A TRIBUNA DO NORTE
voltou esta semana às cidades visitadas em maio passado. O cenário é
praticamente o mesmo. Intacta, mesmo, a esperança do sertanejo.
Preparar a forragem do gado foi substituído pela espera da ração
distribuída pelo Governo do Estado. A coleta do leite se manteve, mas em
menor escala, tendo em vista que o número de animais diminuiu
drasticamente e os que ficaram pouco dão leite. Por último, organizar a
produção do assentamento passou a ter novas obrigações. Transportar
cadáveres de bois e vacas até o cemitério improvisado pelos colonos,
viagens ao escritório do Banco do Nordeste de Caicó para tentar
financiamentos, entre outros afazeres. Francisco das Chagas e seus 62
vizinhos fazem parte de um grupo crescente no interior do Rio Grande, o
grupo daqueles que dependem quase que exclusivamente da política
assistencial do poder público para persistir em seu trabalho.
Hoje pelos menos 17 mil agropecuaristas do Rio Grande do Norte contam
com a ajuda de instituições públicas para manter o rebanho e a
produção. O número à primeira vista impõe respeito, mas se intimida
diante do universo geral de produtores do Estado. Segundo dados do
Idiarn, existem hoje mais de 48 mil criadores de gado registrados no
Estado. Pouco mais de três mil são atendidos pela distribuição de sorgo e
milho do Governo do Estado, segundo dados da Emater. Além disso, cerca
de 14 mil produtores compram milho a um preço abaixo do mercado através
da Conab.
Segundo os próprios atingidos, é por conta de números como esses que a
situação das comunidades rurais no interior do Estado pouco mudou desde
o início da estiagem. A TRIBUNA DO NORTE visitou várias cidades em maio
e registrou as dificuldades encontradas por conta da seca. Francisco
das Chagas foi um dos entrevistados. Sete meses depois a situação pouco
mudou. “Temos menos bichos morrendo, mas isso é porque boa parte do
rebanho morreu naquela época”, lamenta o criador. Até dezembro cerca de
50 animais morreram no assentamento Seridó.
A principal dificuldade a persistir na vida das comunidades rurais do
interior do Estado é a falta de pasto e água para o gado. “Existe a
ração do Governo do Estado e o milho da Conab, mas nem todos os colonos
conseguem ter acesso. O cadastro não contempla todos”, diz Francisco das
Chagas. Com os reservatórios esvaziados e o chão tão seco que até a
palma e o xique-xique começa a murchar, os produtores têm duas
possibilidades: ou compram a ração ou esperam pelo Governo. Os “menores”
não tem como desembolsar o necessário para comprar ração. Dependem dos
governos.
Aqueles com um rebanho maior – e mais condição financeira – passaram a
bancar do próprio bolso a sobrevivência do rebanho. Isso inclui
contrair empréstimos, principalmente na linha de financiamento
emergencial para seca, disponibilizada pelo Banco do Nordeste. Ubirajara
Lopes de Araújo é um dos que conseguiu acesso ao recurso. O agricultor
gastou cerca de R$ 20 mil desde maio apenas para conseguir manter em pé
as 160 cabeças de gado que possui na fazenda Estreito. “A única ajuda
que eu tenho é o milho comprado na Conab. O açude secou e dependemos da
Operação Pipa para abastecer a casa”, aponta Ubirajara.
Com as dificuldades advindas com a seca, e que persistem desde a
primeira metade de 2012, a produção de leite tem sido fortemente
influenciada no Seridó. Em alguns locais, a diminuição chega a 40%.
Fonte: Robson Pires