Para aliviar as contas dos municípios, médicos contratados por
diferentes prefeituras no país serão trocados por profissionais do Mais
Médicos, programa do governo Dilma Rousseff (PT) para levar estrangeiros
e brasileiros para atendimento de saúde no interior e nas periferias.
Na prática, a medida anunciada à Folha por prefeitos e
secretários de saúde pode ameaçar a principal bandeira do plano: a
redução da carência de médicos nesses lugares.
A reportagem identificou 11 cidades, de quatro Estados, que pretendem
fazer demissões para receber as equipes do governo federal. Segundo as
prefeituras, essa substituição significa economia, já que a bolsa de R$
10 mil do Mais Médicos é totalmente custeada pela União.
O plano de Dilma foi lançado em julho e provocou polêmica na classe
médica principalmente devido à vinda de estrangeiros --incluindo 4.000
cubanos, que devem ser deslocados para 701 cidades que não despertaram
interesse de ninguém na primeira fase do Mais Médicos.
Outro atrativo alegado por prefeituras para a troca de equipes é a
fixação desse novo médico no município por um período mínimo de três
anos. Prefeitos reclamam da alta rotatividade dos médicos, que não se
adaptam à falta de estrutura nessas localidades.
As cidades que já falam em trocar suas equipes estão no Amazonas (Coari,
Lábrea e Anamã), Bahia (Sapeaçu, Jeremoabo, Nova Soure e Santa
Bárbara), Ceará (Barbalha, Cascavel, Canindé) e Pernambuco (Camaragibe).
Hoje, as prefeituras recebem da União cerca de R$ 10 mil por equipe no
programa Saúde da Família. Complementos de salários e encargos, porém,
são pagos com recursos de cada cidade.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Um exemplo é Coari, no Amazonas, a 421 km de barco de Manaus, onde a
prefeitura paga R$ 25 mil para médicos recém-formados e R$ 35 mil para
os especialistas.
"Somos obrigados a pagar esse valor ou ninguém aceita. Vamos tirar
alguns dos nossos médicos e colocar os profissionais que chegarão do
Mais Médicos", diz o secretário da Saúde, Ricardo Faria.
A prefeitura diz que vai demitir um médico de seu quadro para trocá-lo
por outro que chegará já na primeira fase do programa federal.
Plano igual ao de Lábrea (a 851 km de Manaus), que tem seis médicos.
"Pago R$ 30 mil para cada um deles. [Substituí-los] diminuiria os gastos
da prefeitura", diz o prefeito Evaldo Gomes (PMDB).
Fonte: Folha de SP