontem a jornalista Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo, Bolsonaro reviveu um dos casos mais explícitos de cala-boca a um profissional de imprensa no exercício de seu trabalho.
"Deixa eu falar" e "cala a boca" foram duas expressões utilizadas tanto pelo capitão quanto pelo general para fugir de perguntas incômodas. No caso de Bolsonaro, o não uso da máscara de proteção contra a covid na chegada a Guaratinguetá. Já Newton Cruz reagiu a questionamento sobre a falta de democracia no país (compare as duas situações no vídeo acima, editado pelo Congresso em Foco).
"Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa. Cala a boca, vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha, canalha, que não ajuda em nada. Vocês não ajudam em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam", reagiu aos gritos o presidente da República nessa segunda-feira.
Em 17 de dezembro de 1983, Newton Cruz convocou uma entrevista coletiva para "prestar contas à nação" sobre as medidas de emergência em vigor desde 19 de outubro. Brasília e outras cidades do país estavam em estado de sítio. O então chefe militar acusou a imprensa de má-fé e de transmitir notícias mentirosas. Discurso semelhante ao feito por Bolsonaro também no episódio de ontem.
Na primeira oportunidade em que foi questionado pelo radialista Honório Dantas, da Rádio Planalto, que lhe perguntou sobre a falta de democracia, Newton Cruz se irritou e pediu para falar. Honório respondeu: "pode falar, general". E ouviu: "Cale a boca, deixa eu falar e desligue essa droga".
"Peça desculpas, moleque"
Dantas desligou o gravador na frente do general e, ao se afastar, ligou o aparelho novamente. "De minha parte, depois de ser empurrado pelo general Newton Cruz, me sinto muito honrado", declarou o radialista. Quando saía da coletiva, Cruz partiu para cima do jornalista e lhe deu uma chave-de-braço, exigindo que o repórter lhe pedisse desculpas. Tudo diante das câmeras de TV.
"Peça desculpas, moleque", cobrou o general. "Desculpas", disse o radialista. "Não é assim. Diga eu peço desculpas", prosseguiu o militar, ainda insatisfeito.
Em agosto do ano passado, Bolsonaro ameaçou um jornalista de O Globo, em agosto. "Minha vontade é encher tua boca na porrada", disse o presidente ao ser questionado sobre cheques que teriam sido depositados por Fabrício Queiroz e a mulher na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Dez meses depois, a pergunta continua sem resposta.
Em maio de 2014, Newton Cruz foi denunciado, juntamente com quatro oficiais da reserva do Exército e outros dois réus, por crimes no atentado a bomba no Rioentro, em 1981. Mas se livrou do julgamento após o Tribunal Regional Federal da 2ª Região considerar que a acusação estava prescrita. O general também foi apontado como responsável pela morte do jornalista Alexandre von Baumgarten, ex-agente do SNI. O militar foi absolvido por falta de provas.
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Com Informações do Congresso em Foco
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