Blog do Josias
Reunidos em São Paulo há dois dias, governadores e lideranças do PSDB unificaram o discurso em favor do impeachment.
A unidade é real.
Mas tem prazo de validade.
Dura apenas até a decisão da Câmara sobre o mandato de Dilma Rousseff. Se a presidente for impedida, haverá tucanos voando novamente para lados opostos.
Aécio Neves é contra a participação do partido num hipotético governo Michel Temer. José Serra sonha em ser ministro da Fazenda.
Temer diz em privado que, se for intimado pelo destino a presidir o país, pretende liderar “um governo de união nacional”.
Legendas que hoje fazem oposição seriam convidadas a se integrar ao governo.
Ou seja, se Dilma não sobreviver no cargo, o PSDB está condenado a enfrentar esse debate.
Entre todos os quadros do PSDB, o mais próximo de Temer é Serra. Os dois são amigos.
Conversam amiúde.
A participação de Serra num eventual governo do PMDB é mencionada com naturalidade por políticos que privam da intimidade de Temer.
Mas há um quase consenso quanto à inconveniência de confiar a Serra o comando da economia.
Alega-se que Temer já assumiu o compromisso de não alimentar pretensões em relação a 2018, sob pena de frustrar a intenção de compor um governo suprapartidário.
Por analogia, afirma-se que o desafio de recolocar a economia brasileira nos trilhos exige um esforço coletivo que não combinaria com os objetivos pessoais de um ministro com notórias ambições presidenciais.
Serra disse a pelo menos um interlocutor que gostaria de repetir a trajetória de Fernando Henrique Cardoso, que saltou da pasta da Fazenda, no governo de Itamar Franco, para o Palácio do Planalto.
Itamar levou para o túmulo, em 2011, os ciúmes que nutria por FHC, o ministro que o ajudou a se transformar numa espécie de improvável que deu certo.
Itamar queixava-se de não ser reconhecido como o primeiro presidente civil a eleger o sucessor desde Arthur Bernardes.
Irritava-se com a disseminação da versão segundo a qual FHC é que fizera o antecessor, livrando-o do desastre com a edição do Plano Real.
Vice de Fernando Collor, Itamar virou presidente nas pegadas do primeiro impeachment da história do país.
Nos primeiros cinco meses, teve três ministros da Fazenda. Gustavo Krause e Paulo Haddad duraram 75 dias cada.
Eliseu Resende, 79. Os ventos começaram a virar em 19 de maio de 1993. Fernando Henrique encontrava-se em Nova York. Itamar telefonou.
“Você aceita ser ministro da Fazenda?”
Dois dias depois, já de volta ao Brasil, FHC transferiu-se do Itamaraty para a Fazenda, assumindo a gerência da inflação.
Afora o novo ministério, Itamar lhe deu autonomia para montar a equipe que formulou os alicerces do Real, que seria a base do seu palanque presidencial.
Filtrados pelo tempo, viraram detalhes as peculiaridades que faziam de Itamar uma caricatura de si mesmo —a ranhetice, a obsessão pelo fusca, os namoros atribulados, o Carnaval ao lado da mulher sem calcinha, uma ameaça de renúncia…
Tudo isso ficou pequeno perto do êxito do plano econômico. Um êxito que rendeu a FHC dois mandatos.
Hoje, o governo Dilma está nas cordas, Lula virou ministro-chefe do quarto de hotel, o PT é uma usina falida de pixulecos…
E o PSDB, maior partido da oposição, não consegue se firmar como alternativa de poder.
Segundo o Datafolha, Aécio, Geraldo Alckmin e Serra, opções presidenciais do tucanato, derretem na preferência do eleitorado.
É nesse contexto que Serra sonha com a pasta da Fazenda.
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