Por Carlos Chagas
A posse do
novo ministro Guilherme Afif, ontem, serviu para embaralhar mais uma
vez o debate ideológico no país. Ou a ausência dele, porque ideologia
não há mais. Como definir o governo Dilma Rousseff? Voltado para o
mercado e aberto à ampla liberdade de ação dos agentes econômicos? Ou
empenhado em reforçar os controles do poder público em favor dos menos
favorecidos?
Não dá para
permanecer por mais tempo com um pé em cada margem da corrente. Afif é
representante das elites. Para cuidar das micro e pequenas empresas, a
presidente Dilma escolheu quem tradicionalmente representou e defendeu
os interesses das grandes empresas. Sete milhões e quatrocentos mil
pequenos negócios continuam subordinados e girando em torno daqueles
que dirigem os grandes negócios. Com a diferença de que estão, os
pequenos, algemados à burocracia estatal e obrigados a carrear seus
recursos para enfrentar inutilmente o mutirão de impostos e taxas que
os grandes protelam e até ignoram.
“A força está
nos pequenos”, disse o novo ministro, mas só um milagre inverterá a
equação de subserviência deles diante de instituições dos poderosos, a
começar pelos bancos.
Dilma
referiu-se ao “custo Brasil”, eterno pretexto dos grandes para exigir
que o estado trabalhe por eles, com eles ignorando o estado. Defendeu
que a estrutura dos portos venha a ser aberta ao setor privado. Nada a
opor, caso o setor privado contribua de forma efetiva para desafogar e
estimular a produção. Tudo são dúvidas, num país sem ideologia.
SEM GARANTIA ALGUMA
Em
seu pronunciamento pela posse de Guilherme Afif, ontem, a presidente
Dilma citou pessoalmente os presidentes do PR, do PTB, do PSB e do PSD.
Deixou clara a tentativa de ver esses partidos cooptados para sua
reeleição. Dois ganharam ministérios recentemente, o PR e o PSD. Um
está próximo de receber o seu quinhão, o PTB. E o PSB, ao menos por
enquanto, manterá sua participação. Inclua-se o PDT, também já
beneficiado.
A
pergunta que se faz é se com Afif no governo, Kassab garantirá o
apoio de seu partido. Da mesma forma como Carlos Lupi, Waldemar da Costa
Neto e Roberto Jefferson também não garantem, representados que foram
esses três por substitutos sem poder.
Apesar de haver elogiado Michel Temer, Renan Calheiros e Henrique
Eduardo Alves, cumprindo sua obrigação com o PMDB, a presidente não se
referiu ao PT. Rui Falcão não estava presente, nem foi citado.
CORRIGINDO UM ERRO
Quando a gente erra, só tem uma saída: corrigir o erro, para que não se
repita. Exata semana citamos o ex-presidente do Supremo Tribunal
Federal, Gonçalves de Oliveira, como tendo ameaçado entregar a chave do
tribunal na portaria do palácio do planalto, caso algum ministro fosse
cassado pelo presidente Castello Branco. Estava errado. O presidente
autor daquele gesto de independência foi Álvaro Ribeiro da Costa.
ANACRONISMO INEXPLICÁVEL
Alguns setores da pré-história nacional teimam em permanecer levantando
velhos radicalismos. Agora mesmo, partidários de tudo o que o regime
militar fez de bom, de mau e de horrível, alertam para o que, segundo
eles, seria um grande perigo à soberania e à independência do Brasil: o
acolhimento de 6 mil médicos cubanos, que aqui viriam em busca de
emprego e capazes de minorar as agruras de nossa saúde pública. Imaginam
em que em vez de estetoscópios e bisturis, esses doutores tragam armas,
explosivos e livros de Karl Marx e Fidel Castro...
Fonte: Cláudio Humberto