BRASÍLIA - O cafezinho dos senadores tem um custo alto, menos pelo
produto servido, mais pelos garçons que servem os parlamentares no
plenário e na área contígua. O Senado tem uma equipe de garçons com
salários até 20 vezes maiores do que o piso da categoria em Brasília.
Para servir os senadores, sete garçons recebem remuneração entre R$ 7,3
mil e R$ 14,6 mil — três deles atuam exclusivamente no plenário, e
quatro ficam no cafezinho aos fundos, onde circulam parlamentares,
assessores e jornalistas. O grupo ocupa cargo comissionado na Secretaria
Geral da Mesa com título de assistente parlamentar. Todos nomeados de
uma só vez, num dos atos secretos editados em 2001 pelo então
diretor-geral do Senado, Agaciel Maia.
Nestes
12 anos, os garçons (ou assistentes parlamentares) foram promovidos a
cargos comissionados superiores ao mencionado no ato secreto: saíram do
AP-5, que tem remuneração básica de R$ 3,3 mil, para o AP-4 e até mesmo o
AP-2, com vencimentos básicos de R$ 6,7 mil e R$ 8,5 mil,
respectivamente. Em março, o maior salário pago foi a José Antonio Paiva
Torres, o Zezinho, que serve exclusivamente os senadores no plenário.
Ele recebeu R$ 5,2 mil somente em horas extras. A remuneração bruta
chegou a R$ 14,6 mil.
Outros dois garçons também têm a obrigação
de cuidar do cafezinho dos senadores no plenário. Um deles é Jonson
Alves Moreira, que virou notícia na última sexta-feira, quando O GLOBO mostrou Jonson fazendo as vezes de um dublê de senador,
num plenário vazio, a pedido do único orador que fazia uso da palavra
naquele momento, João Costa (PPL-TO). Enquanto João Costa falava, Jonson
concordava com a cabeça. O salário pago a ele em março foi de R$ 7,3
mil.
Na copa, ficam os outros quatro garçons. Todos eles são
amigos de longa data. O grupo assumiu os cargos de uma só vez, em 17 e
18 de outubro de 2001, menos de um mês depois da edição do ato secreto
por Agaciel Maia, hoje deputado distrital. Boa parte era vinculada a
empresas terceirizadas. A nomeação a um cargo comissionado ocorreu num
momento de vazio da gestão do Senado. O ato secreto é de 20 de setembro
de 2001, dois dias depois da renúncia do senador Jader Barbalho
(PMDB-PA) ao mandato e à presidência do Senado, e no dia em que Ramez
Tebet assumiu o comando da Casa.
— Aqui todo mundo se conhece há
um tempo, a gente viu muitos senadores passarem por aqui. O serviço é
bem tranquilo — diz um dos garçons do Senado.
Os assistentes
parlamentares estão vinculados à Secretaria Geral da Mesa. A secretaria,
aliás, tem um garçom do grupo — que diz apenas distribuir papéis
atualmente — à sua disposição. Em resposta ao GLOBO, a assessoria de
imprensa do Senado afirma que os servidores realizam atividades de apoio
previstas no Regulamento Administrativo da Casa.
Globo.com