Acusado de autorizar o extermínio de cães em Santa Cruz do Arari, na
Ilha de Marajó, o prefeito Marcelo Pamplona (PT) foi afastado do cargo
por 90 dias por decisão liminar da Justiça local. O juiz da comarca de
Soure, também no arquipélago paraense, assinou a medida cautelar depois
que o Ministério Público acusou o prefeito de tentar impedir o andamento
das investigações.
Segundo o MP, o prefeito estava usando o seu poder político para
intimidar testemunhas. Até o momento, foram ouvidas oito pessoas, entre
moradores e funcionários da prefeitura. Eles prestaram depoimento em
Cachoeira do Arari, a uma hora de viagem de Santa Cruz do Arari, por
temer retaliações e perseguições por parte do prefeito.
Um servidor público assumiu que participou da caça aos cães. Outro
denunciante disse que presenciou maus tratos cometidos a animais. As
acusações foram reforçadas por um vídeo, gravado no dia 28 de maio, que
mostrava pessoas – e algumas crianças – capturando cães pelas ruas da
cidade.
A Polícia Federal do Pará afirmou que um morador de Santa Cruz do Arari,
cujo nome foi mantido em sigilo, havia feito uma denúncia contra o
prefeito. Segundo o depoimento, Pamplona pagou cinco reais por cada
cachorro apreendido e dez reais, por cada cadela. Colocados em
embarcações, os animais eram enviados para zonas rurais da região e
alguns eram lançados no rio.
A médica veterinária do Ministério Público do Pará, Maria do Carmo,
disse ao site de VEJA que os cães foram encontrados sob a proteção da
população ribeirinha na Ilha dos Franceses, a seis horas de Santa Cruz
do Arari. Por causa da condição de extrema pobreza dos cuidadores, a
maioria dos animais estava subnutrida.
Com o apoio de Organizações Não-Governamentais e dos próprios
ribeirinhos, duas operações de resgate foram realizadas. Em 20 dias, 81
cachorros foram trazidos para um abrigo no distrito de Outeiro, em
Belém. Cinco veterinárias trabalham como voluntárias no local. O
objetivo é tratar dos animais e encaminhá-los para adoção. “Já tem
bastante gente interessada em acolhê-los”, disse Maria do Carmo.
A veterinária informou que houve uma morte por inanição entre os cães
resgatados. A maior parte dos cães apresenta marcas de agressão pelo
corpo – um deles tem as pernas machucadas por fios de arame. Os
cachorros estão sendo alimentados por meio de doações de moradores da
capital paraense e das ONGs. Segundo Maria do Carmo, muitas pessoas
manifestaram o interesse em adotar os animais.
Inquérito - Dois dias depois de ter sido denunciado, o prefeito
Marcelo Pamplona exonerou do cargo o secretário do transporte do
município, Luiz Beltrão. De acordo com o Ministério Público, uma das
embarcações utilizadas para o translado dos cães pertencia à prefeitura.
Foi aberto, assim, uma ação por improbidade administrativa contra o
prefeito. Segundo o procurador de justiça Nelson Medrado, ele “usou a
máquina pública” para promover a matança dos cães. Além do barco, o
prefeito também utilizou um ginásio público para concentrar os animais.
No local, servidores públicos recebiam os cães e entregavam a recompensa
para os “caçadores”.
O Ministério Público ainda avalia se o prefeito deve ser denunciado por
crime de maus tratos contra animais silvestres, domésticos e exóticos. A
pena prevista para esse crime de três meses a um ano de prisão. O
prefeito Pamplona não foi encontrado pela reportagem.
Fonte: Eduardo Gonçalves/Veja/ RN2012
Foto: Aragonei Bandeira