Por Carlos Chagas
A presidente Dilma
teve sua última chance na semana que passou. Conseguiu dobrar Câmara e
Senado para a aprovação meteórica da medida provisória dos Portos.
Forçou um trabalho quase escravo e levou à vitória os líderes da base
parlamentar oficial, junto com os dirigentes das duas casas. Imagens e
fatos falam o que foram as duas sessões que reuniram deputados por 23
horas seguidas no plenário e senadores por 11 horas. Os espetáculos não
se repetirão. Ficou mais forte o contingente de parlamentares
governistas descontentes com o tratamento recebido do palácio do
Planalto, que reunidos à oposição, formam inequívoca maioria.
Verbas pleiteadas,
prometidas e não liberadas, mais consideração e atenções até hoje
negadas, fazem mistura perigosa, que quase determinou a rejeição da
medida provisória na Câmara. Obrigação de votar o projeto em menos de
doze horas, no Senado, também determinou a indignação geral, ainda que a
sólida maioria oficial tivesse levado os senadores a engolir um sapo do
tamanho de um elefante.
Conclui-se que essa
situação não mais se repetirá. O Congresso chegou ao ponto extremo da
tolerância, da subserviência e do medo. Vai pagar para ver, de agora em
diante, por questão de sobrevivência, sabendo que fora da reação não
haverá salvação.
Pelo que se escuta nos
corredores do Legislativo, seus integrantes não ficarão mais de joelhos
diante do Executivo. Como essas determinações já foram prometidas e
juradas no passado, seria bom aguardar, mas desta vez apareceu uma moeda
de troca, ou de compensação: a presidente Dilma é candidata à
reeleição. Precisa dos partidos da base, ou seja, precisa do Congresso.
São Tomé será o patrono dos trabalhos, daqui até as eleições: será
preciso ver para crer.
ARGUMENTO FUNDAMENTAL
Na tarde de
quinta-feira, no Senado, um novo argumento foi utilizado pelo presidente
Renan Calheiros para obter a aprovação rápida da medida provisória dos
Portos: a necessidade de muitos de seus colegas não perderem os vôos das
20 horas para seus estados. Quase perderam, apesar de não estarem mais
em Brasília, na sexta-feira, a maioria dos 53 senadores que votaram a
favor, os 7 que votaram contra e os 5 que se abstiveram.
TRISTEZA
Poucas imagens dão
tanta tristeza quando assistir tratores demolindo casas em bairros
carentes, comas famílias protestando ou mostrando-se conformadas diante
da truculência das máquinas. Na maioria dos casos, trata-se de
residências irregulares, construídas em terrenos proibidos, mas a
pergunta que fica é porque não fiscalizaram, não proibiram antes.
ATRASO DO RELÓGIO
O senador Cristóvam
Buarque vaticinou que se a votação da medida provisória, no Senado,
demorasse um pouco maiôs e passasse da meia-noite, dúvidas inexistiriam:
os relógios seriam atrasados. Não se trata de novidade, porque dia 23
de janeiro de 1967 o presidente do Congresso, Auro de Moura Andrade,
atrasou em 12 horas os relógios do plenário para que a nova Constituição
pudesse ser votada, sob pena de prevalecer um texto ditatorial. O
então presidente Castello Branco soube do expediente, mas não tomou
providências, comentando que o projeto do Congresso era melhor do que o
dele.
Será que a presidente
Dilma se acomodaria ao atraso dos relógios do Senado, se tivesse
acontecido?
Fonte: Cláudio Humberto