Críticas à inflação e defesa da política econômica do governo Dilma
Rousseff deram o tom dos discursos de políticos e sindicalistas durante o
1º de Maio em São Paulo. O senador Aécio Neves (PSDB) disse que o
governo é leniente com a alta dos preços, enquanto o ministro-chefe da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou
que Dilma "zela como uma leoa contra a inflação".
A cidade de São Paulo
recebeu dois eventos nesta quarta (1º). O primeiro deles ocorreu pela
manhã na Praça Campo de Bagatelle e foi organizado pela Força Sindical.
Já no Centro da cidade, no Vale do Anhangabaú, a Central Única dos
Trabalhadores (CUT) reuniu sindicalistas durante a tarde.
Um dos primeiros a discursar no palco da Força Sindical, Paulo Pereira
da Silva - o Paulinho da Força, presidente da entidade, anunciou uma
campanha para que salários sejam reajustados automaticamente toda vez
que a inflação alcançar 3%. "Nossos sindicatos, a partir de hoje,
começam mobilizações e assembleias, negociação e greves", afirmou.
Já o ministro do Trabalho, Manoel Dias, que também esteve na
celebração, rejeitou a proposta. "Não considero hoje necessário. Isso
pode estimular a inflação", afirmou. Ele, no entanto, disse não ser
contra o debate. "É uma proposta e as propostas são colocadas para serem
discutidas", afirmou.
Inflação no centro dos discursos
Também no evento da Força, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) afirmou que o governo Dilma Rousseff trata com "leniência" a inflação e que o problema é um "fantasma que volta a rondar a mesa dos brasileiros". O senador é um dos nomes cotados pelo PSDB para disputar a Presidência da República em 2014.
“O governo não tratou com tolerância zero a inflação", afirmou Aécio.
"É leniente desde que votou contra o Plano Real apresentado pelo governo
Fernando Henrique. Não há uma meta real a meu ver, há uma meta
virtual." Segundo Aécio, “a maior das conquistas dos brasileiros está
sendo colocada em risco pelo governo do PT".
As críticas foram rebatidas na sequência pelo ministro-chefe da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que
defendeu o cuidado de Dilma com a inflação. "Não é verdade que a
inflação vai subir. Teve um pico nos últimos meses e vocês sabem o
motivo. A presidente Dilma zela como uma leoa contra a inflação",
afirmou o ministro.
Aécio Neves e Paulinho no evento da Força
Sindical na zona norte (Foto: Caio Kenji/G1)
Clima eleitoralSindical na zona norte (Foto: Caio Kenji/G1)
O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, afirmou durante a festa do sindicato no Vale do Anhangabau que há uma tentativa de se criar um clima de que há inflação no Brasil para influenciar nas eleições de 2014.
"Querer comparar a conjuntura que o país vive hoje, com a de 10, 15 anos atrás é uma questão eleitoral, não uma questão sindical", afirmou Freitas. Ficamos muito preocupados com determinadas propostas que possam gerar clima inflacionário. Existe no Brasil uma corrente conservadora que claramente quer gerar um clima inflacionário para discutir que o governo perdeu o controle da inflação e usar isso na campanha do ano que vem", disse o sindicalista.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), também esteve nos eventos de comemoração ao Dia do Trabalho. Pela manhã, anunciou aumento de 79,8% do piso salarial dos servidores municipais. À tarde, o prefeito criticou a declaração do senador Aécio Neves em relação à inflação.
“Acho contraditório um pouco o discurso. Os indicadores nossos estão bem melhores que os deles”, disse em relação ao período em que o PSDB esteve à frente do país. Ele citou dados como a taxa de desemprego e o aumento de salário real. “Campanha tem que ser feita durante o horário eleitoral.”
Outras críticas ao governo Dilma
Ainda em seu discurso, Paulinho da Força aproveitou para criticar o governo da presidente Dilma Rousseff e sua relação com a classe trabalhadora. "O governo Lula tinha todo um atendimento aos trabalhadores. O governo Dilma tem uma relação com o setor patronal. Veja, por exemplo, no caso da Previdência. No ano passado, a Dilma desonerou a folha em R$ 18 bilhões. Enquanto isso, nós estamos reivindicando o fim do fator previdenciário que custaria R$ 3 bilhões. Fica muito claro de que lado está o governo Dilma", disse.
Paulinho ressaltou que a Força Sindical não é aliada e nem oposição ao governo Dilma, mas não está satisfeita. "Como o governo vem fazendo muito pouca coisa para os trabalhadores e muito para o empresariado, cabe a nós puxar um processo de crítica e de insatisfação com o governo." Para Paulinho, o posicionamento de Dilma deve favorecer o apoio a candidatos de oposição nas próximas eleições.
Sobre as críticas da Força ao governo Dilma, o ministro do Trabalho disse que a presidente convidou as centrais sindicais para uma mesa de negociação em torno das reivindicações salariais. O ministro defendeu ainda avanços trabalhistas conseguidos durante o mandato da presidente, entre eles a retirada de famílias da situação de miséria extrema, a aprovação da PEC das domésticas e a política de aumento real do salário mínimo.
Aécio também se posicionou contrário à presidente Dilma, ao dizer que o governo de Dilma apostou no crescimento exclusivo pela demanda, "mas isso tem um limite". "O problema está na oferta. Temos um custo Brasil crescente com uma infraestrutura em frangalhos, o momento em que mais precisamos de investimentos. Está difícil avançar porque 65% das famílias estão endividadas."
O senador Aécio Neves ainda defendeu a criação de empregos mais qualificados. "Precisamos dar um passo além, criar empregos mais qualificados. Isso não acontece por causa do sucateamento de nosso parque industrial. Precisamos de empregos mais qualificados e isso está contido na proposta que o PSDB vai apresentar ao Brasil."