Pleitos das manifestações são minoria entre demandas prioritárias do Planalto

A "voz das ruas" que a presidente Dilma Rousseff tem prometido ouvir desde o auge das manifestações de junho ainda não encontrou eco no Palácio do Planalto.
As principais reivindicações de movimentos que endossaram as passeatas não estão entre as prioridades da Secretaria-Geral da Presidência, que funciona como a ouvidoria do governo com entidades que não mantêm diálogo constante com o PT.
O Planalto acumula desde o ano passado 1.774 pleitos oriundos de movimentos sociais, dentre os quais 453 são considerados prioritários.
Desses últimos, só 10% guardam alguma identificação com o que motivou a onda de protestos, segundo documentos da Secretaria-Geral obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação.
Entre as prioridades, por exemplo, apenas uma cita a palavra "corrupção" -a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil pede autonomia financeira e administrativa de unidades que cuidam da saúde dos índios, "evitando a reprodução de práticas de corrupção, apadrinhamentos políticos e o agravamento da situação de abandono". 

CRITÉRIO
 
Segundo a pasta, serão priorizados os acordos em andamento com movimentos sociais; as demandas que já fazem parte dos planos de órgãos oficiais; e reivindicações identificadas como principais pelos próprios movimentos em rodadas de negociação.
O Planalto, contudo, tem privilegiado interlocutores históricos do PT. A maioria dos pleitos à frente da fila foram apresentados por movimentos do campo e seus departamentos sindicais, como a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e a Fetraf (Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar).
Das 453 prioridades, 93 são da Marcha das Margaridas, que representa movimentos em defesa da mulher ligados à luta pela terra, 84 da Fetraf e 64 da Contag. Juntas, elas respondem por 53% da lista.
Os documentos revelam ainda que a Secretaria-Geral contabiliza como prioridade pedidos muito específicos, como "assegurar enquadramento previdenciário na condição de trabalhadores rurais aos operadores de máquinas agrícolas, cozinheiras rurais, vaqueiros e capatazes".
Também lista pleitos etéreos como elaborar "conjunto de políticas públicas com objetivo de garantir os direitos sociais da juventude".
O governo diz que o tratamento entre as demandas dos movimentos rurais e "urbanos" são diferentes exatamente pela distinção de suas origens e porque os camponeses têm histórico de grandes atos anuais em Brasília.
As organizações ligadas às manifestações recentes, segundo o Planalto, costumam recorrer a outras estruturas de participação popular, como o conselho coordenado pelo Ministério das Cidades.
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