Desastre no Rio: Ciclovia de R$ 45 milhões desaba no Rio e deixa dois mortos

 Inaugurada há três meses, estrutura foi danificada pelo mar

Ciclovia desaba na Avenida Niemeyer, zona sul do Rio. Foto: Fabio Motta/Estadão

 Ao menos duas pessoas morreram no desabamento de um trecho da ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, inaugurada em janeiro. A estrutura foi levada pela ressaca do mar de São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro. O engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, e um homem de 45 anos, cuja identidade não foi divulgada, foram as duas vítimas. Outras três pessoas teriam ficado feridas. Os dois corpos foram localizados no mar de São Conrado por bombeiros.

O corpo de Albuquerque foi identificado pelo capitão médico da aeronáutica João Ricardo Tinoco, cunhado do engenheiro. Segundo Tinoco, a vítima costumava frequentar e elogiar o local. Elaine, irmã de Tinoco e mulher de Albuquerque, soube do desabamento pela televisão e pediu que o irmão passasse no lugar do acidente para ver se o seu marido estava entre as vítimas, uma vez que usava frequentemente a ciclovia.

O capitão médico da aeronáutica conseguiu confirmar que Albuquerque estava entre os mortos e ligou para a irmã. Por volta de 13h30, Eliane chegou ao local onde estavam os corpos, na praia de São Conrado, em ponto próximo ao hotel Royal Tulip. Ao ver o corpo, entrou em desesperou e precisou ser amparada. “Se logo no início já caiu, imagina com o tempo”, criticou Tinoco.

O pedaço arrancado pela água tem mais de 50 metros. A ciclovia é suspensa e junto ao mar. Está interditada, assim como a Niemeyer. Técnicos da Prefeitura ainda vão avaliar se há risco de outros desabamentos na ciclovia. O Corpo de Bombeiros ainda realiza buscas por desaparecidos na região, com helicópteros e mergulhadores. Uma terceira vítima também teria sido atendida, segundo o Corpo de Bombeiros. Ainda não há confirmação do estado de saúde ou da identidade das vítimas.

Um dos corpos foi encontrado no local. O outro, ainda de acordo com o Corpo de Bombeiros, estava na praia de São Conrado. Estão no local os secretários municipais de Defesa Civil, Marcio Costa, e de Transportes, Rafael Picciani, além do ex-secretário de governo, Pedro Paulo. As autoridades, entretanto, ainda não falaram com a imprensa sobre o acidente.

Obra. A ciclovia custou R$ 44,7 milhões, tem 3,9 quilômetros, 2,5 metros de largura, vai do Leblon a São Conrado e foi inaugurada pelo prefeito Eduardo Paes no dia 17 de janeiro, que usou um triciclo elétrico. Na ocasião, ele declarou que a obra tinha “um efeito de integração incrível, já que juntou o bairro do Leblon e São Conrado”, e que tinha potencial para servir de trajeto para pessoas que utilizam bicicleta para ir trabalhar. “É a ciclovia mais bonita do mundo”, ele disse, referindo-se à vista livre para o mar. O trecho inaugurado foi o da primeira fase do Complexo Cicloviário Tim Maia, que irá até a Barra da Tijuca.

O engenheiro Antonio Eulálio Pedrosa, conselheiro do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ), acredita que o desabamento do trecho da ciclovia tenha sido motivado pela falta de planejamento adequado da obra. Em sua análise, tudo indica que não foi prevista a possibilidade de ressaca.

"Ela não estava preparada para esse impacto da onda. Não foi previsto no projeto. O cálculo foi correto, mas não se previu a força excepcional da onda, que levantou a estrutura", avaliou Pedrosa.

Descaso. O ator Marcelo Faria, que mora num condomínio em São Conrado em frente ao ponto da ciclovia que desabou, acompanhou o resgate dos corpos do mar. Ele usa todo dia a ciclovia, para levar a filha ao colégio, na Gávea, para visitar a mãe, no Leblon, e também a trabalho. Em janeiro, com a inauguração, ficou “muito animado”, pois, antes dela, ele pedalava pela Avenida Niemeyer, junto aos carros, arriscando-se.

Para Faria, a ciclovia não estava bem fixada nas vigas sobre as quais foi encaixada. “Minha mulher me chamou quando viu um corpo sangrando e boiando no mar. Eu achei que fosse um pescador. Depois o segurança do condomínio chegou dizendo que a ciclovia tinha desabado. Quando inauguraram, foi um alívio, pois eu não precisaria mais me arriscar na Niemeyer e poderia andar com minha filha, de 5 anos. Eu uso todo dia, e, muitas vezes, com ela na garupa. A primeira sensação que eu tive foi de que poderia ter sido a gente”, contou o ator, por telefone.

“É realmente um descaso dos nossos governantes a obra não ter sido testada. Projetaram uma prancha em cima de um pilar de concreto sem que ela estivesse bem calcada. Ela foi encaixada com o próprio peso. Ou seja, qualquer força que viesse de baixo ia jogá-la para cima. Um acidente como esse mostra que os inocentes podem morrer e tudo certo, as pessoas não vão ser julgadas.” (AE)
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