Diálogo impossível?

Por Carlos Chagas


                                                                              Sexta-feira passada, ouvindo do presidente do Senado, Renan Calheiros, que através de Aécio Neves as oposições estavam prontas para ir ao seu encontro, se convidadas, a presidente Dilma Rousseff abriu ampla avenida no relacionamento parlamentar. Respondeu  que iria chamar os adversários na segunda-feira. Senão  de euforia, foi de expectativa otimista a reação no PSDB e adjacências. Afinal, o ministro da Justiça já havia procurado o ex-presidente Fernando Henrique para demorada conversa.
                                                                              Pois começa a semana e o que acontece? Dilma cumpre a palavra,  convocando a oposição, mas quem? Apenas o senador Randolfe Rodrigues. De Aécio Neves, Aloísio Nunes Ferreira, José Agripino, Jarbas Vasconcelos e outros  de mais idade e mais experiência, nada. Ontem, até de noite,  já  não se esperava o chamamento presidencial, ainda que alguns oposicionistas ainda mantivessem tênue chama de esperança.
                                                               Quem jogou a pá de cal no diálogo foi, ironicamente, Fernando Henrique: “agora é tarde para chamar a oposição”. Talvez porque ele já tenha sido procurado, ainda que por um ministro, não quis  levantar a bola para  seus companheiros marcarem pontos. 
                                                                              Há, porém, que prospectar mais fundo na busca dos motivos de porque as oposições foram deixadas ao sol e ao sereno. Será por conta do contundente discurso pronunciado por Aécio Neves, semana passada, chamando o governo Dilma de “Brasil Velho”? Talvez não, porque Randolfe Rodrigues costuma falar coisa pior. Uma explicação talvez se encaixe melhor: a sucessão presidencial do ano que vem. Dilma não estaria disposta a botar azeitona na empada de Aécio Neves, que fatalmente sairia vitorioso do gabinete presidencial, como alguém que não aceitou a proposta do plebiscito sobre a reforma política.
                                                                              O ano de 2014 está mais longe do que jamais esteve, por conta das manifestações de protesto verificadas no país inteiro, mas, pelo jeito, menos para os detentores do poder. Eles continuam só pensando  naquilo, ou seja, a reeleição de Dilma, quando não estão conspirando para fazer do Lula o candidato. Aécio Neves assusta o PT, assim como Marina Silva, mas não mais do que Joaquim Barbosa, recém-chegado às pesquisas. Por isso, nas especulações preliminares, rejeita-se a hipótese de candidatos avulsos, ou seja, sem partido.
                                                                              Depois de haver recuado na sugestão de uma Constituinte  exclusiva, a presidente parece saltar de banda também diante da segunda proposta, o envio ao Congresso de  perguntas objetivas a que a população teria de  responder num insosso plebiscito sobre a reforma política. Limitou-se a “sugestões” de  temas, por saber da impossibilidade de o eleitorado manifestar-se sobre intrincados detalhes das mudanças sempre alardeadas mas jamais realizadas. Pelo que se prevê, não haverá plebiscito, ainda que, se houver, será para muito mais tarde, inviabilizando qualquer reforma para vigência nas eleições do ano que vem.

DILMA RECUSA MILITARES

                                                                              Corre em Brasília que na recente reunião com governadores e prefeitos de capital, a presidente Dilma rejeitou a proposta de alguns deles, para convocar as forças armadas na preservação da ordem pública. Mesmo no auge das depredações, ela preferiu confiar nas polícias militares estaduais e na força de segurança nacional.  Apelar para  os generais, mesmo quando vão se completar 50 anos do movimento  militar, ainda não é uma solução para a presidente.Ficaria devendo, apesar de a totalidade dos atuais comandantes não serem nem tenentes, quando  da deflagração do golpe.

DENTRO E FORA DE CASA

                                                                              Numa segunda-feira inusitada, com o plenário do Senado cheio, o senador Blairo Maggi (PR-MT) expôs o seu diagnóstico a respeito do que vai acontecendo nas ruas do país. Para ele, melhorou a vida do cidadão quando ele está em casa. Conseguiu comprar geladeira, televisão, até computador.  Quando abre a porta e vai trabalhar, é o caos. Sem transportes, educação, saúde e segurança, apela para o protesto.
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