Sobre o interesse do ministro Fábio Faria em ser vice de Jair Bolsonaro, de acordo com o colunista Reinaldo Azevedo, no UOL:
Antes de a palavra “narrativa” entrar na moda e integrar o léxico da extrema direita brucutu — que nem sabe do que está falando; não parece que Carlucho seja exatamente um estudioso das ciências da linguagem —, os delinquentes intelectuais, políticos e morais recorriam com frequência à palavra “contexto”. A maior barbaridade, a coisa mais estúpida, o ataque mais covarde, tudo, enfim, poderia ser resolvido com uma desculpa: “Tal coisa foi tirada do contexto”.
Não que isso seja impossível. É. Pode-se picotar uma fala para lhe atribuir sentido inverso ao pretendido pelo emissor. Não é um caso de contexto, mas de mentira mesmo. As milícias bolsonaristas fazem isso com frequência. Por que essas considerações iniciais? A Secom resolveu homenagear o “Dia do Agricultor” com uma foto extraída de um banco de imagens que mostra um homem portando uma arma. Vinha acompanhada do seguinte texto: “Hoje homenageamos os agricultores brasileiros, trabalhadores que não pararam durante a crise da Covid-19 e garantiram a comida na mesa de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo”.
A imagem foi retirada do ar depois de protestos vindos, inclusive, do agronegócio. Marcello Brito, presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), por exemplo, escreveu: “Esse post não representa os agricultores brasileiros. Não andamos com armas no ombro, mas com o suor de quem trabalha honestamente de sol a sol. Essa publicação envergonha o setor, as mulheres e homens do campo e o Brasil. Absurdo”.
Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência, também se manifestou: “Pelo amor de Deus, onde o governo Bolsonaro quer chegar? Veja que foto absurda postaram, hoje, supostamente para homenagear o Dia do Agricultor. É a simbologia do ódio e da morte em todos os espaços. Basta!” FANÁTICO PELA MORTE Ciro foi ao ponto. Esse é um governo fanático pela morte. O Brasil ainda abriga conflitos agrários: entre proprietários, grileiros e sem-terra e entre esses todos e índios. Em vez, então, de o governo celebrar a produtividade do campo, prefere estimular o conflito. Ao enunciar que a resolução das demandas se dá à bala, nega as funções primordiais do Estado: evitar o confronto, fazer Justiça, buscar o consenso. E qual foi a desculpa que veio lá das paragens de Fábio Faria, hoje uma das vozes mais estridentes do que o governo Bolsonaro tem de pior?
Leio no Painel da Folha:
“A Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom/MCom) alterou uma imagem da série de publicações em homenagem ao Dia do Agricultor. A imagem utilizada anteriormente, em referência à segurança no campo, deu margem a interpretações fora do contexto”.
Desafio Faria, o especialista em agricultura, a dizer por que Marcello Brito, que representa o agronegócio, está errado. Este senhor, que se grudou a Lula e a Dilma, em 2014, para eleger Robinson, o pai, governador do Rio Grande do Norte — o que, infelizmente para o povo do Estado, conseguiu — resolveu se fazer ideólogo e porta-voz das catacumbas do bolsonarismo. NEGACIONISMO OBTUSO Além da óbvia apologia da violência, a mensagem também é estupidamente negacionista, tentando opor o trabalho no campo àquilo que ocorreu nas grandes cidades em matéria de distanciamento, como se não fossem realidades absolutamente distintas. Caminhamos para 560 mil mortos mesmo com as medidas adotadas ainda que mal executadas em razão, em grande parte, da sabotagem do governo federal. Ao tentar explicar o contexto, Faria produziu esta pérola:
“O Governo Federal reafirma a importância dos trabalhadores rurais, categoria que não parou durante a pandemia e que assegurou a produção de alimentos. O governo continuará adotando medidas que proporcionem mais tranquilidade e segurança em respeito ao agricultor e à sua família”.
Se o “não parar” virou uma categoria moral, então agridem essa moralidade “fariana” todos os que aderiram a alguma forma de distanciamento. Podemos imaginar quantos seriam os mortos se o Brasil tivesse seguido, então, as recomendações de Bolsonaro e Faria — que, como fica óbvio, defendiam que se levasse uma vida normal. Afinal, “todo mundo morre um dia”. O governo que o sr. Faria integra não conseguiu fornecer nem oxigênio a todos os brasileiros que dele precisavam. Ah, a terra dos sonhos de Faria! A indústria da morte bateria recordes ainda mais vistosos de produtividade.
FOME
Se Faria quiser explicar o que significa “garantir comida ao redor do mundo”, à vontade. O que se sabe é que a fome campeia “ao redor do Brasil”, para ficar na língua falada pelo ministro. E os que com fome não estão pagam muito mais caro pela comida, com uma inflação pornográfica. A demanda mundial vai bem, as exportações de commodities agrícolas idem, mas os brasileiros pobres — esses seres que insistem em atrapalhar as fantasias do rapaz — estão com fome. Temos o mais baixo consumo de carne em 25 anos. Há produtos que tiveram uma majoração de preço de 50%.
O SBT poderia lançar o quadro “Quem quer feijão?”. Ou oferecer cestas básicas na “Porta da Esperança”. Ou premiar com um bife as “colegas de trabalho” que acertarem perguntas no “Show do Bifão”.
CELERADOS
O agronegócio brasileiro já enfrenta ondas de desconfiança em razão da política ambiental delinquente de Ricardo Salles, o defenestrado. Tereza Cristina, ministra da Agricultura, está “ao redor do mundo” tentando demonstrar que o Brasil respeita as regras. Faz o seu trabalho. É uma pena, no entanto, que sua pasta não tenha resposta para a inflação de alimentos que não seja o dar de ombros. A ideia de Paulo Guedes é distribuir sobras de restaurantes “para mendigos”.
Uma postagem como aquela piora tudo. Trata-se de um governo particularmente incompetente. E essa incompetência é extremada por seu delirante reacionarismo. Não há contexto que possa amenizar isso. A mensagem é criminosa mesmo.
QUER SER VICE DE BOLSONARO
Faria entrou na corrida para o posto de vice de Bolsonaro. Está de mudança para o PP. Apagou das redes sociais os elogios que fazia a Lula. Mas não consegue apagar as imagens nem as notícias publicadas pela imprensa.
Na condição, agora, de extremista de direita, chegou a criticar as personalidades públicas do Brasil que lamentaram a marca de 500 mil mortos. Achava que todos deveriam seguir seu padrão moral: não lamentar. Vice? Será mesmo? Bolsonaro é bronco, mas não é muito burro. Deve se perguntar — ou, então, Carlucho pergunta em seu lugar: “Por que esse ex-puxa saco de Lula se tornou mais bolsonarista do que eu?” Não é possível que o Tico e o Teco não se conectem para responder: “ambição”. Faria pediu o apoio de Dilma e Lula para a eleição do pai em 2014, como evidenciam as fotos, e se tornou um militante do impeachment dois anos depois. E aí o Tico e o Teco se perguntam de novo: “Quem trai uma vez está propenso a não trair nunca mais ou a trair sempre”? Convenham: Bolsonaro não confia nem mesmo em um vice fiel. Vai que se reeleja… Convenham: nessa hipótese, só o impeachment continuaria a contemplá-lo…. –
FONTE: thaisagalvao.com.br
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