O
arrefecimento da pandemia a partir do segundo semestre de 2021 permitiu
o retorno às atividades presenciais para grande parte dos setores da
sociedade em todo o País. Com isso, as empresas começaram a planejar e
executar a retomada da rotina às próprias dependências. Algumas optaram
pela volta integral do quadro de colaboradores. Outras decidiram manter o
trabalho 100% remoto, enquanto algumas adotaram o formato misto. Este
último, aliás, é o modelo preferido de 72,7% dos profissionais que atuam
no chamado home office, segundo uma pesquisa realizada pela consultoria
Talenses Group em parceria com a Fundação Dom Cabral.
O estudo ouviu 868
entrevistados, que alegaram maior produtividade, mais tempo para
dedicação a projetos pessoais e para momentos com a família, bem como
ausência de deslocamento até o trabalho, como pontos positivos para
classificar o formato misto como o preferido de quem realiza atividades
laborais de forma remota. Este é o modelo visto como mais adequado
também para profissionais do Rio Grande do Norte ouvidos pela TRIBUNA DO
NORTE e que atuam nesse modelo.
A jornalista
Nathália Souza, de 24 anos, conheceu o trabalho remoto no início da
pandemia, em 2020, quando ainda era estagiária de comunicação no
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte (IFRN). Hoje, Nathália, que mora em Parnamirim, na Grande Natal,
trabalha como social media em uma agência que tem como clientes empresas
do ramo de gastronomia. A grande maioria das atividades é realizada de
forma remota.
“O trabalho presencial acontece
quando nos reunimos na empresa e aí, depois das reuniões, permanecemos
no escritório até o final do expediente. No início, nos encontrávamos
uma vez por semana, mas isso foi ficando cada vez mais raro. O
atendimento aos clientes também é feito, na imensa maioria das vezes,
por WhatsApp ou reuniões virtuais, salvo em casos de visitas a eles para
acompanhamento de produção fotográfica ou para algum direcionamento de
campanha”, relata a jornalista.
A operadora de
telemarketing Gizelly Herculano, de 23 anos, também descobriu o home
office com a chegada da pandemia. O novo modelo é definitivo para o
setor em que ela trabalha, mas outras operações da empresa já retomaram
às atividades presenciais. “Me adaptei bem ao home office, porque tem
várias facilidades. Sou natural de uma cidade do interior, então, pude
ir para lá neste final de ano para ficar com a família. Bastou que eu
levasse comigo um notebook e que tivesse acesso a um local com energia
elétrica e internet”, relata.
“Ou seja, é mais
fácil, porque a gente consegue trabalhar em qualquer lugar, desde que
haja os recursos necessários”, complementa Gizelly, que mora atualmente
em São Gonçalo do Amarante, município da Região Metropolitana de Natal. A
jornalista Nathália Souza também vê muitas vantagens no trabalho
remoto, especialmente, no modelo misto, no qual está atualmente. “No
geral, prefiro o formato híbrido. Acho que ir à empresa uma ou duas
vezes por semana, é o suficiente”, pontua.
Vantagens e desvantagens do novo modelo
Se a maioria dos brasileiros parece preferir trabalhar em casa – pelo
menos em parte – para as empresas, a ideia não parece de todo
equivocada, mesmo para aquelas que ainda não definiram sobre qual modelo
será adotado daqui para frente. É o caso da Silva A Incorporação. A
empresa, localizada em Parnamirim, surgiu em 2013 e é uma construtora e
incorporadora, responsável por projetos de engenharia, serviços de
documentação jurídica e execução e construção civil.
A
Silva A possui cerca de 60 funcionários, dos quais 10 atuam em
escritório e cerca de 50 em obras de engenharia. Com a chegada da
pandemia, os trabalhadores do escritório adotaram o formato 100% remoto.
“Esse modelo foi muito importante, porque, sem ele, a gente não teria
desenvolvido nada durante os momentos mais críticos da pandemia”, afirma
o diretor de engenharia da empresa, Eduardo Laomí.
Com
o passar do tempo, segundo Laomí, surgiu a necessidade do trabalho
híbrido. “Marcamos algumas reuniões presenciais para discussão de alguns
pontos, mas a maior parte do trabalho é feita remotamente”, conta. O
diretor de engenharia disse que o novo formato ajudou a reduzir custos
no escritório, que é alugado. Entretanto, do ponto de vista da
produtividade, ele faz algumas ressalvas: “Hoje, trabalhamos em modelo
híbrido e conseguimos desenvolver projetos remotamente. Mas, pela minha
experiência, a gente não atingiu o máximo de resultados, embora [o
modelo] tenha superado bastante minhas expectativas”, avalia.
Laomí
explica que atualmente existem ferramentas específicas na área da
construção civil que permitem tirar maior proveito do trabalho remoto,
mas aponta que o fato de o profissional estar no conforto da própria
casa pode trazer interferências à produtividade. “Por isso, não aposto
no trabalho 100% remoto. Acho o modelo híbrido mais interessante”,
analisa.
A jornalista
Nathália Souza reconhece que a produtividade é um ponto a ser encarado
por ela como um desafio para o home office. “Tenho dificuldade com
concentração e não consigo render tanto quanto eu renderia no formato
presencial. Claro, isso depende muito do dia também. Me sinto mais
vulnerável em relação à entrega de resultados. Além disso, estou mais
suscetível a receber pedidos de ajuda dos meus pais para fazer algo, por
exemplo”, relata.
Outro
desafio, segundo Nathália, é com o respeito à rotina de trabalho. “Uma
vez, quando era assessora de comunicação, cheguei a trabalhar até 22h.
Aí, comecei a refletir: se eu tivesse em trabalho presencial, eu não ia
resolver questões àquela altura, porque a instituição não funciona nesse
horário”.
A partir daí, a
jornalista passou a adotar novos hábitos para separar as coisas. Um
deles foi utilizar contatos telefônicos diferentes: um para o trabalho e
outro para relações pessoais. Para a operadora de telemarketing Gizelly
Soares, a situação, nesse aspecto, sempre foi mais tranquila. “Eu não
tenho filhos e moro apenas com meu marido, que trabalha fora. Então, é
tranquilo para me concentrar no trabalho”.
Mesmo
com ressalvas, tanto a jornalista quanto a operadora de telemarketing
avaliam de forma muito positiva o trabalho remoto. O fato de não
precisar se deslocar ao trabalho é apontado pelas duas como um aspecto
bastante satisfatório no caso do modelo remoto. “Sofri vários assaltos
quando estava em trabalho presencial. Então, é bem melhor não ter que
sair de casa. Sem contar que eu ganho tempo, porque agora estou
estudando também e as horas antes utilizadas para pegar ônibus eu uso
para estudar”, conta Gizelly.
Para
Nathália Souza, o deslocamento também é uma questão importante. “No
trabalho presencial eu tinha gastos com passagens e alimentação, estava
exposta a assaltos e às demais questões do ambiente externo. Em casa, eu
me sinto mais segura e relativamente confortável. Moro em um ambiente
tranquilo e com meus irmãos, que também trabalham em home office”,
descreve.
Ainda assim, alguns
aspectos fazem falta no novo modelo de trabalho. “Sinto mais falta do
calor humano, do contato com as pessoas e de resolver assuntos na mesma
hora”, admite Nathália. “No home office, a gente fica muito solitário,
sem contato físico com outras pessoas e perde aquele vínculo de amizade
mais forte que nós tínhamos presencialmente”, afirma Gizelly Herculano.
Trabalho remoto é tendência, diz gestora
O
trabalho remoto e o formato híbrido se tornaram tendência em todo o
mercado com a chegada da pandemia, na avaliação de Ana Cláudia Medeiros,
da área de gestão e gente da Rui Cadete, empresa de consultoria e
assessoria contábil com atuação em Natal. Segundo ela, as companhias
notaram que é possível adotar um modelo de trabalho à distância sem
impactos nos resultados. Para isso, afirma, é necessário que haja
planejamento e boa estruturação.
“A empresa precisa
estar preparada, com um aparato adequado para o trabalho remoto, seja
ele integral ou híbrido. É importante, ainda, não descuidar da
comunicação, promover ações de reforço sobre a cultura da empresa e
adotar um formato que agregue toda a equipe", orienta a especialista.
Para
os profissionais, também há dicas que precisam ser seguidas à risca,
conforme explica Ana Cláudia Medeiros. O autoconhecimento é um pilar
fundamental para uma boa adaptação ao modelo remoto. "Se a pessoa,
naturalmente, tem dificuldade de planejamento ou encontra obstáculos
para adotar uma rotina e ter foco, tudo será motivo de distração na hora
do trabalho", explica. A especialista alerta para o fato de que os
profissionais precisam estar atentos para separar a vida pessoal das
atividades laborais.
“Sem
organização, tudo se acumula num espaço só e as pessoas acabam
encontrando muitos desafios para separar as duas rotinas", destaca
Medeiros.
Com uma boa dose de
organização, no entanto, os benefícios tender a surgir, tanto para as
empresas, quanto para os profissionais. "Muita gente tinha vontade de
trabalhar em empresas que só estão presentes em outros estados ou até
mesmo no exterior e o trabalho remoto quebrou essas barreiras", afirma
Ana Cláudia Medeiros.
Outros
benefícios são sublinhados pela especialista, como a oportunidade de uma
maior flexibilidade para o colaborador, maior engajamento e boa
produtividade, desde que receba suporte para isso. Além disso, Ana
Cláudia cita a ausência da necessidade de deslocamento ao trabalho como
outra vantagem.
“Com as
atividades presenciais, perde-se muito tempo no trânsito e há o desgaste
de ter que acordar mais cedo, por exemplo. Tem profissionais que se
adaptam melhor a um ambiente de trabalho mais reservado, sem tantas
pessoas", diz.
Fonte: Tribuna do Norte
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