No primeiro semestre deste ano, integrantes dos nove partidos com ministérios no seu governo votaram 69% das vezes seguindo a orientação da liderança do governo na Câmara, segundo números do banco de dados legislativos do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
Essa taxa de fidelidade é menor que a obtida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no pior momento de seu governo, após o escândalo do mensalão --a orientação de seus líderes no Congresso foi respeitada 81% das vezes em 2005 e 78% em 2006.
Deputados e senadores voltam ao trabalho nesta semana com uma pauta delicada para o governo, que inclui vetos de Dilma a projetos que impõem custos elevados, como o que extingue a multa de 10% do FGTS paga pelas empresas em caso de demissão.
A pauta, classificada como "indigesta" pelo líder do PT, José Guimarães (CE), inclui ainda o projeto que obriga o governo a executar emendas incluídas por parlamentares no Orçamento para financiar obras paroquiais, e a proposta que o PMDB promete apresentar propondo a redução do número de ministérios.
Com a popularidade abalada pela estagnação da economia e pelos protestos de junho, Dilma passou a ser criticada abertamente por líderes dos partidos que a apoiam, insatisfeitos com o espaço que têm no governo e com a falta de articulação do Planalto com o Congresso.
Os nove partidos que sustentam o governo Dilma controlam 364 das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que alcançou 93% de fidelidade de sua bancada, governou com apenas quatro partidos ao seu lado no Congresso.
Editoria de Arte/Folhapress
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Principal parceiro do PT na coalizão governista, o PMDB é também a segunda sigla menos fiel da bancada. O partido do vice-presidente Michel Temer controla cinco ministérios e tem 80 deputados, mas só seguiu a orientação do governo 57% das vezes.
No início de julho, por exemplo, o partido votou em bloco contra o governo e aprovou a extinção da multa do FGTS, que acabou vetada por Dilma.
Em março e abril, o PMDB apoiou a criação de quatro novos tribunais regionais federais, ideia que também desagrada ao governo por causa do custo elevado.
O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), rejeita a pecha de infiel. Diz que o partido foi disciplinado "quando o governo mais precisou" e que só houve divergência em assuntos que "não foram discutidos previamente conosco".
A cientista política Andréa Freitas, do Cebrap, diz que a fidelidade da base governista é baixa, mas a agenda de Dilma não inclui iniciativas cuja aprovação exija ampla maioria do Congresso --como reformas constitucionais.
"O importante para Dilma talvez não seja ter uma disciplina de 90%, mas conseguir aprovar sua agenda", diz Andréa. "Derrotas pontuais são esperadas em democracias."