A entrevista do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves
(PMDB), aos jornalistas Ana Ruth e Aldemar Almeida, parece vem
elucidativa sobre o ponto de vista político. Alves falou abertamente
sobre o relacionamento político com a governadora Rosalba Ciarlini
(DEM); sobre seu projeto para 2014; entre outros temas.
Leia:
Como o senhor avalia o cenário para o pleito de 2014?
Acho que é muito cedo. Qualquer visão que se insista em ter agora
não é a que vai acontecer, não é a verdadeira. Como falta muito tempo, a
realidade vai se impor de forma diferente. É inútil discutir agora
cenários que poderão não ser verdadeiros. É uma questão apenas de
enxergar diferente.
Mas há quem esteja conversando sobre 2014…
Eu acho que esse é um ano muito importante para o Rio Grande do
Norte. É o momento de juntar as energias, buscar vitórias para o nosso
Estado. Se você tratar essa questão eleitoral e radicalizar, começa a
ter olhares atravessados dos interessados. E quero que nessa hora todos
olhem para o presente e o futuro do Rio Grande do Norte.
O senhor acha que caminha para uma aliança com o PT? Os
petistas colocam como pré-condição não ter o DEM no palanque. Será
possível uma aproximação dada essa condição?
O PMDB não defende e nem participará de nenhuma solução
radicalizada. A história mostra que esse radicalismo não leva aos
melhores resultados. Nenhuma solução radical imposta terá a melhor
compreensão do PMDB. E digo mais: a questão hoje colocada é que o PMDB é
parceiro, sim, da governadora Rosalba. Não adianta querer tapar o sol
com a peneira. O PMDB faz parte da base de apoio da governadora. Eu
tenho muita autoridade para falar sobre isso porque não a apoiei para
governadora na eleição de 2010.
Na ocasião havia posicionamentos diferentes no PMDB…
Eu apoiei Iberê Ferreira, mas, como perdi a eleição e Garibaldi
Filho, nesta linha, ganhou, ou ele vinha para cá ou eu ia para lá. Como
eu sei ganhar e sei perder, e perdi, para reunificar o PMDB, somei no
apoio à governadora. Quem construiu a realidade de hoje foi a liderança
vitoriosa do senador Garibaldi junto à candidata Rosalba. Eu me adaptei a
essa realidade. O PMDB faz, sim, parte da base da governadora Rosalba,
ao lado do PR, do PP e de outros partidos. Esse é o quadro de hoje. Se
será o de 2014, até lá saberemos.
O PMDB havia marcado reunião para maio onde discutiria a
relação com o Governo Rosalba Ciarlini. Por que desmarcou? Receio de
divisão no partido?
Eu marquei essa reunião lá atrás, mas havia
possibilidade de uma coincidência de estar aqui a presidenta Dilma. Para
não ter que desmarcar na véspera, eu adiei. Mas aproveitei também,
porque senti que o clima estava sendo contaminado e aqui ou acolá
poderia conduzir a uma radicalização do processo para lançamento de
candidatura de governador. Não era a reunião que eu queria ter para
programar encontros regionais, discutir o Rio Grande do Norte, ter esse
papel de construção do qual o PMDB quer ser protagonista.
Isso não obstruiu o debate no partido?
Não. Há instrumentos que possibilitam ao PMDB essa posição. Hoje o
partido tem o ministro de Estado, o presidente da Câmara. Então eu tenho
obrigação de pensar assim. Quando eu vi que a coisa poderia ser
meramente eleitoral e radicalizada nesse sentido, aproveitei e não
realizei mais. Não quero uma reunião do PMDB para discutir quem vai ser
governador, lançar candidatura, radicalizar o processo. Não é hora para
isso. Estamos vivendo um momento único no Rio Grande do Norte. Eu não
sei quando vai se repetir. Se começarmos agora a nos dividindo, ir para
lá ou ir para cá, termina a sinergia se perdendo. Essa é a hora do Rio
Grande do Norte atrair investimentos para imensos desafios que
precisamos superar.
Mas alguns parâmetros já são possíveis vislumbrar para 2014? Por exemplo, o PMDB terá candidato próprio ao Governo?
Hoje não teria motivo para uma definição. Fazemos parte da base de
um Governo, que vai discutir na época, entre seus participantes, que
rumo tomar. Então, não poderia afirmar, hoje, se haverá candidatura
própria do PMDB. Veja, se nós estamos integrando um sistema político
com vários partidos, essa decisão deverá ser conjunta. Na época, vamos
ver o quadro e, com muito realismo, identificar, as tendências, sentir o
que o povo quer. Na época certa, portanto, poderemos aferir.
Mas adiar essa definição não seria prejudicial ao partido?
Não gostaria que fosse uma posição isolada. Lógico que todos pensam
em candidatura própria para presidente da República, para o Governo do
Estado. Essa é uma vontade de qualquer partido. Mas na hora em que você
integra um sistema político com outros partidos, não pode ter esse
egoísmo como ponto principal. Você tem que participar dessa articulação
conjunta até porque uma andorinha só não faz verão. Ninguém pense que
sozinho vai ganhar uma eleição por mais forte que possa estar. Temos que
buscar parceiros, construir aliança. Se fazemos parte de um grupo, com
alianças políticas, acho que no final do ano ou início de 2014, vamos
nos sentar, examinar o quadro, com uma grande pesquisa qualitativa que
nos oriente, e saber qual a vontade do povo do Rio Grande do Norte.
Pelo fato da governadora Rosalba Ciarlini ter
o direito de ser candidata à reeleição, isso quer dizer que no grupo
político, do qual o PMDB faz parte, ela é a preferencial para
concorrer?
Na hora em que ela tem o direito de ser candidata, como Garibaldi
Filho teve, e outros tiveram, acho que é a preferência natural. O que
precisa saber é se o direito da governadora será exercido ou não por
ela. Nessa avaliação terá que se fazer também com dados objetivos,
reais.
O que se deve levar em consideração para definir se a governadora concorrerá à reeleição?
Como estará sua posição administrativa, como estará avaliado o seu
governo e a expectativa de vitória eleitoral. Mas a primeira avaliação
será para saber se a solução natural da reeleição estará viável política
e eleitoralmente. Esse será o primeiro dado a ser colhido com o qual
poderemos concordar ou não. Mas na hora certa, na hora própria e de
forma muito leal.
O senhor se sente motivado a ter o nome cogitado nessas discussões que vão ter para uma chapa majoritária?
Não. Minha motivação é continuar na Câmara Federal. Acho que tenho
papel importante a desempenhar no quadro nacional. Uma saída minha,
neste momento da conjuntura nacional, deixaria um vácuo importante. O
Rio Grande do Norte precisa manter (essa posição) até para ajudar o
governador. Meu projeto, sim, é uma reeleição para deputado federal.
Na próxima legislatura, o senhor poderia ser reconduzido a presidente da Câmara?
Aí é o sonho dos sonhos. O sonho já realizei. O ‘sonho dos sonhos’
que pode acontecer ou não, dependerá do resultado da eleição, do tamanho
da bancada, do entendimento com o PT e com outros partidos…
Mas esse sonho, como definido pelo senhor, faz parte do seu projeto?
Estou muito envolvido, e concentrado, no atual mandato. Está
começando ainda, não quero atropelar as coisas. Não tenho o direito de
atropelar. Na hora em que você adquire uma experiência, como adquiri,
tem que saber que todo dia é a sua agonia ou todo dia sua alegria. É
construir passo a passo o caminho.
Mas descarta a possibilidade de uma candidatura ao governo?
Para uma candidatura a governador eu não ofereço o meu nome, porque
estou em um projeto nacional que é muito importante para o Rio Grande
do Norte.
O nome do ministro da Previdência Garibaldi Filho para o Governo é uma possibilidade no PMDB?
Sim, poderia ser, porque acho que em qualquer pesquisa que se
realize, o nome de Garibaldi vai pontuar em primeiro lugar
tranquilamente. Mas é um direito dele também (concorrer ou não).
Garibaldi está em um bom momento, é ministro da Previdência. Com a
reeleição da Dilma, ele, certamente, continuará ministro nesta ou em
outra pasta. É um espaço que o Rio Grande do Norte também não pode jogar
fora.
Embora o senhor fale em alinhamento do PMDB
com o Governo Rosalba, o próprio ministro, em declarações à imprensa,
não mostra descontentamento com a administração estadual?
Eu reconheço que o Governo Rosalba não tem atendido as expectativas
do PMDB como um todo. Tanto é assim que provocou aquela reunião de
Brasília. Mas aconteceram mudanças. Acho que a modificação que ocorreu
em recursos hídricos, na saúde e na agricultura, já foi um passo a
favor. Se poderemos ter outro nessa direção, isso a gente poderá
avaliar. Agora, a insatisfação é evidente. O Governo passa por
dificuldades. Mas eu acho que o PMDB tem o dever e, eu aprendi isso com
o meu pai (Aluízio Alves), de ajudar. Não pode dizer: “Na hora em que
está tudo bem, serei governo. Na hora em que as coisas não estão bem,
largarei o barco”. Não é assim. Tem que ajudar a melhorar, a corrigir.
Foi isso que aprendi com meu pai.
A deputada Fátima Bezerra confirmou que tem o nome dela posto para o Senado. O PMDB admite discutir isso?
Não sei, porque na formação de aliança não pode se discutir só o
Senado. Essa será uma eleição que envolve governador, senador, bancadas
federal e estadual. A aliança precisa se construída coletivamente e ver
também o que é melhor para eleger deputados estaduais, como é melhor
para eleger uma forte bancada federal. Vamos discutir esse assunto, na
época própria, coletivamente.
Há quem fale em um desconforto do PR no Governo Rosalba Ciarlini. O senhor conversou sobre o assunto com o deputado João Maia?
Não. Eu estou cuidando do PMDB, o que já é muito. O deputado João
Maia tem muita competência, experiência, é um líder forte
partidariamente. Sabe conduzir. Mas eu não tenho a menor dúvida, está na
hora de outro conselho político daquele se reunir para avaliar o que
foi feito de lá para cá, se as mudanças aconteceram. Eu ainda acho o
Governo muito preso nas suas decisões. Ainda acho que não está
interagindo como deveria.
O que está travando esse Governo? O que acontece que a governadora não consegue reverter os índices de desaprovação?
Primeiro, as medidas econômicas e de investimento que vão gerar um
melhor futuro para o Rio Grande do Norte são a longo prazo. Agora mesmo
temos um exemplo importante. A presidenta Dilma esteve aqui e destinou,
em várias vertentes, quase R$ 2 bilhões para investimentos no Rio Grande
do Norte. Essas coisas precisam acontecer para mostrar ao cidadão que o
Estado está se desenvolvendo, crescendo e isso pode melhorar a análise
do desempenho dos Governos Federal e Estadual. Vamos ver se isso
acontece e se vai ser suficiente para recuperar também a posição do
governadora Rosalba Ciarlini ou se é preciso um pouco mais. De qualquer
modo, o Governo precisa ainda conversar mais, interagir. Mas há também
limitações financeiras, que têm levado o Governo a dizer muito “não”
àqueles que precisam. Vamos ver se essa é uma questão financeira ou de
ordem gerencial, de competência. Essa análise precisa ser feita logo
para saber se as circunstâncias melhoram do ponto de vista político e
administrativo.
O vice-governador Robinson Faria, em
declaração recente, disse que os partidos que estão na oposição não
devem mais esperar o PMDB. Como o senhor viu essa afirmação?
O PMDB nunca pediu a ninguém para esperar. Pelo contrário, estamos
dizendo que, a meu ver, não é hora do PMDB discutir política eleitoral.
Quem achar que nesta hora vai conversar eleição 2014 com o PMDB ,
ajustando chapa, candidaturas, vai cometer um erro. Essa não é a hora
para isso.
Por quê?
Eu fico imaginando o cidadão norte-rio-grandense, preocupado com a
segurança, com a saúde pública… Não passa pela cabeça dele quem será o
governador eleito em outubro de 2014. Quem discute isso agora são mais
os atores políticos, em nível estadual, municipal. O cidadão não está
preocupado em saber quem vai tentar melhorar a sua vida a partir de
janeiro de 2015. Quer saber as medidas que serão adotadas neste momento.
O PMDB não vai, no que depender da minha condução, mas não mando no
partido, precipitar um processo eleitoral. Apenas os que já são
candidatos pensam nisso 24 horas por dia. Não é o caso, a meu ver, de
ninguém do PMDB.
Quem lança candidatura agora ao Governo e Senado está cometendo um erro estratégico?
Pode ser que pense: “Quem é coxo, parte cedo”. Talvez alguém acha
que precisa começar a viabilizar o nome, porque não tem uma estrutura
partidária maior para dar suporte na hora da decisão. Respeito muito.
Mas o PMDB não está nesse cenário e, se depender de mim, não estará até o
final do ano.
Houve desobstrução no diálogo do PMDB com o PSB?
Acho que houve e eu vi com muito bons olhos o gesto da
ex-governadora Wilma em vir aqui à minha casa por iniciativa dela. Eu
agradeci e ela foi muito correta. Não discutimos candidatura de 2014.
Foi apenas o recomeço de uma relação. Eu tinha uma relação com a
ex-governadora muito boa. Foi um gesto político interessante dela que eu
registrei.
O senhor também tem dado sinais de reaproximação com o prefeito de Natal, Carlos Eduardo?
O prefeito Carlos Eduardo foi eleito e todos nós sabemos que Natal
hoje está deteriorada, carente de serviços públicos, de cidadania. O
prefeito terá em mim, 24 horas por dia, toda a disposição e apoio para
ajudar. Já as questões políticas, o tempo dirá.
Se o senhor não oferece o seu nome para ser
candidato a governador, se o ministro Garibaldi Filho também já disse
que não oferece, o PMDB tem como apresentar candidatura própria?
É impressionante como vocês querem falar sobre esse assunto. Não é
hora de discutir isso. Veja, os leitores podem observar, quero
registrar, como perguntam sobre esse assunto. Mas não é o momento.
Precisamos pensar no Rio Grande do Norte. Temos imensos desafios. O novo
porto, o transporte leve sobre trilho, a necessidade de modernizar
nosso Estado. Não vou discutir política eleitoral agora.
Há uma expectativa do Rio Grande do Norte com senhor na presidência da Câmara dos Deputados. Teme frustrar essa expectativa?
Não. Não vou frustrar, até porque eu penso nisso 24 horas por dia. O
meu sonho — pessoal, emocional e político — já realizei. Um deputado de
um Estado pequeno, que tem a menor bancada, de oito deputados, foi
representante da bancada do PMDB e consegue pelo seu partido se eleger
presidente da Câmara, que tem 513 parlamentares. Essa realização
pessoal, da minha vida pública, da minha coerência, eu já realizei na
hora que sentei ali. Agora, a partir dali, eu quero realizar outro: ser
um grande presidente da Câmara para o Brasil e para o Rio Grande do
Norte. Vou lutar por isso no que eu puder.
O senhor confirma o edital de licitação da Reta Tabajara para o dia 20?
Vão sair os dois dia 20 (o edital de licitação da Reta Tabajara e
do projeto da duplicação da BR 304). A gente espera começar em dezembro a
obra da BR 304. Isso porque vai ser pelo RDCI que é mais rápido. Pelo
RDCI (Regime Diferenciado Integrado de Construção), a empresa faz o
projeto e vai construir a obra. O ganhador do projeto, nesse edital, que
eu espero até dezembro estar realizado, fica com a construção também.
Esse (a duplicação da BR-304) é o projeto mais importante para esse período no qual o senhor estará na presidência da Câmara?
Não. A gente quer conquistar para o Estado, que é urgente, o novo
porto. Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, estrangularam um pouco o
nosso porto, que perde competitividade e espaços. Temos que construir o
novo porto. E podemos também tentar ampliar a refinaria Clara Camarão,
em Guamaré. Ela era para ser maior. Esse é um dos objetivos que a gente
poderia traçar. Tem vários projetos que o Estado precisa viabilizar e,
para isso, deve ter unidade.
Como viabilizar a conquista desses projetos?
Não é só Henrique na Câmara porque uma andorinha só não faz verão.
Eu sou forte se eu conseguir unir a bancada, com a Assembleia, com o
Governo, aí sim nos apresentaremos unidos e fortes perante o Governo
Federal. Há uma questão que também me preocupa muito e precisa de ações
urgentes. É a saúde pública. Precisamos de ações que fortaleçam os
hospitais regionais e assim diminua o inchaço que há em Natal, com
pacientes vindos do interior. A segurança pública também é outro aspecto
muito importante. Hoje o que temos é a insegurança pública. É
necessário o envolvimento de todos para o reforço dos segmentos que
envolvem a segurança com o apoio do Governo Federal.