Do Jornal de Fato, Mossoró-RN - Filho do enfermeiro e ex-deputado estadual Francisco José da Silveira, o
jovem Francisco José da Silveira Júnior (PSD) viu cair em suas mãos uma
missão que não estava nos seus planos: administrar a segunda maior
cidade do Rio Grande do Norte. Assumiu a Prefeitura de Mossoró no início
de dezembro de 2013, por sua força judicial, que cassou o mandato da
prefeita Cláudia Regina (DEM). Sem experiência no Executivo, mas com uma
carreira política vitoriosa (vereador de quatro mandatos e duas gestões
como presidente da Câmara Municipal), Silveira decidiu se dedicar
inteiramente à nova missão. No “Cafezinho com César Santos”, na última
sexta-feira (17), na rede do defato.com de Mossoró, o prefeito interino
conta como está conduzindo a árdua missão. Revela que tem trabalhado 14
horas por dia e destaca medidas adotadas que ele considera fundamentais
para enfrentar as dificuldades, principalmente de ordem financeira.
Silveira Júnior também diz que será candidato nas eventuais eleições
suplementares e que está preparado para enfrentar as duas alas da
tradicional família Rosado. Leia a entrevista.
O período curto de sua gestão, na incerteza de continuidade,
diante da insegurança jurídico-eleitoral, certamente provoca maiores
dificuldades para o gestor planejar uma administração. Como o senhor
está enfrentando essa situação?
PRIMEIRO quero deixar claro que eu não queria que isso acontecesse,
como Mossoró toda sabe. Não queria cadeira de ninguém. Assumi a
Prefeitura por determinação judicial, assumi meu papel constitucional.
De fato, é um desafio muito grande quando se assume para cumprir um
exercício no qual não foi você que planejou o orçamento. Daí, as
dificuldades. Há muitas dificuldades, para ser preciso. Mas estamos
trabalhando com determinação, administrando a cidade independentemente
do tempo que vamos ficar. Temos essa missão e vamos cumprir com muita
responsabilidade, principalmente para preservar os serviços essenciais à
população.
Mas como planejar uma gestão de curto período?
VEJA BEM. Quando assumimos, além de organizar a casa, procuramos fazer
um planejamento pelo menos até dezembro deste ano. Todas as nossas
decisões são analisadas por um conselho técnico, pelo crivo jurídico,
como forma de ter uma segurança no que estamos realizando. Temos tomado
medidas urgentes e necessárias, principalmente na questão financeira,
pois como todos sabem as dificuldades são enormes. Então decidimos
reduzir a verba de publicidade, o valor pago em aluguel de carros,
inclusive, entregamos o veículo que serviu ao gabinete do prefeito, além
de outras medidas necessárias. Estamos realizando auditoria na pasta da
saúde e vamos organizar um censo a partir desta semana que está
começando, para preparar a auditoria na folha de pessoal. Então, são
medidas importantes que certamente darão maior tranquilidade para
administrarmos Mossoró.
Quais são os pontos prioritários que o senhor definiu para conduzir a sua gestão?
TODAS as áreas são importantes, como educação, saúde, social, meio
ambiente, infraestrutura, entre outras. Mas decidimos dar uma atenção
especial à saúde. Entendemos que quem precisa da assistência na saúde
pública não pode esperar. Estamos tratando essa área com olhar todo
especial, como se olha para um filho. É preciso que as pessoas tomem
conhecimento de que encontramos essa área numa situação muito delicada,
por isso tivemos a necessidade de fazer mudanças. Nomeamos uma técnica
de carreira para conduzir a pasta (Leonice), por acreditar na sua
experiência e capacidade de resolução. Tem dado certo. A secretária de
Saúde criou um conselho gestor formado por quatro auditores, e estamos
trabalhando em quatro linhas diferentes para olhar mais de perto a
questão da saúde. Tem dado certo.
O senhor colocou a abertura da Unidade de Pronto-Atendimento
(UPA) do bairro Belo Horizonte como uma prioridade indispensável. É
possível funcionar essa importante unidade de saúde diante das
dificuldades que o senhor mesmo falou?
É, SIM. Nós tínhamos vários gargalos para resolver e deixar a UPA em
condições de funcionamento. Adotamos as medidas necessárias. Essa UPA
entrará em funcionamento até fevereiro próximo, posso garantir. Nós já
superamos algumas dificuldades de ordem estrutural, como a parte
hidráulica, interligando a rede com o sistema de esgotamento sanitário
do bairro. Fizemos as mudanças exigidas na parte elétrica, com aquisição
de um gerador de energia, entre outras coisas. Está faltando resolver
pequenas coisas, o que deveremos fazer nos próximos dias. Em relação ao
corpo de funcionários, a Secretaria de Saúde está empenhada em formar a
equipe, devendo esse processo se estender até a segunda quinzena de
fevereiro, quando estaremos inaugurando a unidade de saúde.
Mas existe uma dificuldade financeira, inclusive, citada pelo
senhor no início da entrevista. Então, pergunto: a Prefeitura tem
orçamento para bancar as despesas da nova UPA, que deve girar em torno
de 800 mil reais por mês?
Realmente, essa é a parte mais difícil, mas também estamos vendo essa
questão. Posso garantir que resolveremos a parte financeira e esse
processo está bastante avançado. Nós já temos a garantia do Governo
Federal de repassar 500 mil reais a partir do quarto mês de
funcionamento da UPA, uma vez que essa unidade do Belo Horizonte
funcionará de forma diferenciada, como uma UPA regional. Também teremos
uma contrapartida do Governo do Estado no valor de 250 mil reais por
mês. Então, o município bancará os três primeiros meses de funcionamento
com 500 mil reais por mês, e depois teremos o suporte financeiro dos
governos federal e estadual.
A Prefeitura tem caixa para investir R$ 1,5 milhão em três meses?
Com os cortes que fizemos em áreas como comunicação, gabinete, entre
outras, garantimos esses recursos para a UPA do Belo Horizonte.
Portanto, o que falta agora é correr contra o tempo para que até o final
de fevereiro a unidade esteja pronta para funcionar.
O senhor assumiu a Prefeitura da segunda maior cidade do Rio
Grande do Norte, diante da desconfiança da população, principalmente
devido o vai e volta de prefeito. Hoje, o senhor pode afirmar que
superou essa desconfiança dos mossoroenses?
Sim. Entendemos que toda mudança causa certa desconfiança,
principalmente da forma como aconteceu em Mossoró. Mas o trabalho que
estamos realizando, com dedicação de 14 horas por dia e resolvendo as
questões da Prefeitura, principalmente as que estavam pendentes, tenho
certeza de que a população está nos apoiando. Veja só: encontramos
muitas contas pendentes, com os fornecedores ressabiados. O que fizemos:
priorizamos a atualização dessas contas, fomos pagando pouco a pouco, e
hoje, posso afirmar, resgatamos a credibilidade da Prefeitura. Outro
ponto que é preciso enaltecer é a iniciativa de valorizar o servidor de
carreira do município. Temos nomeado técnicos do quadro da Prefeitura,
porque entendo da capacidade e competência de cada um. Também é preciso
destacar que não houve descontinuidade de serviços e programas
essenciais. Inclusive, programas e projetos lançados pela prefeita
Cláudia Regina (DEM), estamos mantendo e ampliando. É o caso da Base
Integrada Comunitária (BIC), que assinamos novo contrato para ampliar o
programa no bairro Santo Antônio (zona norte) e em outras áreas
necessitadas da cidade. E isso a população está entendendo e apoiando a
nossa gestão.
Os guardas municipais voltaram ao trabalho depois de dois meses
em greve. Surgiu a notícia de que o acerto fazia parte do acordo
político do senhor com o PT, que tem influência sobre o sindicato da
categoria. Como o senhor conduziu essa questão?
Não teve influência ou interesse político. O nosso único interesse foi
resolver uma situação que não poderia continuar. O entendimento que
fizemos com os guardas municipais, que passarão a ter um novo piso
salarial de R$ 1.071 a partir de janeiro de 2015, faz parte da forma
como estamos estabelecendo nova forma de relacionamento com os
servidores públicos. E temos feito isso não apenas com categorias de
servidores públicos, mas de outros segmentos da sociedade. Já me sentei
para dialogar com 14 categorias diferentes, coisa que nunca um prefeito
de Mossoró fez. Então, creio que esse novo modelo de administração vem
recebendo o reconhecimento dos mossoroenses. Tenho recebido os parabéns
por onde eu passo e isso é um grande incentivo para que nós continuemos
trabalhando por nossa cidade.
Muito provavelmente, Mossoró terá eleições suplementares ainda
esse ano. O senhor, na Prefeitura, tem o direito natural de colocar o
seu nome na disputa. A sua candidatura é uma certeza?
Olha, César, eu tenho uma carreira política baseada na vontade popular.
Tenho quatro mandatos de vereador (2000/2004/2008/2012), dois mandatos
de presidente da Câmara Municipal, e o nosso nome sempre esteve lembrado
para disputa eleitoral. Sem eu nunca ter falado, por exemplo, a
população começou a cogitar uma candidatura minha para deputado
estadual, o que mostra o reconhecimento do nosso trabalho como homem
público. Quero dizer que eu jamais irei fugir de qualquer missão que o
povo de Mossoró me confiar. Se realmente acontecer novas eleições e se a
população incentivar e quiser, serei candidato, porque não sou homem de
fugir de nenhuma missão. Sou homem público, faço por amor, então, se
essa missão cair nas mãos pode ter certeza que iremos enfrentar. Eu digo
muito que se cheguei ao cargo prefeito da minha cidade é porque fui
autorizado por Deus. Tudo que eu venho fazendo Ele vem me orientando,
iluminando-me, protegendo-me. Então, se Deus tiver nova missão para mim,
iremos enfrentar.
O senhor está entre as duas alas políticas da tradicional
família Rosado. Muito provavelmente, o senhor enfrentará esses dois
grupos que vêm se alternando no poder nas últimas cinco décadas. O
senhor acredita que é possível vencer os Rosados numa disputa eleitoral e
estabelecer um novo cenário na polícia de Mossoró?
Entendo que a cidade está vivendo um momento ímpar, um momento
diferenciado. Nós temos um não Rosado na Prefeitura, mesmo de forma
interina. Temos políticos tradicionais com direitos políticos cassados
por oito anos e outras novas situações. Penso que os Rosados deram e dão
uma grande contribuição a Mossoró, isso é inegável, agora, estamos
vivendo outro momento, que pode mudar o cenário da política local. Temos
buscado novas parcerias, como a que definimos agora com o Partido dos
Trabalhadores, que pode colaborar de forma importante para o
desenvolvimento da cidade. O PT tem no seu corpo o DNA de técnicos
capacitados, que podem e vão dar a sua colaboração de forma efetiva.
Então, acredito que chegou a hora da mudança, e não apenas mudança de
nome, até porque acho que todos devem somar para o bem da cidade, mas
mudança de perfil, da forma de pensar e administrar Mossoró.
Como o senhor se prepara para enfrentar uma disputa eleitoral sem o apoio das duas alas da família Rosado?
Eu tenho respeito pela família Rosado, pela governadora Rosalba
Ciarlini, pela deputada Sandra Rosado. Já votei em várias ocasiões na
governadora Rosalba. Agora, a gente sabe que é praticamente impossível a
gente ter o apoio dessas duas alas da família Rosado nas eventuais
eleições suplementares. Mas quero dizer que a nossa gestão procura não
envolver a questão eleitoral nesse momento. Queremos resolver os
problemas, dar continuidade aos serviços essenciais para atender à
população. Quando chegar a hora das eleições, serei candidato em linha
alternativa para enfrentar as duas alas da tradicional família Rosado. E
acho que está na hora de Mossoró experimentar outras e novas
alternativas, ter outros sobrenomes conduzindo os destinos da cidade.
O PT decidiu apoiar a sua gestão e comentou-se que o partido
iria oferecer nomes para a sua equipe de primeiro escalão. O senhor vai
nomear algum nome petista para o secretariado?
Olha, nós estamos valorizando o servidor de carreira nesse período de
interinidade na Prefeitura. Quero deixar claro que da equipe da prefeita
Cláudia Regina, eu só exonerei três secretários, que ocupavam postos
que são da extrema confiança do prefeito. Antes de decidir, comuniquei a
Cláudia por uma questão de respeito, até porque faziam parte da base de
apoio do governo na Câmara Municipal. Depois daí, houve a saída de
secretários por conta própria, não sei se por estratégia política,
jurídica ou de forma natural mesmo. Voltando à questão do PT, quero
dizer que nesse período de interinidade resolvemos que o PT não iria
ocupar nenhum cargo, e que a sua colaboração com a nossa gestão seria,
como de fato será, sugerindo e apresentando ideias. Agora, caso a gente
venha a se eleger prefeito em novas eleições, pretendemos trazer o PT de
forma efetiva para o nosso secretariado. Será outro momento, onde nós
podemos planejar melhor a nossa administração.
Por concluir, que nota o cidadão mossoroense Francisco José da
Silveira Júnior daria a gestão do prefeito interino Francisco José da
Silveira Júnior?
É muito complicada essa pergunta, porque dar uma nota para si próprio
não é uma tarefa fácil. O que eu posso dizer é que estamos trabalhando
de forma dedicada, 14 horas por dias, para fazer o melhor por Mossoró. E
certamente, os mossoroenses farão a avaliação do nosso trabalho na hora
certa.
Vamos insistir, prefeito. A sua gestão é ótima, boa, regular, ruim ou péssima?
Se for para avaliar por dedicação, empenho, determinação, zelo e por
amor, eu diria que seria uma gestão excelente. Mas como estamos
enfrentando muitas dificuldades, principalmente de ordem financeira, eu
classificaria de boa para excelente.