Por Carlos Chagas
Presidente do Estado de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada lançou-se na conspiração para derrubar a Republica Velha, mesmo
sem saber que ela ganharia esse nome. Estava na verdade contra o
presidente Washington Luiz, que o preterira na escolha do sucessor,
quebrando o acordo do “café-com-leite” entre Minas e São Paulo e
indicando outro paulista para sucedê-lo, em vez de um mineiro, no
caso, o próprio. Atento ao que se passava no país, o velho cacique
lançou uma palavra de ordem: “façamos a revolução, antes que o povo a
faça”...
Fizeram. Getúlio Vargas foi para o poder, dada a recusa de Luiz
Carlos Prestes de chefiar o movimento. 1930 foi o que de mais perto em
nossa História pode ser chamado de uma revolução, ainda que em termos
políticos e econômicos quase nada tenha mudado. Mas em matéria social,
avançamos muito, quando Getúlio, tanto faz se presidente provisório,
presidente constitucional ou ditador, estabeleceu as leis trabalhistas,
do salário mínimo à jornada de oito horas, as férias remuneradas, a
proteção ao trabalho da gestante e do menor, as aposentadorias e pensões
e a garantia do emprego depois de dez anos trabalhados numa mesma
empresa. Mudanças tão profundas como essas, nem antes nem depois dele
aconteceram, ou seja, a revolução antecipou-se ao povo, modificando as
relações entre capital e trabalho.
A constatação, mais de oitenta anos depois, é de que os atuais donos
do poder não fizeram a sua prometida revolução. O PT foi para o
governo e ficou no assistencialismo, sem nem ao menos restabelecer a
parte das reformas de Getulio que a reação revogou.
Dez anos passados desde a ascensão do Lula e eis que agora o povo
chegou primeiro. Nem os companheiros nem os políticos atentaram para a
indignação nacional diante do que deveriam ter realizado e não
realizaram. O resultado está sendo a rebelião das ruas, primeiro dos
jovens, seguida pela adesão dos mais velhos. Com todos os excessos
dignos dos movimentos onde a autoridade pública perde as condições de
seu exercício. Menos pelas depredações ainda hoje verificadas, mais pela
espontaneidade dos protestos e a exigência de mudanças, assistimos a
uma verdadeira revolução nascida do povo.
Bem que os governantes atuais tentam apropriar-se da ebulição em
marcha. Dona Dilma anunciou uma série de reformas, a começar pela
disposição de dialogar com a sociedade. O Congresso, feito passarinho
que foge do gato, acelerou a votação de uma série de reformas há
muito exigidas pela população, desde o combate à corrupção às passagens
gratuitas nos transportes públicos.
O problema, vale repetir, é que o povo chegou primeiro e dificilmente
deixará de continuar impondo suas exigências, mesmo arrefecendo seu
furor urbano. Nem Dilma Rousseff nem o Lula assemelham-se a Antônio
Carlos, muito menos a Getúlio Vargas. Estão mais para Washington Luiz ou
Júlio Prestes, seu malfadado príncipe herdeiro.
Na verdade, sem que a maioria dos sociólogos ou historiadores
percebam, e não poderia ser diferente, verifica-se entre nós uma
daquelas transformações que só mais tarde a História e a Sociologia
explicarão, tanto faz se como um ensaio geral, à maneira do que os
tenentes encenaram a partir de 1922, ou como da revolução que eclodiu
em 1930. De qualquer forma, tem gente candidata ao exílio.
A GRANDE BOBAGEM
Felizmente foi posta para correr a tese da convocação de uma
Constituinte exclusiva para promover a reforma política. Em menos de 24
horas a proposta saiu pela ralo, sem ter contagiado os manifestantes nas
ruas e, nem mesmo, os políticos e os juristas. Dona Dilma fez que
não era com ela, apesar de haver sugerido a absurda proposta, da lavra
do Lula. O resultado é que a reforma política, se fascina alguns doutos
e outro tanto de malandros, interessa tão pouco às massas como a
participação do Taiti na Copa das Confederações. O importante será
melhorar os serviços públicos, assegurar segurança para os cidadãos,
combater a corrupção e garantir emprego, habitação, educação e saúde
para 200 milhões e brasileiros. Não será com a proibição de doações
eleitorais, a votação em listas partidárias ou o voto distrital que
chegaremos a lugar algum.
QUEM PAGOU AS BOLAS?
Quarta-feira, brotaram do gramado erigido diante do Congresso, 594
bolas de futebol, talvez mais algumas como reserva. A idéia dos boleiros
era fazer com que a multidão chutasse as esferas no rumo dos prédios
onde se localizam deputados e senadores, no mínimo para estimulá-los a
chutar em gol, vencendo a inércia legislativa, ou, no máximo, para
aprenderem a não perder oportunidades de ganhar o jogo contra a
corrupção.
O que fica desse grotesco episódio é a indagação: de onde vieram
recursos para os patrocinadores da causa adquirirem tantas bolas que,
se distribuídas nas favelas periferias, fariam a alegria da criançada
pobre. Pois a resposta é funesta: quem financiou a aquisição de tantas
bolas foi mais uma dessas centenas de ONGs fajutas que vivem dos
recursos do governo para engordar as contas bancárias de seus diretores.
Foi o povo que pagou as bolas, certamente superfaturadas, porque
recursos oficiais, nessa farra dos companheiros, jamais faltarão...
Fonte: claudiohumberto.com.br