Dilma Rousseff não pecou pela incoerência, segundo a oposição, ao
afirmar que o ex-presidente Lula "não vai voltar porque ele não saiu",
em entrevista publicada na edição deste domingo (28) da Folha.
O presidente do PPS, Roberto Freire, diz com, com a declaração, a
petista "apenas reconhece sua nulidade". "O pior de tudo é se ver diante
de uma presidente que se autodefine como marionete."
Para o presidente do DEM, José Agripino Maia, o recado da presidente foi
"claríssimo": "Os erros que estão levando às manifestações nas ruas não
são só dela, são dos dois governos do PT."
O ex-vice-governador de São Paulo Alberto Goldman (PSDB) também dá
"razão" à petista. "Lula nunca saiu, e Dilma nunca entrou." Para o
tucano, com essa fala Dilma se "autofirma como um pequeno joguete",
enquanto seu governo seria "uma continuidade de todas as estripulias" do
antecessor.
Na base governista da Câmara dos Deputados, as afirmações da presidente
tiveram boa acolhida. Para o vice-presidente da Casa, André Vargas
(PT-PR), aqueles que falam em "volta Lula" "não compreendem o PT, Lula e
Dilma".
"Desde o começo o PT sempre estimulou o trabalho de forma unitária. Se
tiver alguma área do governo que não estiver bem avaliada, não será a
volta do Lula que vai resolver."
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) reforça: "Creio que hoje o tema
central é 'Força, Dilma'. Esse é o tema que nós, o PT, os partidos da
base aliada, temos que reforçar para enfrentar esse momento e dar uma
volta por cima".
Líder da bancada do PMDB na Câmara, o deputado Eduardo Cunha (RJ) também
diz concordar com a presidente: "Realmente não pode existir o 'volta
Lula' porque ela [Dilma] é uma consequência do Lula. Um fracasso de seu
governo seria um fracasso do Lula". Na entrevista à Folha, Dilma disse que não há por que dizer "volta Lula", pois ela e seu antecessor são "indissociáveis".
O movimento pela candidatura do ex-presidente parte de setores aliados
insatisfeitos com a gestão da petista. A pressão tomou corpo com a queda
de popularidade de Dilma ocorrida após os protestos nas ruas do país em
junho.
Vida de presidente
A presidente Dilma Rousseff concede entrevista à Folha em seu gabinete no Palácio do Planalto
QUEDA NAS PESQUISAS
Alberto Goldman contesta a crença dilmista de que "tudo o que desce,
sobe" --a presidente se referia ao declínio da aprovação popular. "Não
na vida política. É como qualquer caminhão descendo uma serra. Basta
você largar o freio que desce. A subida é muito mais penosa e lenta."
Roberto Freire questiona se a presidente terá tempo hábil para se
recuperar: "Ela não tem capacidade de enfrentar a crise política e
econômica pela qual passamos".
REFORMA POLÍTICA
A defesa do tema também dividiu, como era de se esperar, governistas e
oposição. Aliados de Dilma no Congresso respaldaram a proposta de
reforma política defendida pela presidente --questionada pela Folha
se o Congresso faria uma reforma contra ele mesmo, Dilma disse que a
realização de um plebiscito seria a "baliza que daria legitimidade" às
mudanças.
Resistências em sua própria base de apoio, porém, praticamente
sepultaram as chances de que haja alterações para a disputa de 2014.
"Tenho dito ao grupo de deputados que integro que a reforma é do povo
brasileiro, não é dos políticos. E vamos fazê-la na Câmara", afirmou o
deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), coordenador do grupo criado
pela Câmara para discutir a reforma política.
Para Paulo Teixeira, Dilma "corajosamente enfrenta esse tema, e nós
precisamos, o Parlamento precisa, responder a essa demanda". Já Freire
define o plebiscito como "uma invencionice que resultou de um ato
inconstitucional e golpista".
MINISTÉRIOS
Já a negativa de Dilma à proposta apresentada pelo PMDB de corte no
número de ministérios --o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), defendeu redução de 39 para 25 pastas-- é elogiada pelo PT,
mas sofre críticas do PMDB.
"É um direito dela manter o número e isso não mudará em nada a relação
com o PMDB, mas vamos continuar defendendo a redução. Aliança não
significa concordância em tudo", afirma Eduardo Cunha.
"A economia que isso poderia gerar é muito pequena. Isso é muito mais
uma armadilha política que a oposição e a mídia estão colocando. Os
ministérios que deixariam de existir seriam aquelas vinculados a
políticas para setores oprimidos da sociedade, da Igualdade Racial, das
Mulheres, da Cultura", afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).
A redução do número de pastas foi proposta pelo PMDB após avaliação de
que o governo queria, com a reforma política, transferir exclusivamente
para o Congresso a responsabilidade de dar uma resposta às manifestações
populares.
INFLAÇÃO
Goldman critica, também, o fato de Dilma ter afirmado que o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não cumpriu a meta de inflação
em três dos quatro anos no qual ela vigorou. "Usar FHC como
justificativa para seu insucesso é ridículo. Mostra o grau de alienação
em que ela está. Não tem sentido fazer qualquer tipo de comparação com
12, 15 anos atrás."
Fonte: Folha de SP