BRASÍLIA — O concurso para o Ministério da Fazenda realizado no
último domingo está na mira da oposição. Uma pergunta sobre a reforma
política, que exigia que o candidato conhecesse a proposta do PT para o
tema, levantou a polêmica. Organizada pela Escola Superior de
Administração Fazendária, órgão do próprio Ministério da Fazenda, a
pergunta da prova citava que a reforma política “ganha destaque no
complexo cenário surgido das manifestações de rua que explodiram pelo
Brasil” e indagava qual era a opção correta em relação à proposta de
mudança no sistema eleitoral.
Entre
cinco opções, a resposta correta era “O Partido dos Trabalhadores (PT),
atualmente no comando do Executivo Federal e com forte bancada na
Câmara dos Deputados, defende o financiamento das campanhas eleitorais
com recursos públicos”. Tratava-se da única alternativa da prova citando
um partido específico e, por ser a alternativa correta, quem soubesse
da informação sequer precisaria ler as demais opções. O deputado Rodrigo
Maia (DEM-RJ) entrará nos próximos dias com uma representação no
Ministério Público para que seja movida uma ação de improbidade contra o
responsável.
— Isso é uma vergonha. Estão se utilizando da
máquina pública para a orientação de servidores. É assim na Fazenda e
foi assim no Itamaraty durante o governo Lula. É um aparelhamento da
máquina do Estado pelo partido. Isso merece uma análise detida do
Ministério Público — afirmou Maia.
A prova foi aplicada para todos
os 24.292 candidatos aos cargos de analista técnico-administrativo,
arquiteto, contador, engenheiro e pedagogo do Ministério da Fazenda. Com
347 vagas em 16 estados, o concurso oferecia vencimentos iniciais
variando de R$ 3.977,42 a R$ 5.081,18, e teve em média 70 candidatos por
vaga. Em alguns estados, no entanto, essa relação chegou a 167 pessoas
por vaga. Procurada nesta segunda-feira à tarde, a Escola Superior de
Administração Fazendária não se pronunciou sobre o caso.
Uma outra
pergunta da prova desagradou à oposição. A questão seguinte à do
sistema eleitoral tratou da “realização de um eventual plebiscito acerca
de reforma política que se pretende implementar”. A ideia de realização
de um plebiscito foi lançada pela presidente Dilma Rousseff como
resposta às manifestações das ruas, e sofreu forte reação do Congresso
Nacional. Até mesmo aliados do governo consideraram a ideia de Dilma uma
invasão à competência do Poder Legislativo e criticaram publicamente a
presidente.
A presidente Dilma e o PT, no entanto, mesmo sabendo
da inviabilidade da proposta, decidiram manter o tema em pauta diante da
boa recepção demonstrada nas pesquisas de opinião pública. A questão do
concurso deste domingo indagava quais eram os empecilhos apresentados
pelo Tribunal Superior Eleitoral para a realização do mesmo. A resposta
correta era “obediência à data de um ano antes da eleição para alterar
as regras do jogo e a impossibilidade de alterações constitucionais
serem alvo de consulta popular”.
— É o partido ocupando o Estado.
As propostas encampadas pela presidente e pelo seu partido são as
direcionadas na prova. Quem não estiver alinhado com eles sai com
prejuízo num processo desses. As próprias pessoas que participaram do
concurso e que não têm viés ideológico certamente foram prejudicadas,
porque são perguntas que não dizem nada para essas pessoas, elas dizem
respeito ao partido e à presidente. Agora, o ministro foi nomeado por
ela. Se tiver improbidade administrativa, é dela também, porque ela é a
beneficiária — defendeu Maia.
Fonte: G1