Por Carlos Chagas
Não raro os
trabalhos do Senado lembram as sessões de Câmaras de Vereadores ou,
mesmo, reuniões de diretórios estudantis. Temas menores, desinteresse,
às vezes explosões emocionais – mas pouca coisa de interesse nacional.
Muitas vezes,
porém, elevam-se os senadores à admiração e ao respeito não só de
quantos os assistem, mas da ampla maioria do sentimento partilhado pela
população inteira. Bem como pela gratidão dos estados que representam.
Esta semana,
numa demonstração a mais de que o mundo muda, apesar de tantos
retrocessos, duas mulheres pronunciaram-se a respeito do que todo o país
queria ouvir, ainda que poucos tivessem ouvido num plenário
tristemente vazio.
A senadora
Lídice da Matta, do PT da Bahia, denunciou o crime praticado pelas
industrias e estabelecimentos comerciais que se dedicam ao setor da
alimentação. Referiu-se especialmente ao mal causado à saúde da
infância e da juventude pela difusão e o estímulo cada vez maiores
pelo consumo de produtos eivados de gorduras, açucares, óleos e
sucedâneos. A propaganda enganosa e ilusória desses verdadeiros venenos
está condicionando o nosso futuro. Não apenas geram a obesidade e o
desânimo nas gerações que um dia serão chamadas a substituir-nos, mas
determinam uma submissão criminosa a valores que maliciosamente nos são
impostos com propósitos evidentes de enfraquecer a nação. Tudo em nome
da livre competição, da prevalência do lucro nas atividades sociais e,
vale repetir, através de uma propaganda perniciosa. Seria hora de o
Congresso reagir e estabelecer limites para esse mal até agora apenas
admitido e jamais combatido.
A segunda voz
feminina de vulto coube à senadora Ângela Portella, do PT de Roraima, a
respeito dos horrores praticados à sombra da lei pelas empresas
chamadas de telefônicas, aquelas que exploram os aparelhos celulares e a
imensa família deles decorrentes. Os serviços são péssimos e as
tarifas superiores a quaisquer outras no mundo, sendo que o poder
público dá de ombros, não apura nem pune essas quadrilhas. Ao contrário,
protege-as e facilita seu crédito junto a estabelecimentos oficiais.
Para os consumidores, a indiferença.
Bem mais
importante do que debates e discussões sobre reformas inviáveis nas
estruturas políticas e eleitorais, seria bom que o Senado dispusesse de
tempo e ânimo para enfrentar questões diretamente ligadas à
sobrevivência de seu povo.
O MAPA DIZ TUDO
Com todo o
respeito, não há que prestar atenção nos reclamos do governo do México
diante da decisão dos países emergentes de eleger um brasileiro para a
direção geral da Organização Mundial de Comércio. A escolha de Roberto
Azevedo exprimiu mais do que uma vitória do Brasil. Significou a derrota
dos Estados Unidos e da União Européia diante das nações emergentes e,
mais ainda, que quando precisam do guarda-chuva de seus vizinhos, são
deixados à chuva e ao sol. Claro que não se trata de uma declaração de
guerra onde nosso embaixador-general chefiará tropas para ocupar
Washington, Londres e Berlim. Haverá que compor para desfazer
injustiças flagrantes no comércio internacional. O que importava era
começar, agora parece que começamos.
Quanto à
angustia mexicana, seria bom que seus responsáveis olhassem de vez em
quando para o mapa do Hemisfério Norte. Esqueceram que o Texas, a
Califórnia, o Novo México, Arizona e outros territórios já foram deles?
Tomados por quem?