Guardadas as devidas proporções, o PMDB quer fazer com a presidente
Dilma Rousseff (PT) o que tentou fazer com a governadora Rosalba
Ciarlini (DEM): usar o poder de pressão, por seu tamanho e influência,
para estabelecer o seu próprio governo dentro do governo.
Com um detalhe perigoso: de porteiras e cofres abertos.
Rosalba não aceitou. Dilma resiste.
No Rio Grande do Norte, o rompimento.
Depois de colocar mais de 300 liderados em cargos de todos os escalões
do governo estadual, o PMDB dos Alves ficou irritado porque a
governadora não deixou abrir as torneiras, principalmente da Secretaria
do Trabalho, Habitação e Ação Social (SETHAS). E deixou o governo.
Rosalba correu todos os riscos de ficar isolada politicamente, mas não
abriu mão de fazer valer o seu perfil e histórico de gestora pública
honesta, não permitindo que aliados e amigos transformassem o bem
público em patrimônio próprio, acabando com a sequência de escândalos no
RN, que marcaram as gestões anteriores, de Garibaldi Filho (PMDB) e
Wilma de Faria (PSB).
Quem não se lembra dos escândalos de desvio de dinheiro da venda da
Cosern no governo Garibaldi Filho, como os casos Gusson e Marcos Santos?
Na época, uma CPI na Assembleia Legislativa teve que ser enterrada às
pressas.
E os escândalos no governo Wilma de Faria, como as operações Hígia, Taoliaduto, Foliatur, Sinal Fechado, Ouro Negro e outros?
Pois bem.
Os Alves tiraram o PMDB do governo de Rosalba e, de público, justificaram que estavam saindo porque a governadora não dialoga.
Menos a verdade.
O fato é que Rosalba Ciarlini não deixou que a sua casa virasse uma
“zorra” administrativa. Combateu, com pulso firme, qualquer tentativa de
desvio de conduta em sua administração. E tem sido assim até aqui.
Então, o PMDB não poderia ficar. Não do jeito que ele queria.
Agora, no plano nacional, o PMDB de Michel Temer, Renan Calheiros e
Henrique Alves pressiona a presidente Dilma para presenteá-lo com
ministérios estratégicos, não se contentando com as cinco pastas de
primeira escalão que já controlam de porteira aberta.
Como é ano eleitoral e a presidente, candidata à reeleição, precisa do
maior partido no Congresso para fortalecer o seu projeto, é provável que
ela se entregue à pressão do guloso Partido do Movimento Democrático
Brasileiro. Do contrário, terá que enfrentar enormes dificuldades
político-eleitorais.
Rosalba teve a coragem, não permitindo lotear o governo. Resta saber se Dilma terá a mesma disposição.
O PMDB, voraz por cargos e poder, avançará sem limite com as suas garras afiadas.
Por César Santos, Jornal de Fato