Favorito para comandar a Câmara dos Deputados a partir de fevereiro, o
líder da bancada do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), disse ontem que,
se eleito, não pretende cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal
pela cassação automática do mandato dos condenados no julgamento do
mensalão.
No mês passado, o STF determinou que os deputados João Paulo Cunha
(PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT) percam o
mandato imediatamente após o fim do julgamento -o que ocorrerá após a
análise dos recursos.
A decisão também afeta agora José Genoino (PT-SP), que era suplente e tomou posse ontem na Câmara.
Em entrevista à Folha, Henrique Alves, candidato favorito à
presidência da Câmara, afirma que o Congresso não abrirá mão da
prerrogativa de dar a palavra final. Isso inclui votação secreta no
plenário da Casa, onde uma cassação só ocorre com o apoio de pelo menos
257 dos 513 deputados.
Segundo Henrique Alves, a "Constituição é clara" e, portanto, cada Poder deve ficar "no seu pedaço".
"Não [abro mão de decidir]. Nem o Judiciário vai querer que isso
aconteça. Na hora em que um Poder se fragiliza ou se diminui, não é bom
para a democracia."
O deputado afirmou ainda que "algum mais desavisado pode ter esquecido",
mas a Constituição de 1988 foi elaborada pelos congressistas.
"Cada palavra, vírgula e ponto ali foram colocados por nós. Então, temos
absoluta consciência de nossos direitos, deveres, limites e
prerrogativas. A questão da declaração da perda do mandato é inequívoca
que é do Parlamento", afirma o peemedebista, em plena campanha pela
presidência da Casa.
Para ele, o placar apertado da sessão do STF pela cassação -5 votos contra 4- só reforça seu argumento.
"O Supremo, que trouxe essa polêmica, metade dele concordou que fosse do
Legislativo a última palavra. Cabe, realmente, ao Poder Legislativo a
declaração da perda do mandato", afirmou, acrescentando que todo o rito
de um processo de cassação tem de ser aplicado.
A decisão sobre a prerrogativa de cassar mandatos legislativos é motivo
de tensão entre Congresso e STF desde o mês passado. Marco Maia (PT),
atual presidente da Câmara, também disse que não cumpriria a decisão.
Ministros do STF reagiram à declaração do petista. "O equivocado
espírito de solidariedade não pode justificar afirmações politicamente
irresponsáveis, juridicamente inaceitáveis, de que não se cumprirá uma
decisão do Supremo Tribunal Federal revestida da autoridade da coisa
julgada", disse Celso de Mello durante sessão do STF.
Para ele, eventual descumprimento pode configurar o crime de prevaricação.
Em resposta, o presidente da Câmara atribuiu a declaração do ministro ao
seu estado de saúde. Na ocasião, Celso de Mello se recuperava de uma
forte gripe
A tensão manteve-se até quatro dias antes do Natal, quando não estava
descartada a hipótese de o presidente do Tribunal, ministro Joaquim
Barbosa, acolher pedido de prisão imediata dos condenados. Marco Maia
cogitou até a hipótese de oferecer abrigo aos deputados.
Afirmando que essa "não é para ser uma guerra de Poderes", Henrique
Eduardo Alves diz que, passado o "momento de emoção", confia no senso de
responsabilidade do Legislativo e do Judiciário.
"Queremos um Judiciário forte, também, respeitado. Não precisa ser
popular. Mas forte, respeitado por todos nós. Então, cada um no seu
pedaço. Na hora em que o STF chegar às suas decisões, vamos cumprir as
nossas obrigações, formalidades legais que devem ser apreciadas."
Fonte: Uol