Por Carlos Chagas
Só faltava
mais essa: a direção nacional do PT acusa o PSDB de estar
espalhando que o Lula pretende ser candidato em 2014, manobra para
enfraquecer a reeleição de Dilma. Bem que os tucanos gostariam de ter
criado a arapuca para os companheiros, mas falta-lhes plano de vôo e
criatividade para tanto. A informação de uma suposta candidatura do
ex-presidente emergiu, mesmo, de grupos do PT insatisfeitos com a
presidente, ávidos de partilhar o governo em condomínio. A
proposta ainda não submergiu, muito pelo contrário. As manifestações
dos companheiros, hoje, na festa dos dez anos no poder, confirmarão o
óbvio. Travava-se ontem uma guerrilha surda nas bases petistas para ver
quem será mais aplaudido, Lula ou Dilma.
Existe uma
saída fácil para superar o obstáculo: seria o ex-presidente, em seu
pronunciamento desta noite, no Anhembi, declarar alto e bom som que não é
candidato, que não pretende tirar de Dilma o direito de disputar um
segundo mandato e que se dispõe a chefiar a campanha dela. Simples, mas
ao mesmo tempo complicado. Teria o primeiro-companheiro peito para a
definição? Ou, no recôndito de suas emoções, admitirá a hipótese que
lhe infla o ego? Gostaria de saber que na hora das dificuldades
poderá servir de alternativa? Que sua liderança é
inconteste, maior que a da sucessora?
Há outro nó na
reunião de hoje. O que fazer com José Dirceu, José Genoíno, João Paulo
Cunha e Delúbio Soares? O quarteto de condenados parecia decidido a
comparecer e o presidente Rui Falcão já tomou providências: não poderão
integrar a mesa que dirigirá os trabalhos, muito menos discursar ou até
ser fotografados ao lado de Dilma e Lula. Que fiquem na platéia, junto
com mil outros participantes das comemorações.
Mesmo assim...
Mesmo assim, os antigos líderes e dirigentes atingidos
pelas sentenças do Supremo Tribunal tem suas mutretas. No meio da
confusão, o pessoal da segurança terá condições de impedir que se
aproximem da presidente e do ex-presidente? Haverá como afastar os
fotógrafos e cinegrafistas empenhados em registrar o flagrante? Terão
sido organizadas torcidas para aplaudi-los? Dominarão a ânsia de ser
ovacionados pela multidão, certamente propensa a censurar o Judiciário
que os condenou?
Numa palavra,
tudo pode acontecer esta noite, registrando-se até o desejo oculto de
alguns companheiros mais cautelosos, sobre São Pedro poder vir em
socorro da unidade do partido. São Pedro? Sim, porque se chover hoje em
São Paulo como tem chovido nos últimos dias, muita gente não conseguirá
chegar a tempo para a festa...
EXAGEROS
Faz muito que
a mídia, como raras exceções, especializou-se em descer tacape e
borduna no lombo de Hugo Chaves. Não apenas nos editoriais, mas nas
colunas e reportagens, sabujos dos proprietários esmeram-se em
comprovar que pensam como eles, ultrapassando de muito as
naturais críticas ao presidente venezuelano, que não são poucas. No
fundo repousam as atitudes por ele tomadas na contra-mão do
neoliberalismo e dos interesses do capitalismo selvagem.
O que não dá
para aceitar, no reverso da medalha, são as manifestações desta semana,
promovidas por radicais do outro lado, contra uma desimportante
blogueira que se especializou em contestar a ditadura cubana, com sobras
para o regime da Venezuela. Espetáculos grotescos tem sido encenados
nos aeroportos e cidades por onde ela passa. Certamente financiada com
verdinhas de origem pouco clara, a jovem Ioani Sanchéz nada mais é do
um joguete, manipulada pelos dois extremos. Que seja feliz, mesmo se
quiser vir morar no Brasil, mas deveria rejeitar o uso que fazem dela.
Fonte: Cláudio Humberto (www.claudiohumberto.com.br)