Bolsonaro: a maior vergonha do Brasil no mundo

Do colunista do UOL, Jamil Chade:

Pelas janelas de vidro do suntuoso local escolhido para sediar a cúpula do G20, em Roma, a luz do sol parecia criar um ambiente especial. Nos autofalantes, uma música calma dava um tom de sofisticação. O ambiente com design italiano era de elegância e tinha como objetivo criar uma certa intimidade entre líderes que, juntos, representam 80% da economia do planeta.

Mas, num canto da sala, um homem parecia desconfortável: Jair Bolsonaro.

O UOL teve acesso à antessala da cúpula do G20, um local reservado e de altíssima segurança. Blindados, os líderes tinham naquela área um raro espaço quase confidencial para discutir o futuro do planeta. E assim parecia ser o caso. Numa rodinha informal, Angela Merkel (Alemanha), Emmanuel Macron (França), Antônio Guterres (ONU) e Ursula van der Leyen (UE) debatiam a maneira que iriam pressionar a comunidade internacional para criar um fundo conjunto para garantir a distribuição de vacinas. Mas, num canto da sala, um homem parecia sem interlocutores para debater política: Jair Bolsonaro. Em outras rodinhas informais, a conversa era menos estratégica. Scott Morrison (Austrália), Justin Trudeau (Canadá) e Narendra Modi (Índia) e Boris Johnson (Reino Unido) falavam sobre como a pandemia exigiu uma nova forma de saudar entre as pessoas.

Mas, num canto daquela sala em Roma, um homem parecia sem amigos para conversar: Jair Bolsonaro. Sobrou ao presidente tentar, sem sucesso, atrair a atenção dos garçons.

Também existia espaço para conversas no pé do ouvido. Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, puxou Van der Leyen para debater o futuro da agência de Saúde. Mark Rutte, da Holanda, também fez questão de buscar seus principais aliados para conversas individuais.

Cada um deles, ao entrar no local e antes da cúpula oficial começar, encontrava rapidamente um velho amigo, um aliado ou um parceiro comercial.

Quando o brasileiro chegou, não teve opção: cruzou o salão e foi diretamente para uma mesa onde garçons serviam um café. Nesse trajeto, não foi cumprimentado por ninguém, não parou para apertos de mão.

Com um dos garçons, puxou conversa: “Todo mundo italiano aí?”. Sem graça, o senhor que servia apenas fez um gesto positivo com a cabeça.

Bolsonaro não desistia e falou de suas origens italianas. Mas não conseguia atrair a atenção dos garçons. Começou então a fazer uma piada com a final entre Brasil e Itália, na Copa de 1970. Ninguém entendeu. O brasileiro então se virou para o restante do salão e se deparou com um cenário de grupos que falavam entusiasmadamente sobre assuntos dos mais diversos. Ele, porém, permaneceu por longos minutos sozinho, apenas apontando o dedo para aqueles que ele achava reconhecer.

Quando um de seus seguranças se aproximou, Bolsonaro brincou e, em plena Itália, lançou mais comentário por conta da aparência do profissional: “máfia”. Seus assessores foram atrás de amigos. E encontraram um deles: Tayyip Erdogan, presidente da Turquia e acusado de um desmonte da democracia. Antes de se aproximar ao turco, Bolsonaro lançou aos seus auxiliares: “me ajuda ai”.

A conversa, repleta de mentiras por parte do brasileiro, durou apenas alguns poucos minutos, sem gerar um só sorriso por parte do líder turco. Bolsonaro não perguntou como estava a Turquia, não falou das relações bilaterais e nem fez propostas para salvar o mundo. Poucos instantes depois, outro líder que estava na roda e que foi ignorado pelo brasileiro decidiu virar as costas e falar com outro grupo. Era Olaf Scholz, o provável novo chanceler da Alemanha.

Após quase três anos no poder, presidente se vê rodeado apenas pelos próprios ministros Quando o papo acabou, lá foram os assessores do presidente em busca de mais amigos. Encontraram um aliado inusitado: Alberto Fernandez, presidente da Argentina e contra o qual Bolsonaro chegou a fazer campanha por ser de esquerda.

Ainda assim, a conversa entre os dois foi a que mais durou, nos cerca de 30 minutos em que o presidente brasileiro enfrentou o desafio da diplomacia mundial. Rapidamente, ele ainda cumprimentou Boris Johnson (Reino Unido) e trocou poucas palavras com Modi, da Índia. Mas logo estava sozinho de novo.

E a solução foi se dirigir até um sofá ainda mais distante de todos os demais líderes para sentar ao lado de Paulo Guedes (Economia) e esperar.

Ao ver que a coluna o UOL estava no local, os assessores de Bolsonaro chamaram a segurança do evento. E um dos guarda-costas insistia em se mover diante do presidente para bloquear a reportagem de fazer uma foto. O alívio veio quando os organizadores anunciaram que a cúpula iria começar. Cada um dos líderes saiu em direção à sala. Macron, abraçado a políticos africanos. Merkel, sempre discreta, rodeada por admiradores. Bolsonaro, o último a deixar a antessala e alvo de desconfianças internacionais, caminhou ao evento apenas com seus ministros. Desconfortável, sem interlocutores e simplesmente deslocado, o presidente era o retrato de um líder que, depois de quase três anos no poder, não consegue construir uma inserção positiva para o país no mundo. Naquele espaço, a diplomacia se traduzia em gestos, apertos de mão e construção de alianças.

Mas não para todos. Num canto daquela sala em Roma, não era um homem que parecia isolado. Mas um país que tinha perdido seu lugar no mundo.

Mais tarde, Bolsonaro sairia antes de o jantar oferecido ao G20 pela Itália terminar.

Na manhã de domingo, ele não se deu sequer ao trabalho de ir junto com outros líderes visitar a Fontana di Trevi.

Ali estavam Angela Merkel, Boris Johnson, Mario Draghi, Pedro Sánchez, Narendra Modi, Scott Morrison e outros.

Poucas horas depois, na primeira reunião do dia do G20, com o príncipe Charles, uma vez mais Bolsonaro não estava presente.

A cadeira do Brasil foi ocupada pelo chanceler Carlos França. Questionado, o serviço de imprensa da presidência não explicou a ausência do chefe de estado.

Sem amigos, sem aliados, sem admiradores, curiosos, sequer interessados, cumpria a promessa de pária, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

FONTE: thaisagalvao.com.br

 

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