Por Carlos Chagas
Perde-se nas brumas da
História a prática de se enganar o semelhante, mas quase sempre o
enganado é conivente com a enganação, imaginando-se enganador. Estão
todo dia nos jornais episódios como o do cidadão que mostrou a outro um
falso bilhete premiado da loteria, mas precisando correr ao aeroporto
para pegar um avião, aceita vender a fortuna pela metade, na hora.
Quem compra não é apenas otário, porque tem sua parcela de malandragem
ao aceitar a operação, há décadas chamada de “conto do vigário”.
Com todo o respeito,
certos partidos políticos estão conseguindo chantagear a presidente
Dilma, que parece haver caído na armadilha. Semana passada foi o PDT,
agora é a vez do PR e do PTB. Sob a ameaça de bandear-se para a
candidatura de Eduardo Campos, Carlos Lupi conseguiu ocupar com um
subordinado o ministério do Trabalho. Vendeu no palácio do Planalto
o bilhete de loteria do apoio à reeleição, como se estivesse premiado.
Na fila para
apresentar a mesma vigarice estão o presidente do PR, Alfredo
Nascimento, desde que receba o ministério dos Transportes ou outro de
igual importância, e o presidente do PTB, Benito Gama, na base do
“qualquer ministério serve”.
Imaginando reforçar
sua candidatura, que aliás não precisa de reforço, conforme o Ibope,
Dilma mostra-se disposta a aceitar a chantagem. Acresce, no caso de
Nascimento e de Gama, que ambos apenas acenam com o bilhete. Na verdade,
quem preparou a trama foram os verdadeiros donos do PR e do PTB,
Waldemar da Costa Neto e Roberto Jefferson, por coincidência em vias de
começarem a dormir na cadeia, condenados pelo Supremo Tribunal
Federal no processo do mensalão.
Será que a presidente
Dilma supõe-se assim tão esperta a ponto de lotear o ministério em troca
do apoio desses partidos à conquista do segundo mandato? Quem garante
que no próximo ano, mesmo de dentro da penitenciária, os dois chefões
não mandem vender um novo bilhete de loteria para Eduardo Campos? Ou
para Aécio Neves?
DEDO DO LULA
Tem-se a impressão de
que o loteamento do ministério não seria prioridade da presidente
Dilma, não fosse a influência do ex-presidente Lula. Em especial no seu
segundo mandato, ele privilegiou partidos aliados com vagas em sua
equipe, sem maiores critérios de qualidade. Dilma estava decidida a não
promover senão mudanças pontuais, daquelas ditadas pelas circunstâncias.
Apenas em abril de 2004 substituiria o monte de ministros que serão
candidatos ao Congresso e aos governos estaduais. É claro que o súbito
aparecimento de Eduardo Campos na disputa presidencial terá interferido
nos planos da presidente, mas maior e mais forte sugestão partiu mesmo
de seu antecessor.
Indaga-se qual a
participação do PT nessa mini-reforma ministerial em andamento e a
resposta surge óbvia: nenhuma. Nem o companheiro-presidente, Rui Falcão,
foi convidado a opinar, nem mesmo os ministros petistas deram palpite.
Como ainda falta contemplar o PSD do ex-prefeito Kassab, pode ser que
da direção petista venham a emergir alguns amuos. Afinal, em São Paulo,
o novo partido posiciona-se contra o PT, de olho nas eleições de
governador.
Fonte: Cláudio Humberto