"Tudo explodiu no meu Governo"
Feliz com as obras em andamento que podem justificar o slogan de
campanha “Pra Fazer Acontecer”, encantada com o estádio Arena das Dunas
pelo potencial que um megaevento como a Copa do Mundo oferece ao
turismo, mas preocupada com a possibilidade de um novo período de seca, a
governadora Rosalba Ciarlini (DEM) está chegando ao fim do terceiro ano
de mandato e entrando num momento decisivo para seu futuro político.
Sobre eleições ela desconversa, prefere falar dos R$ 20 bilhões
previstos para investimentos, dos 700 quilômetros de adutoras, do
projeto do novo porto.
Se a empolgação permeia os comentários
sobre os projetos que abraça, a franqueza se sobressai quando fala sobre
medidas amargas que teve de tomar, mesmo sabendo do desgaste político.
“É uma marca de minhas administrações. Sempre deixei as coisas
ajustadas. Eu me apaixono pelas causas e as enfrento. Sei que há
desgaste, tenho consciência das pesquisas, mas o mais importante é
fazer.”
Nesta entrevista, ela demonstra preocupação com a seca,
que poderá criar um colapso no abastecimento dos municípios do sertão
potiguar, onde vivem atualmente 1,5 milhão de habitantes, e diz que está
pagando o preço de tudo de ruim feito no passado.
Governadora diz ter consciência do desgaste político em função de medidas amargas
Existe um cenário de crise política e econômica na sua gestão?
A
crise se configura quando a economia está parando ou retroagindo. E
isso não está acontecendo. As estatísticas mostram que o Rio Grande do
Norte está avançando em termos de desenvolvimento econômico. Se um
Estado estivesse vivendo essa crise que se comenta, será que estaria
atraindo investimentos, os empresários estariam investindo em novas
indústrias, novas espaços de comércio, novos empreendimentos turísticos?
E uma coisa interessante: existem novos polos de desenvolvimento no
interior. Se você for a Pau dos Ferros vai ver a transformação. [Na
semana passada] chegamos em Parelhas e utilizamos um aeródromo de um
particular, de uma indústria que foi implantada no começo de 2012 e já
está duplicando sua capacidade. Só a fábrica está dando 300 empregos
diretos. Se chegar em Baraúna, vai encontrar um distrito industrial
consolidado. O investimento da Votorantim e mais duas que estão se
implantando lá é de R$ 700 milhões. Para retirar o cimento de lá são
necessárias 700 carretas por dia. Se você chegar em São José do Seridó, o
prefeito vai dizer que lá existe emprego pleno. E por que isso está
acontecendo lá? Porque é um polo de confecção. Isso é uma realidade que,
daqui (de Natal) não se tem essa percepção.
E a reforma do Proadi pedida pelos empresários?
Nós
acatamos em parte as reivindicações dos empresários. No Rio Grande do
Norte há uma diferença em relação a outros Estados. O nosso representa
uma renúncia fiscal de R$ 30 milhões, mês. Mas esse valor, que não
recebemos, é contabilizado para não prejudicar o Fundo de Participação
dos Municípios, o Fundeb. A solicitação da Fiern é que os incentivos
possam ser prorrogado além do previsto na lei atual (20 anos). O que
estamos colocando na negociação? Que essa prorrogação seja feita em
troca de uma série de garantias. E não pode ser prorrogado
indefinidamente. Concordamos com a proposta, mas que seja numa situação
de expansão, que gere mais empregos.
As críticas sobre o setor eólico têm razão de ser?
Participo
dessas discussões desde que era senadora. Quando assumi, havia uma
reclamação muito grande do setor. Fizemos uma reunião discutindo os
obstáculos. Atendendo a uma reivindicação deles, criamos um setor
específico para agilizar os processos de licenciamento ambiental. A
partir daí, as empresas nunca me procuraram com essa reclamação. Ninguém
deixou de participar de leilões ou de montar seu parque eólico por
entraves ambientais. Na questão das eólicas, o Estado tem feito sua
parte e dado seu apoio.
Até que ponto a quebra de alianças políticas prejudica os investimentos?
Uma
coisa são as alianças eleitorais e outra a consciência de que o Estado
não é de um partido nem de outro. Temos de estar unidos. Tenho procurado
e tido respostas muito positivas das parcerias com o governo federal.
Aprovamos R$ 1,4 bilhão para saneamento básico, coisa que nunca
aconteceu e que é fundamental. Em primeiro lugar para a saúde, em
segundo lugar para a sustentabilidade econômica. Desenvolvimento não se
faz sem a garantir de saneamento básico. Um Estado que tem vocação
turística, como o nosso, não pode deixar que a falta de saneamento
prejudique nosso cartão de visita que são as praias, as lagoas. Quando
assumi, encontrei muitos problemas. Um deles, o Distrito Industrial de
Macaíba que não tinha saneamento nem pavimentação. Eles exportam para o
exterior. O sinal amarelo já estava aceso porque os Estados Unidos não
mais vão aceitar produto de um local que não tem saneamento.
A
Inframérica defende a adoção de incentivos para atrair voos e tornar o
RN mais competitivo em relação aos outros Estados. É possível atender às
reivindicações?
Uma coisa que já praticamos hoje é a isenção [da
tarifa de ICMS para o querosene de aviação] que é zero para voos
internacionais. O Ceará baixou agora para 12% e baixou para novos voos
internacionais. Eles deram também para operações de manutenção de
aeronaves. Sabe o que significa a renúncia do ICMS para voos
internacionais? R$ 700 mil por semana. Logo que assumimos, fizemos uma
lei dando isenção de ICMS para Mossoró e Caicó como forma de criar a
aviação regional, mas não apareceu nenhum interessado.
E o gargalo do porto? Como anda o projeto da construção de um novo terminal portuário?
Precisamos
de um novo porto. Não há possibilidade de expansão de nosso porto
devido a questões de ordem ambiental, temos o projeto de construção de
um porto entre Macau e Porto do Mangue, mais viável tecnicamente e
ficaria próximo das áreas de exploração de minério, petróleo, cimento e
fruticultura. Estamos discutindo com o governo federal e apostando numa
parceria público privada, como ocorreu com o aeroporto e o Arena das
Dunas.
Governadora, e o Terminal Pesqueiro? A construção naquele local foi um erro de planejamento?
Foi. Estamos trabalhando numa saída provisória para escoar a produção porque ele é fundamental para nossa pesca.
A senhora chegou a temer que o Arena das Dunas não ficasse pronto para a Copa do Mundo?
Imagine
meu dilema, quantas noites passei pensando. Problemas de toda ordem
quando assumi o governo e ainda surge esse problemão que era a garantia
de R$ 400 milhões a uma empresa e o Estado na situação que estava. Era
uma decisão minha. Se não desse [a garantia] não teríamos o Arena. Mas
decidi correr esse risco porque Natal não podia perder a Copa. Para você
ter ideia, o valor do Arena se paga cinco vezes só com a realização da
Copa. De acordo com estudos técnicos, a movimentação de tributos que
teremos durante a Copa com hotéis ocupados, etc., será da ordem de R$ 2
bilhões. Sabe quanto custou o Arena? R$ 420 milhões, sem o Estado ter
tirado um único centavo de seus cofres. É uma coisa que precisa ser
dita porque ficou a imagem de que o Estado tirou dinheiro da Educação e
da Saúde para fazer o Arena. Esperamos que, com essa lucratividade, se
pague ao BNDES. O nosso “trade” turístico tem que valorizar isso.
A Copa será uma vitrine para o turismo do Rio Grande do Norte...
É
uma porta escancarada para todo o mundo. Eu já dei entrevista até para a
Al-Jazira (mais influente rede de TV do mundo árabe), televisões do
Japão e da Inglaterra. Estamos recebendo agora 22 jornalistas da Ásia e
da Europa. A nossa Arena é mais bonita e Natal está encantando a todos
que vêm aqui. E foi por causa da Copa que estão vindo verbas para as
obras de mobilidade.
O trade turístico chora demais?
Olha,
não é bem isso! Acho até que estamos precisando conversar mais para que
eles entendam o tamanho do investimento que o RN vem fazendo para dar
as condições estruturais ao turismo para crescer. A Copa é o maior
evento. Fora outros que trouxemos para cá.
O Governo tem algum plano B para enfrentar um novo ano de seca? Ou vamos ter de rezar para que isso não ocorra, já que no semiárido vivem 1,5 milhão de pessoas?
Minha
maior preocupação, hoje, é com a seca. No primeiro ano de seca você faz
as medidas emergenciais e estruturais, mas nada substitui as chuvas.
Sempre tem alguém dizendo que o governo não está fazendo nada, embora a
gente esteja trabalhando. O segundo ano agudizou o problema. Não tivemos
safra (cultura de subsistência) e houve queda na produção de castanha,
na cadeia do leite, na mandioca. No segundo ano o Estado começou a
sentir o efeito na economia. Tanto que nossa expectativa de crescimento
do ICMS foi frustrada. Esperávamos 10 a 12% e não chega a 8%. Estamos
fazendo essa avaliação agora no final do ano. O sertanejo diz que o ano
terminado em 4 é bom de inverno. Conversei com o Dr. Carlos Nobre, do
Inpe, ele disse que até agora não tem nada de concreto sobre a previsão
de inverno.
E as reivindicações salariais do servidores?
Recebemos
uma herança de planos salariais aprovados pela Assembleia Legislativa,
encaminhados pelo governo passado que, no caso de algumas categorias,
triplica salários. A Assembleia aprovou, mas temos que ficar de acordo
com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Foram muitos planos. É um direito
dos servidores brigar por seus direitos. Mas se o Estado não tem os
recursos?
Mas o Estado, a cada mês, não está arrecadando mais do que gasta?
Mas o Estado, a cada mês, não está arrecadando mais do que gasta?
É
isso o que vocês precisam entender. Se o Estado estivesse com toda essa
condição teríamos passado pela situação de setembro e outubro de não
poder pagar a folha toda dentro do mês? Agora mesmo estão faltando 2%.
Quando o Estado pega o ICMS, que este ano não está correspondendo ao
crescimento previsto no orçamento, isso não gera superávit. Salário
mínimo subiu, o remédio subiu, alimentação dos presos subiu, escola
aumentou, tudo aumentou. Assumimos com um déficit de mais de 800 milhões
e em situação de inadimplência. Não tinha dinheiro para nada. Um dia
desses entramos no Cauc por causa de uma dívida trabalhista de 1974, da
Fundac. Tivemos de fazer o pagamento para sair do Cauc e assinar com o
Banco Mundial. Não sei o que é isso. Tudo, tudo, tudo nestes 2 anos e
onze meses, explodiu no meu colo.
E como a senhora espera deixar 2014? Com as contas em dia?
É
uma marca de minhas administrações. Fui administradora da Unimed,
prefeita três vezes de Mossoró, diretora de hospital público e privado
durante 12 anos e sempre deixei as coisas ajustadas. É uma coisa de
criação. Procure no Rio Grande do Norte uma dívida da cidadã Rosalba que
você não vai encontrar. Espero trabalhar pelo meu Estado. Acho que não
tenho característica de política. Aliás, não sei como entrei na
política. Eu me apaixono pelas causas e enfrento. Sei que há desgaste,
tenho consciência [do que dizem as pesquisas], mas o mais importante é
fazer.”
A senhora vai querer entrar 2014 já com nova equipe?
Quanto
antes melhor, mas não há essa pressa de entrar 2014. É bom que eles
fiquem liberados para a campanha. Vamos ter mudanças agora em função do
pedido de exoneração do secretário de Turismo.
Fonte: Tribuna do Norte