Lula com a cúpula do NDC (National Democratic Congress), Adis Adeba, na Etiópia.
Enquanto no Brasil ganham força as especulações de que Lula
poderá voltar a ser candidato a presidente, caso o governo Dilma entre
enfraquecido no próximo ano, tentando jogar um contra o outro, Hélio
Campos Mello e Luiza Villaméa, da "Brasileiros", revista mensal de
reportagens onde também trabalho, foram até Adis Adeba, na Etiópia, para
ouvir o próprio sobre os seus planos para 2014.
Após um longo silêncio, Lula falou pela primeira vez sobre as grandes
manifestações de junho, a reação do governo brasileiro e a necessidade
de se buscar uma nova forma de fazer política. No início de julho, o
ex-presidente foi à Etiópia para participar das comemorações dos 50 anos
da União Africana e lá abriu um espaço na sua agenda para dar uma longa
entrevista aos meus dois colegas, publicada na íntegra na edição de
julho, que está chegando às bancas.
No ponto mais importante da conversa, Lula deixou bem claro qual será seu papel na sucessão presidencial. Alguns trechos:
- Fala-se em sua volta. Onde o senhor vai estar em 2014?
- Eu nem gosto de comentar este assunto. Faz dois anos e meio que
deixei a presidência da República. Cumpri oito anos de Presidência. Se
não fiz tudo, fiz muito do que achava que era preciso fazer. Temos de
ter outras pessoas. A Dilma é uma excelente presidente da República.
Conheço muita gente neste país. Conheço muito político neste País. E
conheço pouquíssimas pessoas com a competência da Dilma. Portanto, ela
será minha candidata em 2014. E eu serei seu cabo eleitoral. É isso que
vai acontecer.
- Como o senhor está vendo o Brasil? De repente, o índice de popularidade da presidente Dilma despencou.
- Não é a presidenta. O terremoto que aconteceu no país pegou
tudo. Pegou desde a imprensa, que estava perplexa e depois virou
apoiadora do movimento, até o Congresso Nacional. Pegou todo mundo, os
políticos, os prefeitos, como se fosse um vulcão em erupção. Quem estava
ali na frente foi se queimando. (...) Acho que a Dilma deu um passo
importante. Ela conversou com amplos setores da sociedade. Conversou com
os sindicatos, com os partidos, com os jovens, com o Movimento Passe
Livre. E, como Dilma é muito inteligente, ela certamente vai tomar as
medidas que precisa tomar.
- E o senhor também está tentando entender as novas mídias, não é verdade?
- Mais do que entender, nós temos de nos preocupar e nos
modernizar. O jeito de fazer política está mudando no mundo. Não é no
Brasil. É no mundo. Hoje, as pessoas se comunicam sem pedir licença.
Antigamente, na porta de uma empresa, eu tinha que conversar com o
segurança para ver se deixavam entrar o carro de som. Hoje, milhares de
jovens se comunicam, sentados no sofá, comendo batatinha. É um negócio
fantástico. Onde isso vai parar no mundo eu não sei. O fato concreto é
que a comunicação mudou. E nós temos de evoluir. De qualquer forma,
sempre que a sociedade alerta é muito importante prestar atenção. A
Dilma agiu rapidamente (...) Não sei se haverá grandes mudanças se a
reforma política for feita pelos mesmos que estão hoje no Congresso
(...)Muita gente prefere que fique do jeito que está.
Lula ainda aproveitou para mandar um recado aos jovens do "contra
tudo e contra todos", que se declararam apartidários e atacaram os
políticos de todas as latitudes:
"Quando achar que nenhum político presta e que todo mundo é ladrão, o
jovem não deve desanimar. Em vez disso, ele tem de entrar na política. O
político perfeito que ele quer pode estar dentro dele".
Além da entrevista com Lula, a revista traz também reflexões sobre o
significado da volta do povo às ruas em artigos assinados por Almir
Pazzianoto, Antônio Bivar, Antônio Risério, Juan Arias e Maria Vitória
Benevides, entre outros.
Fonte: Nominuto