O Papa Francisco chegou ao Brasil às 15h45 desta segunda-feira (22)
para presidir a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), desfilou em carro
aberto e saudou os jovens em seu primeiro discurso, no Rio de Janeiro.
"Cristo bota fé nos jovens", afirmou o pontífice argentino, que faz sua
primeira viagem internacional desde que foi escolhido sucessor de Bento
XVI. O Papa fica no país até domingo (28) e ainda visitará a cidade de
Aparecida (SP), nesta quarta.
Francisco foi recebido com flores brancas pela presidente Dilma
Rousseff na base aérea do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de
Janeiro. Em seguida, percorreu um trajeto, acompanhado por uma multidão,
em três carros, incluindo o papamóvel, e de helicóptero, até o Palácio
da Guanabara, onde ambos discursaram.
1º discurso do papa
"Cristo bota fé nos jovens. E também os jovens botam fé em Cristo",
afirmou o Papa. "Obrigado pelo seu generoso acolhimento (...). Vim para a
JMJ para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo atraídos pelos
braços abertos pelo Cristo Redentor. Estes jovens vêm de diversos
continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variadas
culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais
altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de
amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade", afirmou.
"Cristo abre espaço para eles [jovens], pois sabe que energia alguma
pode ser mais potente daquela que se desprende do coração dos jovens",
disse o Papa. "Atenção, a juventude é a janela pela qual o futuro entra
no mundo (...), por isso nos impõe grandes desafios. A nossa geração se
demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando lhes
souber abrir espaço."
Papa Francisco e a presidente Dilma no Palácio
Guanabara (Foto: Reprodução/GloboNews)
Guanabara (Foto: Reprodução/GloboNews)
O Papa disse também que o Brasil possui "profundos sentimentos de fé". "Venho para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração", disse. "Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pela porta de seu imenso coração. Permitam-se que nessa hora eu possa bater delicadamente a essa porta", disse.
"Por isso, peço licença para entrar e transcorrer essa semana com vocês. Não tenho nem ouro nem prata, mas tenho algo de mais precioso que me foi dado: Jesus Cristo", afirmou o Papa Francisco.
Antes, a presidente Dilma Rousseff deu boas-vindas ao Papa. “É uma honra redobrada em se tratando do primeiro Papa latino-americano”, disse. “O Brasil e seus mais de 50 milhões de jovens acolhem de braços abertos os peregrinos de dezenas de países que vieram para essa grande celebração."
"Sabemos que temos diante de nós um líder religioso sensível aos
anseios de nossos povos por Justiça social, oportunidade para todos.
(...) Lutamos contra um inimigo em comum, a desigualdade social",
afirmou Dilma.
Segundo ela, "estratégias de superação da crise econômica, centradas só
na austeridade, sem a devida atenção aos enormes custos sociais que ela
acarreta, golpeiam os jovens".
Ainda conforme a presidente, "a fé é parte do espírito brasileiro" e
moveu centenas de jovens em protestos pelo país nos últimos meses. "A
juventude brasileira tem sido protagonista nesse processo e clama por
mais direitos sociais (...). Os jovens exigem respeito, ética e
transparência. Querem que a política atenda a seus interesses, aos
interesses da população", disse. "A juventude brasileira está engajada
numa luta por uma nova sociedade. Essa celebração da juventude durará
muito mais do que os dias da jornada", completou.
Calor humano
Foram quase 12 horas de viagem ao Brasil. Minutos após descer do avião Airbus A330 da Alitalia, que saiu do Aeroporto de Fiumicino, próximo a Roma, às 8h55 (3h55 em Brasília), Francisco cumprimentou autoridades e religiosos que o aguardavam ao longo de um tapete vermelho estendido na pista do Galeão e ouviu o Hino da Jornada de um coral de 140 crianças.
Foram quase 12 horas de viagem ao Brasil. Minutos após descer do avião Airbus A330 da Alitalia, que saiu do Aeroporto de Fiumicino, próximo a Roma, às 8h55 (3h55 em Brasília), Francisco cumprimentou autoridades e religiosos que o aguardavam ao longo de um tapete vermelho estendido na pista do Galeão e ouviu o Hino da Jornada de um coral de 140 crianças.
Multidão cerca o carro do Papa Francisco no Rio
(Foto: GloboNews)
(Foto: GloboNews)
Próximo à catedral, o carro foi novamente cercado por uma multidão, mas o Papa continuou acenando com a janela aberta, protegido por seguranças.
Segundo Lombardi, o Papa pediu menos segurança e gosta de ter contato com as pessoas, não de militarização. "Foi a primeira experiência, ele acabou de chegar. Vimos o entusiasmo das pessoas. Isso é algo novo, talvez uma lição para os próximos dias. Temos que achar a maneira correta", disse, destacando o entusiasmo da população brasileira.
Francisco subiu então no papamóvel em direção ao Theatro Municipal. O primeiro desfile no veículo, sem proteção lateral, foi acompanhado por centenas de fiéis. Francisco foi aplaudido, fotografado e parou para beijar crianças.
"Fiquei em êxtase. Esse era um sonho meu, eu já vi pra cá com essa intenção", disse a mãe de uma delas, o menino Guilherme Mendes, de 2 anos, que foi abençoado com o sinal da cruz.
Multidão cerca o papamóvel próximo à Catedral do Rio de Janeiro (Foto: Gabriel Bouys/AFP)
Depois, Francisco embarcou em outro carro até o 3º Comando Aéreo
Regional (Comar). Por volta das 17h50, foi de helicóptero até o Palácio
Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul, encontrar-se com a presidente
Dilma Rousseff, o governador do Rio, Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo
Paes e outras autoridades. Às 18h, o Papa chegou ao palácio do governo,
onde proferiu seu discurso.
Protestos
Ao menos três grupos se reuniram no Largo do Machado, na Zona Sul do Rio, para protestar contra a visita do Papa. No início da noite, houve tumulto em frente ao Palácio da Guanabara, quando o Papa já havia deixado o local. Manifestantes jogaram bombas de fabricação caseira em policiais, que revidaram com balas de borracha, jatos d'água e bombas de gás lacrimonêneo.
Papa Papa acena para os fiéis do papamóvel (Foto: Victor R. Caivano/AP)
O Papa fica hospedado nesta segunda na Residência Assunção, no Sumaré. Jorge Bergóglio deve dormir no quarto 5, que possui uma área de 45 metros quadrados. Nos sete dias em que ficará no país, Francisco fará pelo menos 15 pronunciamentos. A expectativa de especialistas é que ele quebre protocolos e faça pregações emblemáticas para reforçar suas posições frente aos desafios da igreja. Cerca de 5,5 mil jornalistas acompanham a visita, 2 mil da imprensa internacional.
Nesta terça-feira (23), Francisco passa o dia descansando, sem compromissos oficiais. Na quarta (24), a agenda do Papa começa com uma visita a Aparecida, no interior de São Paulo. Na cidade, ele celebra uma missa no Santuário Nacional e almoça no Seminário Bom Jesus. São esperados 200 mil fiéis.
Mulheres fizeram encenação contra a catequização de índios em protesto no Rio (Foto: Gabriel Barreira/G1)
O retorno para o Rio de Janeiro está marcado para as 16h. No fim da
tarde, o pontífice visita o Hospital São Francisco de Assis. O Papa deve
inaugurar o Polo de Atenção Integrada da Saúde Mental (PAI) para
acolher dependentes químicos, de álcool e drogas.A sexta-feira (26) também começa com uma missa fechada no Sumaré. Após a oração, o Papa vai à Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, encontrar com um grupo de jovens selecionados pela igreja e que vão se confessar com Francisco. Haverá então um breve encontro com alguns jovens detentos no Palácio Arquiepiscopal São Joaquim.
A oração do Ângelus será feita no Palácio São Joaquim, residência do arcebispo do Rio. Também está prevista uma saudação ao Comitê Organizador da Jornada. No fim da tarde, o Papa vai à Praia de Copacabana, onde será realizada a Via Sacra.
No sábado (27), a manhã começa com uma missa com bispos na Catedral de São Sebastião. Por volta das 11h30, o Papa se reúne com membros da sociedade civil no Theatro Municipal. Após o ato, ele almoça com bispos e cardeais. No início da noite, o Pontífice vai a Guaratiba para a Vigília de Oração.
No domingo (28) de manhã, o Papa retorna a Guaratiba para realizar a Missa de Envio, marcada para as 10h. À tarde, após um almoço com sua comitiva, Francisco tem um encontro com a coordenação do Conselho Episcopal Latino-Americano. O Papa se reunirá ainda com voluntários da JMJ, no Riocentro, e participará da cerimônia de despedida, agendada para as 18h30. O embarque para Roma está previsto para as 19h.
Segurança e protestos
Os protestos realizados desde junho pelo país motivaram ajustes nos planos de segurança para a visita, mas o Vaticano assegurou na quarta (17) que não havia motivo para preocupação. Francisco inclusive dispensará o uso de papamóvel blindado.
papamóvel
Durante a passagem de Francisco pelo Rio, a Operação Papa mobilizará
cerca de 13,7 mil homens, 10,2 mil das Forças Armadas, 1,3 mil homens da
Força Nacional de Segurança, além de agentes e policiais dos Órgãos de
Segurança e Ordem Pública. A Polícia Militar do Rio afirma que vai
empregar 14 mil homens para fazer o patrulhamento da cidade.No planejamento de segurança adotado pela Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos, vinculada ao Ministério da Justiça, Copacabana é considerada a área mais complexa, já que o bairro deve receber cerca de 2 milhões de pessoas na Via Sacra, que será realizada no dia 26 e terá a presença do Papa Francisco. Mais de 10 mil agentes, entre policiais federais, rodoviários federais, civis, bombeiros, trânsito e defesa civil vão atuar no esquema.